Depois de negociar com partidos da base a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, na semana passada, o Partido dos Trabalhadores precisou fazer um plano de contingência. O deputado Jair Bolsonaro (PP RJ) se candidatou ao cargo de forma independente, contrariando o acordo partidário, o mesmo que no ano passado não foi violado quando o PSC indicou Marco Feliciano para o cargo. A militância de Direitos Humanos já comemorava a possibilidade de nomes como Erika Kokay ou Nilmário Miranda, com vasto histórico na área, assumirem o cargo depois do que é considerada o período de trevas para os Direitos Humanos no país, quando veio a notícia de uma eleição contra Bolsonaro. O PT precisou então indicar um conservador, Assis do Couto (PT-PR) ,para garantir a eleição contra o deputado carioca que contou com o apoio da bancada evangélica. A vitória petista veio em um apertado 12 x 10.
Eleito, Assis do Couto já afirmou que é muito religioso mas que temas importantes devem entrar na pauta da Comissão e não apenas a união gay. “Querer escamotear e não pautar o tema do aborto é tapar o sol com a peneira, prejudicando milhares de mulheres. O Brasil não pode tapar o olho para isso e é preciso discutir o tema com seriedade”, afirmou o deputado que é abertamente contra o aborto, mas que promete promover o debate. “A união entre homossexuais é importantíssima. Mas existem várias outras violações de direitos mais urgentes hoje, como a situação dos presídios, a maioridade penal, os crimes policiais e a violência em protestos. Não dá para transformar a Comissão de Direitos Humanos numa música de nota única, como aconteceu no passado”, relembrou ele. Militantes gays históricos do PT lamentaram a escolha do partido porém a decisão foi uma estratégia para garantir que 2014 não fosse pior do que 2013 na Comissão, com Bolsonaro. O estranho é que ninguém questionou o acordo partidário, levado a cabo no ano passado, o que criou o absurdo de ter um presidente com histórico de declarações racistas e homofóbicas, fundamentalista e despreparado, na presidência da comissão.