No programa Pingo nos Is, da rádio Jovem Pan, com Reinaldo Azevedo, Mona Dorf e Patrick Santos, nesta quinta-feira, foram comentadas as resoluções do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção de Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT) que estipulam o respeito às transexuais e travestis nas escolas e o combate à homofobia. Uma das medidas garante o respeito ao gênero no uso de toaletes e vestiários e o uso do nome social, a outra garante o registro da homofobia nos boletins de ocorrência, mas o programa confundiu identidade de gênero com orientação sexual e deu opiniões fora de contexto.
Azevedo começa alegando que o nome social pode ser trocado, cita exemplos esdrúxulos, e critica o uso de banheiro de acordo com a identidade de gênero e presta prova de sua ignorância ao dizer que a escola precisaria de 18 banheiros diferentes, mostrando que não sabe o que é identidade de gênero, ou seja, como a pessoa se identifica, se do sexo masculino e feminino. Cita ainda que uma pessoa pode entrar no banheiro e uma mulher transexual ou travesti pode estar com o pênis para fora… ereto… Ora, pelo visto o jornalista nunca foi a um banheiro feminino, onde não há mictórios. A falta de respeito, ou destrato proposital com o tema, é evidente quando Azevedo diz que não se importaria se fosse o caso das escolas ensinarem direito, citando aritmética. Pois bem, ele mesmo é prova da deficiência de nossas escolas, fala do que não entende, agride o direito alheio, mostra insensibilidade e ainda se acha com razão. Jornalistas chegam às redações sem a mínima capacidade de se colocar no lugar do outro, essa é a verdade.
Segundo ele, as medidas destroem a tolerância. Em seguida, ele confunde identidade de gênero com orientação sexual e faz piada: “Tenho um colega que diz que se tivesse um banheiro especial para os gays, seria nossa infelicidade”. Então o radialista diz que é a favor dos direitos gays mas contra o “sindicalismo gay”. Ele desconhece que o nome social é sim registrado, que transexuais podem pedir a alteração do nome, como qualquer outro cidadão. Ele cita o filme A Gaiola das Loucas, fala de uma personagem “mais viadinha”, na verdade uma travesti em uma comédia absurda, e cita o fato dela voltar a ser homem depois de perder os privilégios de ser perua. Cita a palavra “macho”, reforçando o estereótipo ao qual ele mesmo não se encaixa.
“Por que quem não é LGBT não pode opinar?” pergunta o radialista e ataca o governo. Ora, porque as pessoas deveriam opinar no casamento gay? No caso do banheiro, se refere às transexuais, que cientificamente são pessoas de um sexo que nasceram no corpo do sexo oposto, ou seja, no fundo a identidade de gênero reflete o sexo ao qual a pessoa quer ser e deve ser tratada. Reinaldo questiona a ilegalidade da medida e fala ainda dos jardins da infância, como seria. Depois de Azevedo criticar a artista Marina Abramovic, Mona Dorf cita a frase da artista que diz que ela gostaria de ser lembrada como artista e não artista mulher… Bem o mesmo é com as travestis e transexuais femininas, querem ser vistas como mulher, e ponto, por isso as resoluções. Os desinformados que insistem em confundir as pessoas transexuais com homossexuais ou com orientação sexual (gay, homo ou hétero). Transexuais podem sim ser hétero, homo ou bissexuais – são questões diferentes. Reinaldo discorda que Marina faça arte, a quem chama “um monte de nada”, mais uma vez ele comprova a sua limitação de entender o mundo à sua volta, de entender que sua opinião é subjetiva e não verdade absoluta. Talvez ele tenha fugido destas aulas na escola ou na faculdade também.
É triste ver colegas jornalistas citando exemplos infelizes, como o de que meninos poderiam proibir outra criança homossexual de usar o banheiro masculino por conta da resolução… Infelizmente quando se trata das questões LGBT ninguém é contra mas claramente não entendem do que falam e se acham na razão e direito de discordar em pontos que não afetam seus direitos mas promovem a igualdade. Bacana que desejam opinar, discutir o tema, mas conversem antes com alguém que entende do assunto para não fazer papel de desinformados. Até muitos gays não entendem a questão das transexuais, muitos gays não entendem a necessidade da militância e da luta por direitos. As pessoas se prendem ao senso comum e ao medo, e é por isso que temos tanta violência contra as comunidades LGBT.
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