Um blogueiro do Rio publicou um texto bem interessante, a ponto de pedirmos a ele para republicar aqui no site. Quem nunca se indignou com as gays na caça que esnobam pretendentes, se aproveitam do anonimato da internet para desferir piadas ou opiniões sobre a pessoa que não preenche suas listas de exigências. Tem até quem marca e não vai, que vai e finge que não é com ela, e ainda aquelas que se acham a última bolacha da Terra e fazem questão de enumerar os defeitos alheios.
Pois bem, o blogueiro Bruno de Abreu Rangel escreveu o post “O Vilão do Grindr”. Pensamos em fazer algo parecido mas o relato dele é tão bom que preferimos aproveitar (além das possíveis inimizades futuras) . Ele diz que um amigo se passou por um perfil falso (espertooo) depois de ser maltratado no reino do Grindr e decidiu se vingar. Quem nunca pensou nisso ou fez que atire a primeira pedra. Apesar das muitas generalizações do texto, e da aparente raiva pelos boys de Ipanema, relaxa e sinta-se um pouco vingado.
Poderia ser em qualquer cidade do mundo… Leia abaixo o texto incrível do Bruno:
O vilão do Grindr
Porque os gays de Ipanema estão sempre solteiros?
Antes que me atirem pedras, costurem o meu nome na boca do sapo e me compartilhem com comentários maldosos e ofensivos nas Redes Sociais (apesar de não temer nada disso), já aviso de antemão que não estou em nenhuma posição de julgamento quando me refiro aos gays de Ipanema. Na verdade, estou levando em consideração o estilo de vida que é mais enfático nesse bairro tão disputado pelos homossexuais do mundo todo. O fato dito aqui poderia se estender por Copacabana, Leblon, Madureira, Caxias, São Paulo, Recife e até por uma cidadezinha que nem existe no mapa.
Esbarrei com um amigo que nunca teve muita sorte de namorar porque não corresponde aos padrões de beleza. Coitado: corpo franzido, barriguinha de chopp, meio calvo e, pra piorar, um ar de quem acabou de sair da prisão. Dá pra entender porque ele sai pra night em busca de companhia e, no máximo, volta pra casa sem a carteira.
Estava eufórico me contando suas aventuras mal sucedidas no Grindr, um aplicativo de relacionamento entre homens, que ele baixou no seu celular. Disse que cansou de sentir-se rejeitado e receber maus tratos de forma gratuita. Nem colocando a sua melhor foto no perfil conseguiu tirar suspiros de algum desavisado. Suas maiores experiências foram com um bêbado e com um rapaz que bateu a porta na sua cara e fingiu que tinha batido no endereço errado. É … Não tá fácil pra ninguém, mas pra esse aí está mais que difícil – mas não impossível.
#xatiado.
Cansado de ser esculachado pelas “bichas de Ipanema”, que comem angu e arrotam caviar; que dividem apartamento com mais cinco; que vivem às custas de um gringo ou alguém com o dobro da idade, resolveu fazer justiça com as próprias mãos. Criou um perfil fake no Grindr e em questão de minutos tornou-se o Black Block do aplicativo, destruindo todos em nome da justiça – sem medo de repressão.
Eu, como escritor e investigador da natureza humana me interessei pelo assunto de cara e resolvi dar atenção ao fato.
O plano aconteceu assim. Ele criou um perfil com uma foto roubada da internet (um homem com um corpo escultural, que segurava uma prancha de surf, que tinha uma expressão de riqueza, bem criado, que nunca trabalhou e supostamente revezava o seu tempo entre academia e pegando onda no Arpex, ou, Arpoador). Na descrição ele se posicionava como o machão pegador, adorador da natureza, com todos os dotes inimagináveis.
Foi tiro e queda.
200 mensagens recebidas em menos de 15 minutos. Pretendente de todos os tipos surgiam na esperança de ter um feedback, ou um simples sinal de vida. Ele disse ter sido bastante generoso com pessoas “normais” dando atenção e massageando o ego desses pobres mortais. Mas o foco era atingir as “brothers de Ipanema”.
Ele percebeu que os gays que se acham os bam bam bans, que fazem cara de c* doce na praia, que posam de gato garoto no Facebook tinham, naquela ocasião, uma aproximação mais educada, escreviam com delicadeza, com um certo receio de serem rejeitados. Curvavam-se como súditos e obedeciam a todos os seus pedidos. Mandavam fotos de todos os tipos, algumas dignas de desbancar qualquer ator de Hollywood, outras, de ângulos que nem eles mesmos enxergam, mas, no final das contas, depois de muitas expectativas, recebiam uma resposta bem fria e curta:
__ Não curti, sorte aí irmão.
Ou então: __ Você tem uma cara de bicha que bate cartão na Farme (rua mais frequentada entre os homossexuais). Valew.
E também: __ Você tem cara de que vive de dieta e tem lordose, porque sua bunda anatomicamente me parece estranha. Fui.
Fiquei abismado quando ele relatou sobre a reação das pessoas. O mundo virtual é terra de ninguém, é uma batalha de covardes em que nenhuma das partes vence. Ele afirmou que a maioria desses rapazes “bem resolvidos” queria saber o motivo pelo qual estavam sendo rejeitados e sua resposta era o silêncio seguido de um delete. Quer algo mais torturante do que isso? Agora, convenhamos, criar um perfil num aplicativo e correr o risco de ser julgado por uma foto de corpo e uma breve descrição é uma verdadeira roleta russa para a autoestima, praticamente uma humilhação psicológica. Atração envolve muito mais do que isso. É necessário observar postura, voz, jeito de falar, de se vestir, o cheiro, a pegada, o papo, a química, o conteúdo. Se é pra entrar em cena, esteja preparado para um NÃO, ponto!
Alguns dos recalcados que receberam “beijinho no ombro” ao serem deletados, acabavam por criar outro perfil na tentativa de descobrir de quem se tratava o já então considerado vilão do Grindr. Tudo leva a crer que os gays de Ipanema precisam ser desejados a todo custo, não conseguem conviver com a rejeição ou com o simples fato de que podem não ser a preferência de alguém. Mas em contrapartida agem sem o menor escrúpulo quando alguém não preenche as suas aspirações. Criam um mundo em volta do umbigo e não hesitam ferir alguém que não faça parte de seus grupinhos.
Um fato muito marcante foi o de um rapaz, figurinha fácil do Coqueirão, que é o point dos bonitões mais descolados da praia, que se propôs em usar salto alto e calcinha. Chegou até a receber fotos dessa figura que mais parecia a Tiazinha, com direito a chicote e tudo mais. Ele, nessa travessura virtual, descobriu coisas que me fizeram pensar. Porque o garoto de Ipanema, sarado, lindo, supostamente rico e bem educado está sempre sozinho? Ele concluiu que a bicharada vive de máscaras como se o carnaval durasse o ano inteiro. Não à toa o símbolo do aplicativo é representado por uma máscara quase semelhante ao do Anonymous. Segundo ele, os ativos são todos versáteis, os versáteis são passivos e os ativos de verdade estão sempre ocupados “comendo alguém” – até que faz sentido. Os ricos são os pobres, os puritanos são os mais devassos e os que fazem “carão” estão sempre disponíveis nos banheiros das boates ou nos vídeos de carnaval de Floripa – que por sinal é o assunto do momento que rola no Whatsapp. Longe de mim julgar a pegação, a culpa é da testosterona. A pergunta que fica no ar é, se você veste um personagem, o que acontece quando descobrem que você é você?
Dormir com um sarado marrento e acordar com uma donzela miando é um contraste gritante. De nada adianta passar o ano fazendo ciclos de bomba para ter uma aparência mais masculina, posar com boné pra trás, desfilar de skate pela orla aos fins de semana, falar brother, brow, lek, e na hora “H” não se conter com os ritmos da Rihanna e Katy Perry.
Analisando os fatos, O garoto de Ipanema está solteiro por pura opção sim, pela simples ilusão de que haverá sempre alguém “melhor” na esquina. Essa busca incessante cria um vazio emocional, constrói ilusões, destrói sentimentos de forma que só mesmo um terapeuta pra juntar os cacos. Estão escravizados pela vaidade e precisam ostentar o que não têm, alimentar o monstro que construíram obcecadamente. É uma tempestade na alma – e ninguém está livre disso, seja no aplicativo, nas ruas de Ipanema e em qualquer lugar onde se privem dos direitos de ser negro, gordo, asiático, pobre, ou simplesmente diferente.