Indignados de não participarem de uma reunião do governo gaúcho com representantes da comunidade de gays, lésbicas, bissexuais e trangêneros, em julho, quatro grupos importantes da história do movimento LGBT do Rio Grande do Sul solicitaram explicações ao governo do estado. Em carta, eles acusam o governo de Tardo Genro (PT) de promover a invisibilidade dos grupos e de realizar reuniões com pauta LGBT sem convidar as entidades: Grupo Nuances, Somos Comunicação, LBL (Articulação Nacional de Mulheres Bissexuais e de Lésbicas) e CRIOLOS – Coletivo de Representação de Negros/Negras LGBT.
o grupo alega ainda que desde 2011 não possuem diálogo com a Casa Civil, ocasião esta em que solicitaram a retirada de símbolos religiosos dos espaços públicos, especialmente de escolas. A carta reafirma que é importante respeitar os fóruns e conselhos constituídos para validar a representatividade da comunidade e lamentam ter tomado conhecimento de tal reunião por meio da imprensa. “Certamente a reunião do Governo do RS com a população LGBT é uma ação positiva. Afinal, estamos em momento de disputa ideológica, lutando por espaços conquistados à duras penas ao longo de muitas décadas, enfrentando todo tipo de reação fundamentalista aos avanços de nossos direitos sociais e civis, não apenas no Brasil, mas no mundo”, destaca o comunicado que pede explicações ao não convite das entidades à tal reunião.
Tal INVISIBILIDADE foi imposta pelo Governo do Estado do RS, na última semana, a uma parte significativa do segmento LGBT organizado no Estado, quando, não sabemos exatamente reunidos em que fóruns, ou conectados através de que projetos, o Governador Tarso Genro recebeu no Palácio Piratini apenas alguns representantes da população LGBT, não o mesmo segmento que vem tentando agenda com o Governo desde 2011, quando protocolamos na casa civil o processo 8217/2011, de 5-12-2011, pedindo a retirada de símbolos religiosos dos espaços públicos do Executivo Gaúcho, em especial das escolas públicas, em respeito a norma Constitucional de separação entre Estado e Religião, única forma de garantia das Liberades Laicas e da Democracia.
Os motivos que levaram o Estado a deixar de fora da importante pauta com o Governador movimentos como:
Cabe-nos, no entanto, como legítimos/as militantes dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais no Estado e no País, lembrar ao Governo do Estado do RS que espaços importantes de debate e de disputa de projetos foram conquistados e formalmente instituídos nacionalmente quando da realização das CONFERÊNCIAS Municipal, Estadual e Nacional LGBT.
Foi nestes espaços de debate democráticos que nós, LGBTTs organizados/as apresentamos ao Estado nossa pauta de reivindicações que elenca, por segmento e por eixos, nossas prioridades na ação do Poder Público para a Construção de uma Política de Estado capaz de estabelecer conquistas reais e duradouras para nossas populações. São, portanto, os ANAIS DAS CONFERÊNCIAS LGBTs que o Estado do RS deve utilizar como guia para sua atuação política e para responder às demandas de nosso segmento.
Não estamos aqui criticando as/os ativistas sociais que estavam na referida reunião e que entregaram uma pauta, ainda que mínima, de ações esperadas do Governo. Criticamos, sim, a posição do próprio Governo, da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos e da Coordenação LGBT desta Secretaria que, abrindo mão de sua tarefa institucional de constituir no Estado do RS os Instrumentos Formais do Plano Nacional LGBT – conquista do movimento social organizado – desconsidera a atuação histórica do Movimento LGBT no RS para isolar e tentar invisibilizar aqueles/as que não aceitam a interferência do Estado nas ações do movimento social.
O Coletivo CRIOLOS, a LIGA BRASILEIRA DE LÉSBICAS, os Grupos SOMOS e NUANCES reafirmam sua autonomia e independência frente a qualquer Governo e colocam-se, como sempre estiveram, disponíveis para que o debate democrático de ideias seja feito nos espaços formais estabelecidos pelo Plano Nacional de Enfretamento a Homofobia do Sistema Nacional LGBT, exigindo do Estado a instalação imediata do Conselho Nacional LGBT no Estado do RS, com o estabelecimento de regras claras para preenchimento das vagas do movimento social e do Governo, a fim de que a população LGBT possa dizer pessoalmente quem nos representa e quem fala efetivamente por nós.
Não aceitamos e lutamos todos os dias contra a invisibilidade social. Não aceitaremos, de forma alguma, a invisibilidade institucional, promovida pelos organismos e setores que, dentro do Estado, deveriam combatê-la.
Porto Alegre, 31 de Julho de 2013.