O Rolezinho Gay e os 10 anos dos Encontros contra o Preconceito nos Shoppings de Curitiba

Em 2003, fui conhecer o recém inaugurado Park Shopping Barigui, em Curitiba, e encontrei outros amigos gays, afrodescendentes, em frente à então recém inaugurada loja de diversão e games Hot Zone. Eu bebia um chá mate, em um copo, e três seguranças vieram dizer que ali não poderia consumir bebida, por estar fora da praça de alimentação. Então terminei o chá e joguei o copo fora e continuamos ali, e os seguranças passavam pelo local, com olhares ameaçadores.
 
Eu, politizado, entendi na hora. Era homofobia e preconceito. Me senti constrangido e nos tempos do meu blog começaram a surgir relatos de casais gays levados a salas de segurança de shoppings onde eram humilhados e até espancados. Eu era militante no Grupo Dignidade. Não havia redes sociais, então pelo blog mesmo marquei encontros contra o preconceito nos quatro maiores shoppings de Curitiba nos sábados seguintes. 
 
O primeiro deles foi no Barigui. Para a nossa surpresa, entre a entrada e o chafariz foi colocado um grande caminha da Sony, encobrindo onde estaríamos. A TV cobriu, e também jornais, e o shopping negou mas não justificou tal tratamento. Neste encontro vieram amigos do interior, da balada, e reunímos mais de 15 pessoas, sem contar os curiosos que foram ver mas não participaram. De lá fomos à praça de alimentação, tinha até uma amiga travesti.
 
Isto foi há 10 anos. Foi a forma que agimos contra essa palhaçada de shopping center achar que pode maltratar quem eles julgam que não fazem parte de sua proposta. No caso dos gays de Curitiba, nossos encontros fizeram com que gays nunca mais fossem para a tal salinha de segurança por andar de mãos dadas ou serem quem são em um local que supostamente é para as pessoas serem felizes. Ao menos nunca mais soubemos de outros casos parecidos, salvo em uma livraria no Shopping Curitiba há alguns anos em que uma teen lésbica foi avisada que ali era um local de “família”. Protestamos de novo.
 
Posteriormente, descobri que o assédio moral que sofremos foi uma ordem dada aos seguranças. A então diretora de marketing da rede de shoppings pediu desculpas, mas nunca publicamente. Desisti de processar o shopping e este foi um dos fatos da minha vida que me levaram a seguir lutando contra o preconceito.
 
Aos rolezinhos pelo Brasil, se eles incomodam é porque tocaram na ferida. São necessários. Não podemos fingir que tudo está bem, em sermos tratados com menor respeito seja por qual motivo for.  
Quem lembra destes encontros? Se tiver fotos, agradecemos, estamos procurando aqui em nossos arquivos.
 
Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa