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Policial Rodoviário Federal e professor Maicon Nachtigall é candidato a vereador em Pelotas

Redação Lado A 31 de Agosto, 2012 19h39m

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Aos 34 anos, o policial rodoviário Maicon Nachtigall é candidato a vereador de Pelotas, Rio Grande do Sul. Organizador ao lado de seu companheiro do famoso festival Gala Gay da Cidade e militante dos direitos humanos, ele tentou ser candidato a deputado federal nas eleições de 2010. Muito centrado, ele respondeu as perguntas da Lado A e mostrou porque merece o seu voto. De filho de lavradores da zona rural de Pelotas a professor, ele sabe muito bem a importância da educação. Confira suas propostas e conheça o que pensa este candidato do PSB – Partido Socialista Brasileiro:

 
Lado A – Como você se assumiu gay?
Desde a adolescência todos conhecemos nossas preferências, mas nem todos exercem suas preferências. Sempre me identifiquei como gay e pessoalmente foi um processo natural. Socialmente não, pois minha origem colonial, gaúcha e religiosa ditava regras diferentes. A estratégia que utilizei foi estudar muito e aos 17 anos, logo após concluir minha formação técnica, mudei-me de cidade. Precisamos entender que mesmo quando este processo é natural para nós, não quer dizer que seja natural para nossos familiares, amigos e conhecidos. A sociedade está em transformação, contribuímos para esta transformação, mas não podemos impor nossa aceitação, temos que conquistar nosso respeito.
 
Lado A – Quais as suas principais propostas como candidato a vereador?
Serei um vereador que representará a sociedade e construirá propostas de melhoria das condições para todos. Não discrimino etnias, gêneros, classes sociais, pois acho que como servidor público, ainda mais detentor de um possível mandato eletivo, terei por obrigação trabalhar pelo coletivo sem esquecer as demandas dos grupos sociais que me proponho a representar.
 
Tenho a opinião de que além de obrigação do poder público é pré-requisito à qualquer boa administração oferecer educação de qualidade, atendimento de saúde humano, segurança pública eficiente e infraestrutura adequada à demanda. Mas, do ponto de vista macro, defendo uma política de redução de impostos e menos subsídios governamentais. Para o segmento LGBT acredito no combate ao preconceito por meio de emendas na Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro – e relembro alguns dos 37 direitos civis ainda não autorizados por lei a este grupo social como a união civil e a adoção, além dos direitos de ordem pecuniária como financiamentos conjuntos, direitos previdenciários e de herança, declaração em planos de saúde e imposto de renda, dentre outros, pois enquanto não conquistarmos nossa condição de igualdade de direitos junto aos heterossexuais, ainda passaremos por muitas situações constrangedoras e violentas em nosso cotidiano. Precisamos também instituir nas grades escolares de ensino assuntos de diversidade sexual. Mas tudo isso precisa ser trabalhado na esfera federal. A nível municipal para o segmento LGBT, pretendo criar um Conselho Municipal LGBT, a exemplo dos que já existem em muitas cidades para saúde, educação, mulheres, juventude, criar um conjunto de ações para o desenvolvimento do turismo LGBT em Pelotas e abrir as portas das escolas para palestras de conscientização sobre diversidade sexual, promovidas pela sociedade civil organizada, visando preencher uma lacuna ignorada pelo MEC e Secretarias de Educação.
 
Lado A – Gays devem votar em gays?
Quando tivermos representantes LGBT legítimos nas esferas políticas nacionais o tratamento dos projetos de leis que lutamos, dentre outros que proporei, serão tratados de maneira muito diferente e com mais seriedade. Hoje, se os gays não se fazem representar não têm o mesmo moral de cobrar tratamento de igualdade. Articulo esse chamado de nossa comunidade. Acho que a comunidade LGBT ainda deixa muito a desejar, mas também não prego de que gay deva votar em gay somente, nem principalmente, por este fato. Temos que votar em candidatos sérios e comprometidos com nossas demandas sociais. Hoje temos muitos candidatos que dizem apoiar as necessidades civis de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, mas na hora de votar favoravelmente, apoiar projetos, destinar recursos apresentam comportamento diverso devido a pressões de setores fundamentalistas da sociedade, por isso acredito que avançaremos muito com representantes LGBT natos. A politização de um grupo manifesta-se na sua representação.
 
Lado A – Como deve atuar um vereador gay? 
A resposta mais clichê seria atuar da mesma forma como se fosse um vereador heterossexual. Mas acredito que nossa atuação deva ser pautada ainda mais nos princípios de ética e cidadania, pois se conseguirmos nos eleger muitas atenções estarão voltadas a nós, pelo simples fato de o diferente atrair a atenção e mídia. Temos que levar em consideração que nossa atuação será refletida a um grupo social inteiro, que colherá os frutos de um bom mandato, ou sofrerá críticas por eventuais más condutas, pelo simples fato de sermos únicos em um grupo formado por vários heterossexuais, onde suas condutas, boas e ruins, se diluem.
 
Lado A – Qual a sua qualificação para ser vereador?
Sou graduado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professor e Policial Rodoviário Federal, além de ativista LGBT e ambiental há mais de 10 anos. Minha experiência política já vem desde 2007 além de já ter sido candidato a deputado federal nas eleições de 2010.
 
Milito muito a questão da conscientização política. O nível de politização da população brasileira está melhorando, mas ainda é muito baixo. A influência do capital determina a grande maioria das ocupações dos cargos eletivos. A venda de votos, prática muito comum no passado, mascarou-se e transformou-se em troca de favores. Quando saímos às ruas escutamos: o que você vai fazer por mim e não quais são seus projetos para minha categoria, melhoria e qualificação de serviços, infraestrutura, igualdade social, dentre outros. Neste cenário é que aproveitadores, utilizando-se de financiamentos privados de campanha, constituem verdadeiras máquinas eleitorais capazes de obter o voto de muitos eleitores através da influência da mídia e da contratação direta de “cabos eleitorais”. Resta-nos conscientizar estes eleitores de que a conta disto tudo será paga com projetos e subsídios às mesmas empresas que “apoiaram” o candidato eleito. Sou contra ao subsídio público para muitas coisas, mas financiamento público de campanha será extremamente saudável ao nosso País. Se não acabar totalmente com os financiamentos privados ao menos colocará em mais igualdade de condições políticos sérios que concorrem a cargos eletivos para defender interesses coletivos e não pessoais.
 
Conheça mais sobre Maicon em: https://www.facebook.com/maicon.nachtigall
 
 

 

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SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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