Não sou o único que parou de beber totalmente por conta no nova lei seca. Dirigir embriagado já era contra a lei, mas todo mundo dava um jeitinho para dar uns goles. Noite e bebida sempre foram sinônimos, mas direção e álcool é uma combinação mortal e que bom que veio uma lei mais rígida para tentar mudar esse nosso hábito ruim. Eu mudei. Muitos mudaram e passaram a não beber ou a beber menos ou a sair menos. Não estou sugerindo, é uma realidade constatada por donos de casas noturnas e pelo sindicato da categoria. No Paraná, segundo a Abrabar, Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas, 30% a menos de movimento no setor e queda de 20% no faturamento.
Rigor na fiscalização após tragédia de Santa Maria e lei seca impõem nova realidade às casas noturnas e às pessoas
Mudanças sempre acontecem, mas esta foi grande, mexeu nos hábitos do consumidor e veio com mais outra: o rigor da fiscalização depois das mais de 240 mortes na boate Kiss, em Santa Maria. Em diversas cidades, a fiscalização foi rígida e fechou casas tradicionais. Elas estavam operando irregularmente de alguma forma. Mais uma vez todos ganham porém as casas noturnas precisaram além de fechar as portas investir um dinheiro pesado para se readequar, ou melhor, para seguir e lei, finalmente. Colocando na ponta do lápis, com a queda do faturamento por causa da lei seca, agora com o inverno, e outros pormenores (as casas precisam arcar com gastos de funcionários, mesmo fechadas, entre outros como aluguel) reabrir uma casa pode até se tornar inviável, se o investimento for muito alto e a casa já andava ruim das pernas.
As casa noturnas LGBT tradicionalmente faturam alto com o bar e essa queda pode ter se tornado mais evidente. A entrada nem sempre é aplicável, então é possível ver que alguns investimentos foram suprimidos e aumentou-se a divulgação e promoções: é preciso tirar o povo de casa. Só não pode cair a qualidade, e é preciso melhorar o atendimento, lutar contra a lei seca, o frio e a preguiça.
Não há dúvidas que as melhores e mais estruturadas casas sobreviverão e que o mercado irá se adaptar. Apesar da gritaria geral, a mudança traz novos desafios e em breve veremos bons frutos. Algumas casas aproveitaram o fechamento ou obrigações para reformar, muitas já prestam mais atenção ao atendimento, a novos produtos para ofertar. A noite começa a se profissionalizar, os fabricantes começam a olhar mais o filão gay pois este é fiel à noite e deve continuar forte. O povo começa a respeitar a lei, a ver que há consequência e a se tornar mais responsável. Quem sabe não aprendemos a lição do civismo e isso se reflita no respeito à diversidade, ao se importar com o outro e percebemos que não é uma lei para não beber, mas uma lei para salvar vidas.