A derrota por goleada da seleção brasileira de futebol nesta terça feira, espero, traga uma profunda reflexão e mudança. Dizem que as grandes nações surgem por guerras e momentos difíceis e que nunca passamos por isso. Espero que por analogia a perda da Copa do Mundo nos torne um país melhor. Não apenas no esporte mas no sentido cívico.
Acordei aos 40 minutos do primeiro tempo e levei um susto: 5 a 0 para a Alemanha. Durante todo o dia, e nos dias anteriores, eu afirmei que este jogo me levaria a uma reflexão filosófica. Seria possível um time medíocre como o nosso vencer uma seleção completa, taticamente perfeita, resultado de um árduo trabalho de preparação? O fator Neymar ou talento individual capaz de alterar o resultado do embate técnico não estava presente, infelizmente, mas deixarei claro o dilema proposto. O peso da camisa verde e amarela, argumento para justificar o “poder” de uma tal superioridade, nada mais é do que a máxima utilizada pelas famílias tradicionais para assegurar sua supremacia social: “Você sabe com quem está falando?”.
A minha inquietude quanto ao resultado do jogo reflete uma realidade nacional sob o meu de vista. Vivemos em um país no qual as pessoas chegam a cargos importantes não por mérito mas por esquemas pessoais e politicagem. Onde prevalece o jeitinho brasileiro de que o trabalho pode ser superado por inteligência ou criatividade. Onde ser rico seja lá por quais meios supera o valor da honestidade. Em que a Justiça e ordem pública dão lugar a um sistema caótico e perverso onde sobrevivemos acreditando sempre que dias melhores virão e chegarão não por motivos racionais ou resultado de dedicação e esforço.
Alguém então me lembrou que o futebol é uma caixinha de surpresas, que é apenas um jogo, que há o fator sorte. Claro. Mas o que seria a vida senão um jogo. A previsibilidade pode ser surpreendida mas não estamos a mercê de um acaso. O trabalho, o plantio, o justo, não podem perder seu sentido. Não podemos conceber que a situação justa é um acaso e muito menos esperar que o fanatismo supere a lógica. Quando eu disse que se o Brasil perdesse que fosse uma lição, meu amigo previu: Faz parte do jeitinho brasileiro achar uma desculpa ou um culpado quando as coisas dão erradas. Fato.
Cargos para pessoas sem competência, de governantes sem capacidade de administrar, privilégios e pessoas burlando o que deveria ser direito e dever de todos. Falta de Justiça, falta de punição aos criminosos e abuso de poder. Chega de vivermos aceitando o medíocre, achando que tudo dará certo quando não exigimos que sejamos tratados com o respeito que merecemos. Ver a seleção brasileira tentando cavar faltas não existentes, ganhar o jogo na malandragem, foi humilhante, assim com é ver o nosso país não avançar com consistência e mérito de um trabalho sério. As faltas da seleção e a malandragem do povo estão para a “contabilidade criativa” do governo ou na dificuldade de admitir que é preciso mudar.
A seleção perdeu e foi humilhada porque não há como superar o trabalho sério, de equipe, consistente senão com os mesmos valores e esforços. Nossa seleção talentosa porém ineficiente reflete o nosso país: Rico e fantástico mas que se perde ao meio de tantos erros e corrupção. Pobre de um país como o nosso onde o futebol é mais valorizado do que uma vida, do que a Educação.
Enquanto eu escrevia este texto a Alemanha fez o sexto e sétimo gols. Não precisa ser gol de bicicleta ou trivela. Basta ter foco e fazer a sua parte. Não precisamos ganhar de goleada, só queremos um jogo e um país justos. Não podemos nos contentar com golzinhos de honra ou migalhas. Vamos limpar o choro e começar a construir um país.