Redação Lado A | 10 de Março, 2014 | 23h19m |
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A crítica, separada em construtiva e negativa, é tão temida e ineficaz a ponto de analisarmos se nossa opinião vale a pena ser dada? As caixas de reclamações estão por aí e são cada vez mais raras. Não são poucas as pessoas que desistem de reclamar pois temos tantas situações de estresse que avalia-se que é menos trabalhoso tentar um outro local à melhorar o serviço ou comportamento alheio. Então há vezes que vale a pena opinar e outras que não… mas quando a opinião tem valor?
As pessoas preferem não exercer seu direito ou evitar conflitos a ser um “chato”. Há ainda aqueles que dizem que não pediram opinião ou que opinião é como bunda, que todo mundo tem a sua.
Talvez devamos separar opinião de exercício de cidadania. Como consumidor, devemos sempre opinar e exigir nossos direitos. Como cidadão, devemos sim reclamar, opinar e cobrar melhorias dos serviços públicos ou privados. Se o receptor for esperto, usará as opiniões para evoluir. Mas não pode parar por aí.
Já com um amigo ou relacionamento alheio, vamos chamar de pitaco, e esse deve ser evitado, mesmo que o amigo pergunte a sua “opinião”. Se muito amigo, aquilo poderá até causar uma nova visão sobre alguma coisa mas possivelmente cria mais mal estar do que uma reação positiva.
Podemos ainda ter sugestões, avaliações, impressões e cada uma tem sua profundidade mas temos que ter a mente aberta de que não devem ser verdades absolutas. Na hora de opinar devemos considerar que as pessoas não querem ouvir verdades, ou a sua verdade, opinião, elas querem a possibilidade de se auto avaliar com a sua dica e, principalmente, uma validação de suas próprias opiniões. Sim, pois opinião serve mais para legitimar do que para provocar mudança. As mudanças vem com as ações. Por meio judicial, protestos ou greves… raramente as opiniões são levadas em conta. Isso frustra e por isso muitos preferem guardar suas percepções para si.
Ou seja, se eu opino de forma negativa, pode até haver uma comoção e solidariedade, mas a mudança dificilmente; E, quase sempre, ainda excluem a reclamação das redes sociais. Publicam os elogios e as críticas são tratadas como fatos pontuais e apagadas. Se reclamo, a notícia poderá até se espalhar e eu receber um pedido de desculpas. Agora, se eu elogio, faço uma opinião positiva, estou validando a pessoa, serviço ou produto em nome de todos. Por isso a força de um “curtir” no Facebook e a inexistência de um “não gostei”. O comentário positivo ninguém apaga… E quem fez o comentário negativo pode até ser bloqueado, seja na mídia social ou na vida real socialmente. As pesquisas de opinião de empresas, quando não correspodem ao ideal, são até colocadas no fundo das gavetas ou guiam uma adequação a uma opinião melhor. Pois o que vale é a opinião coletiva, a imagem pública e não a discussão.
Não basta ser politizado, ler bastante e ser inteligente. Se a sua opinião for fora do senso comum ou do que esperam, ela tem que ser apresentada com muito tato. A sua opinião é mais um exercício de auto aprendizado e auto conhecimento de como se portar socialmente do que uma colaboração para o mundo. Quem opina é julgado. Julgado se tem estudo, se tem posses, se escreveu corretamente, se sabe o que está falando, qual a fonte, se tem certeza… se era a hora certa de opinar… Oi?
A liberdade de expressão é garantida pela Constituição mas a interpretação e importância da sua opinião vai depender de quem a está recebendo e de uma série de fatores, entre elas a própria opinião da pessoa. Pois na hora de um debate ela pode evitar o conflito e falsamente concordar, pode não querer opinar, pode de fato só concordar, ou ainda, tentar prevalecer com a própria opinião. No fim, você quer que as pessoas concordem com você, por isso deu a sua opinião, ou que reconheçam que o seu modo de pensar faz sentido, que tomem seu partido, que validem o seu modo de ser ou pensar. O debate de opiniões e ideias é comumente confundido briga e não é bem visto, nem por quem fez a crítica inicial.
Quase sempre a nossa opinião só serve a nós mesmos, para legitimar nossas convicções ou para a auto afirmação intelectual. Penso, logo opino.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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