Redação Lado A | 29 de Abril, 2014 | 00h49m |
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Por falta de outro termo, a comunidade ainda se chama de gay, mas não tem mais bandeira do arco-íris, não tem mistura, é um nicho criticando o outro, e na via das dúvidas reina o hipster, o alternativo, o carinha que incorpora as qualidades do gay da novela, quanto menos afeminado melhor. Arrumadinho, que não gosta de rótulos, tem ar blasée importado, como suas roupas, selfies e modinhas. A parada gay virou “a cara do inferno” para eles, com travestis peladas, drags coloridas, barbies estranhas, classe C e outros personagens. Os alternativos viraram a cara para os outros segmentos e levaram as barbies bonitas, as drags fashion, as travestis poderosas, as webcelebridades e optaram pelo que julgam mais “respeitável”. A trilha sonora mudou mas volta e meia se apropriam do Pop e do House. Claramente se separaram da comunidade e o nicho é forte.
Do lado de fora da comunidade, além do discurso partilhado por muitos gays de que beijar em público é uma afronta, entre outras coisas, foi ganhando espaço a idéia de que é melhor não chamar a atenção. O mercado apoia. Vai ver o incentivo que uma casa gay ganha das empresas de bebidas ou patrocinadores e o que recebem as casas alternativas, incomparável. Ninguém quer aliar marca com gays coloridos. Já o gay discreto, aquele que não chama a atenção, é incentivado por pais, igrejas, patrões, por todos. Por fim, em troca de uma aceitação pacífica, negociaram. O casamento gay não está na lei, mas acontece, está bom assim. Lei contra a homofobia, não precisa, está bom assim, até que a vítima seja algum conhecido. Então se partilha no Facebook a indignação geral e pronto.
E não pense que os alternativos são anjos, eles fazem tudo que os gays de ontem faziam, só que são mais discretos. Muitos são os mesmos, só mudaram de endereço e figurino. O cabelereiro, que era o modelo rejeitado do gay anos 80 – 90, virou hipster. Claro, a profissão evoluiu e eles alcançaram outro nível e status social, e um novo visual.
Os estereótipos do gay promíscuo, barraqueiro, afeminado, não merecedor de confiança, venceram. Venceram a tal ponto de parte da comunidade rejeitar o meio e as pessoas assim. Criou-se os goys, gays que não querem ser confundidos com os gays… mas que gostam da mesma coisa. Alías, esta é a única unidade que temos entre as tribos. Amar o mesmo sexo. Pois é mais fácil amar o mesmo sexo do que amar um semelhante. Opa, semelhante não, já deixaram claro que não se consideram semelhantes e preferem ser algo alternativo e novo.
Essa “evolução” aconteceu em muitos países. Os gays não viram mais necessidade de guetos e militância, as paradas esvaziaram, a militância virou algo feito na internet. Vieram leis, aceitação parcial e muitos se confortaram. Não há o que temer com o avanço alternativo, mas é preciso esclarecer que definitivamente a comunidade está perdendo o orgulho que moveu tantas paredes até o momento e está se construindo uma grande muralha em cima do próprio passado.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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