São mais de 30 anos de uma epidemia que levou mais de 28 milhões de pessoas à morte e infecta atualmente outros 33 milhões de pessoas, segundo a ONU. São 30 anos de pesquisa, de uma busca pela cura, de uma batalha contra um vírus capaz de sofrer rápida mutação, se esconder e resistir a remédios cada vez mais fortes. Uma nova técnica desenvolvida na Dinamarca pode anunciar finalmente a vitória da raça humana contra o vírus. Por coincidência, a ONU anunciou no mês passado que espera que em 2015 o número de novas infecções pelo vírus comece a cair.
A técnica dinamarquesa, elaborada no Aarhus University Hospital, usa um composto de inibidores HDAC que expulsa o HIV das células hospedeiras, para que o próprio organismo o elimine por meio do sistema imunológico. Além do remédio usado no tratamento do câncer, uma vacina aumenta o poder do sistema de defesa. A abordagem porém não é nova, mas a eficiência está sendo testada e pode ser a resposta definitiva.
Outros três grandes pesquisadores que anunciaram a cura da AIDS no passado, falharam, e ainda hoje não há consenso na sociedade científica se é possível mesmo a cura total. Mas os cientistas dinamarqueses acreditam que sim e já sinalizaram que 15 pessoas teriam sido “curadas” pelo novo uso do medicamento, que está sendo atualmente testado em humanos. O anúncio histórico da cura deverá vir nos próximos meses, assim que for comprovado que o vírus foi totalmente eliminado dos pacientes voluntários. Testes em células epiteliais deram resultado animador de 100% de morte do HIV na primeira etapa da pesquisa.
O vírus porém se aloja no sistema linfático e medula óssea, além de circular pelos fluídos, o que dificultou os diversos tratamentos e propostas de cura realizados até o momento. A diferença do novo método é a combinação do medicamento para expulsar o vírus de seu esconderijo e a criação de um sistema imunológico fortalecido pela vacina, que destrói o invasor fora das células hospedeiras, quando ele está vulnerável. Para isso, uma equipe ítalo-americana desenvolveu um tratamento diferente em que ataca o vírus com fortes remédios para reumatismo, e o antirretroviral elimina a reprodução do vírus, até que o mesmo morra, quando ele sai de seu esconderijo.
A cura “funcional” já é uma realidade. O HIV é levado por medicamento a quantidades tão baixas que não pode ser detectado, até que ele volte a se reproduzir. Há casos comprovados de três pessoas que receberam transplante de medula óssea e eliminaram o vírus. Há ainda recém nascidos infectados com o rompimento da placenta que conseguiram reverter o diagnóstico positivo depois de forte tratamento com retrovirais. O tema é capa da revista Super Interessante deste mês, que anuncia: “A Cura da Aids”.
A pesquisa dinamarquesa porém visa a cura integral com eliminação de todo o material genético do vírus no organismo. Para chegar a uma cura definitiva, o tratamento proposto precisa ser submetdido a testes com as diversas famílias do HIV espalhadas pelo mundo e ser aplicável a todos pacientes. Haverá então, após encontrar a cura, um outro grande desafio: tornar a cura viável a uma população pobre, como parte da africana, com mais de 30% da população infectada pelo HIV em algumas regiões.