Parte de nossa herança, de quem somos, vem de nossos pais, do ambiente em que fomos criados, onde escrevemos nossos preconceitos e conceitos no livro da nossa história pessoal. Para evoluir precisamos sempre reavaliá-los. Nem sempre o que aprendemos é o certo ou ideal para nós e cabe a nós acharmos nosso caminho. O importante é ser feliz, fazer o bem e colaborar para um mundo melhor. E, acima de tudo, ajudar os outros a serem felizes, a espalhar o amor em forma de ações e não as letras ou palavras de outros.
Esses valores eu recebi na minha formação cristã. Batizado, frequentei escola salesiana toda a minha vida, acredito em Deus como energia criadora do universo, desenvolvi minha concepção de “verdade”. Li a Bíblia duas vezes, diversos livros espíritas, budistas, tive a oportunidade de vivenciar diferentes culturas por meio de viagens, amizades e leitura. Desde cedo descobri que não existe apenas um Deus no mundo, mas Deus é único como princípio de fé, de força transformadora, de amor.
Todos nós temos o direito a pensar como quisermos, a fazer o que quisermos em nossas casas, mas devemos ter muito cuidado com o que entregamos ao outro. Primeiramente temos as leis públicas a seguir e depois nossas convicções, entre elas as religiosas. Ninguém tem o direito de menosprezar a existência do outro. Tenho muitos amigos ateus. Acho válido, se isso faz bem para eles. Na verdade quando avaliei o meu ponto de vista sobre a existência de Deus, percebi que o melhor é acreditar e parei de duvidar da minha fé, pois é algo bom para mim.
Eu tenho um cartão postal do Papa Francisco em minha sala (acredite, é verdade), porém, quando Bento XVI assumiu eu não queria mais ser católico. Um papa que condenava abertamente aos homossexuais não poderia ser um bom pastor para mim. Peguei a imagem do Papa na casa de minha irmã, ela estranhou quando eu pedi mas me deu. Eu vou à missa poucas vezes mas rezo todos os dias antes de dormir. Um hábito que desenvolvi e que não consigo me desfazer. Me faz bem, então me fortalece, mas nem por isso prego aos outros. O mesmo vale para a minha sexualidade. Cada um sabe e deve ser livre para descobrir o que lhe faz bem, precisamos nos conhecer e saber o que nos faz uma pessoa melhor e feliz. O custo e o benefício deve ser avaliado de um ponto de vista a longo prazo, infinito e transcendente. Cada um deve ter a sua verdade e se você precisar pregar isso como verdade para o outro, é sinal de que está em dúvida.
Não acredito em milagres e nem em Juízo Final. Para mim, ele é feito todos os dias, pela lei do retorno de nossas ações e o milagre está nas pequenas coisas. Mas não me importaria se fosse surpreso, pois não deixo de me preparar, mesmo com um pensamento diferente. Eu vejo a criação todos os dias, então não preciso de igreja para fazer o intermédio. Agradeço e ofereço e peço perdão todos os dias. Pois cada dia é um novo recomeço sob a inspiração do cosmo criado por Deus. Cristo para mim é um exemplo, não me importa se ele de fato existiu ou não, a mensagem existe e é linda para quem sabe entender.
Sou gay, cristão, e lamento as pessoas que usam a Bíblia para exercer um pecado maior, que é o de julgar e subjulgar o próximo, jogar pedras, promovendo a infelicidade alheia, interferindo na caminhada do irmão, apontando que seu caminho é o correto. Acredito na lei do retorno, na energia qual nos conectamos, então fico feliz por estas pessoas. Quem julga será julgado, essa demonstração de ignorância levará ao entendimento, pela dor, pela vida, pelo girar do mundo. Pois o cosmo tem um sentido, e ele gira para separar o caos e gerar a ordem, é metafísico. Cada um leva o tempo necessário para evoluir. Não acredito em outras vidas. Para mim, viramos energia. Passada a prisão física, nos conectamos à criação e somos eternos e insignificantes. Se eu me surpreender, será algo bom também. Não vivo por medo ou por regras mas pela minha consciência de estar fazendo o meu melhor todos os dias, com todas as pessoas. Essa foi a mensagem que eu adotei.
Como gay, tenho uma vida feliz, regrada nos meus limites e escolhas. Não julgo os outros. Não sou melhor do que ninguém, mas encontrei o meu equilíbrio e o que eu queria para a minha vida. Uma frase que gosto é: “o caminho é sempre longo para quem não sabe onde quer chegar”.
Costumo brincar que o meu Deus é tão poderoso que tudo é possível. Não tento entender e nem julgar a Deus ou o que surge na minha vida. Como disse, consigo ver Deus. Principalmente onde a maioria das pessoas não consegue. Quando vejo alguém falando por Deus, logo penso, o cara vai se ferrar “se Deus mudou de idéia”. Sim, pois Deus para mim pode tudo, inclusive se arrepender ou escrever por linhas tortas, propositalmente.
A fé é uma dádiva, mas em tempos em que vemos muitos pregando e apontando dedos aos homossexuais, separei uma linda passagem da Bíblia que fala de tolerância, fé e julgamento alheio: