Na última sexta-feira, a abertura do jogo Brasil X Colômbia, na Arena Castelão, em Fortaleza, que garantiu a vaga do Brasil nas semifinais da Copa do Mundo, começou de modo diferente. Os capitães das duas equipes leram um texto contra o preconceito e a discriminação. Thiago Silva, do Brasil, chegou a nomear a homofobia (discriminação por orientação sexual) e dizer que a seleção é contra o preconceito em todas as suas formas: “Em nome da seleção brasileira, declaro que rejeitamos qualquer tipo de discriminação seja racial, de gênero, de orientação sexual, ou étnica e religião. Através do poder do futebol, podemos ajudar a livrar o nosso esporte e a nossa sociedade do racismo e da discriminação. Assumimos o compromisso de perseguir este objetivo e contamos com vocês para nos ajudar”, afirmou o brasileiro.
Mensagem similar foi lida pelo capitão da Colômbia e repetida diversas vezes durante a abertura do jogo, dedicado ao 13° Dia Anual contra a Discriminação e Racismo, da Fifa, que visa combater “a discriminação em todas as suas formas”. Até aí tudo lindo, porém uma cena chamou a atenção, entre as crianças que tradicionalmente entram com os jogadores antes da partida, nenhuma criança negra. O discurso se destoou da prática de alguma maneira em um país de maioria negra e parda. As mulatas também não estavam na abertura do mundial, talvez para não passar a imagem de um país destino sexual, mas poderiam ter colocado as senhoras negras baianas, oxente. Na torcida do Brasil, poucos negros, o que acontece em um país mulato como o nosso?
Da mesma forma, Ricky Martin, que saiu do armário entre a última Copa e esta, não ganhou o destaque merecido por ser autor de uma das músicas temas do mundial. A Rússia, sede do evento em 2018, não foi questionada ou sancionada por sua lei que proíbe a divulgação de idéias que sugiram que gays tem os mesmos direitos dos héteros. Nem mesmo as cores do arco-íris podem aparecer por lá. Aliás, também não apareceram durante a campanha da Fifa.
O nosso rei, Pelé, ícone negro e do futebol, não marca presença nesta “Copa das Copas” com o merecido destaque em razão de desentendimentos dele com a CBF. Ele próprio poderia ser uma bandeira viva contra o racismo em um país onde se tem o “rei do futebol” negro, mas é preciso de cotas para garantir que negros tenham acesso as universidades. Aliás, se houvessem cotas entre as crianças da Fifa, talvez tivéssemos visto alguma na abertura do jogo, enquanto faziam demagogia contra o preconceito e discriminação. Poderíamos ter cotas para transexuais e gays afeminados também, assim, quem sabe, não precisaríamos ouvir a torcida mexicana gritar “puto” (viado) nos estádios brasileiros, sem que a Fifa ainda dissesse depois que não se tratou de homofobia pois não era direcionado a ninguém.
Uma ação e uma imagem valem mais do que mil palavras. Não serão algumas palavras da Fifa que acabarão com o preconceito e discriminação e ela sabe disso. Talvez, a Fifa responda as pressões de maneira paliativa, o suficiente para dizer que fez a sua parte e não manchar a sua marca. Responsabilidade social para algumas instituições é isso, enquanto todos estão vendo, fazer algo bacana, o suficiente para chamar atenção e não revelar o que é jogado para debaixo do tapete.
Foto: UOL
Agora note a torcida brasileira… quantos negros na foto?