Em alguns lugares, talvez eu fosse preso só pela audácia de tocar num assunto desses. Felizmente a liberdade de expressão ainda é uma das poucas vantagens que nos restaram na terra do futebol, que também nem é mais do futebol. Como as coisas mudam, não é mesmo? O que dirá o nosso ponto de vista. É melhor não dizer “Dessa água não beberei”, porque quando a gente se dá conta está tomando litros e se afogando nas palavras que disse.
Antes de qualquer coisa, é de bom tom esclarecer que a união entre duas pessoas nada mais é do que um contrato bilateral. Desenhando, isso inclui: homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher e outra infinidade de gêneros que fogem da nossa alçada. Ninguém está livre de se apaixonar por outra pessoa sendo o relacionamento aberto ou fechado. Pode acontecer na fila do banco, no meio do supermercado, no caminho para o trabalho, ou até dentro do trabalho. Aliás, se os escritórios falassem… Se a gente entendesse que quase todos os relacionamentos terminam pelo mesmo motivo, seria melhor pensar em outras alternativas antes de descobrir que está sendo traído. Bom, vamos ao que interessa.
Saiba abordar o assunto: não banque o sem noção que vai escancarando a relação como se tivesse perdido o interesse nela. Coloque as cartas na mesa, mas com cautela. Se você já tem o mínimo de intimidade com a pessoa saberá como tratar de assuntos delicados e tem uma ligeira desconfiança de como ela poderá reagir. Se achar que um bate papo pode ser intimidador demais vá comendo pelas beiradas. Na hora “H” sussurre algo do tipo: imagine aquele gostosão que vimos na praia aqui agora te pegando pelo pescoço… Se a pessoa der um sussurro mais caliente, bem vindo ao “quem sabe pode rolar”. Se a pessoa te jogar da cama, partiu monogamia, ok? Um conselho, se o seu relacionamento já acabou, não adianta forçar a barra. Colocar um terceiro indivíduo só vai causar mais estragos.
Estipule regras: esse é o momento crucial pra desvendar todas as suas fantasias. Uma cama bem resolvida pode salvar o casamento do marasmo. Afinal, arroz e feijão a vida toda, haja estômago. Tudo bem, algumas coisas você não precisa contar pra sua mãe, mas pra pessoa que você divide o lençol não pode existir segredos, do contrário será o início do fim. Estabeleça as regras, o que é permitido e o que não deve acontecer sob quaisquer circunstâncias. A terceira pessoa é como uma visita, e um convidado tem zero influência sobre a sua casa. É bom que isso esteja bem esclarecido entre as partes. Algumas regrinhas não podem faltar na lista: sexo seguro; não convidar o coleguinha da faculdade (amigos em comum nem preciso comentar); escolher sempre alguém que atenda ao critério dos dois; não permitir a utilização de smartphones durante o ato (a não ser que vocês não se importem em ser atração no Youtube, Youporn, Youqualquercoisadesagradável). Assim como a nossa digital, cada relação é única, portanto há um universo de assuntos a serem discutidos a dedo até chegarem em comum acordo.
Tem que ser bom pros dois: se um gosta só de negros, o outro só de brancos, no mínimo tem que rolar um mulato, senão cabeças rolam. Outra dica importante, os três têm que interagir. Ponto. Já soube de casais em que o cara sempre queria uma terceira mulher e nunca abria mão do terceiro homem. Preciso contar o final? A mulher se apaixonou por outra mulher e ele – que chupava muitas coisas – ficou chupando o dedo. Há ciladas também nos relacionamentos gays em que um é versátil (faz as duas coisas) e o outro é somente passivo. Vai convidar mais um passivo? Já consigo ver roupas sendo jogadas pela janela e um drama que respinga até no Facebook. As meninas que gostam de meninas também têm suas adversidades. Apegadas como só elas são, encaram o sexo a três como um clube da Luluzinha. Chororô na certa.
Coloque os abusados pra correr: se não funcionou pra um, não funcionou para os dois. É assim que acontece, combinado? Do contrário vira a casa da Mãe Joana. Terá sempre um engraçadinho que não fará a política da boa vizinhança e vai cair pra cima de um só, sussurrar nos ouvidos, trocar carícias em excesso, piscada de olhos às escondidas. Crie sinais entre vocês para dizer um ao outro que não curtiram a pessoa e delicadamente a convide para se retirar. Invente uma historinha, simule a ligação de um parente doente, ofereça um café, comente a chegada de um meteoro, qualquer coisa, use a imaginação. Agora, se o intruso for abusado demais, começar com papo de signo, projetos de vida, coloque-o pra correr antes que ele comece a fazer um mapa astral no meio da cama. Lembre-se, seu parceiro vem sempre em primeiro lugar.
Converse entre vocês: essa é a receita do bolo. Nunca minta, nem omita, a não ser que parte do contrato seja sair com quem quiser sem que o outro saiba. Caso contrário, não deixe que alguma situação embaraçosa traga ciúmes pra relação. Por mais gato garoto que você seja, não se sinta o último biscoito do pacote porque química é um mistério e está muito além de um corpo sarado. Seja cuidadoso pra não cair do cavalo. Algumas vezes você atrairá mais atenção, noutras será a sua vez de dividir o palco. Outro tópico a ser definido é a frequência. Você não precisa ir a Disney todo fim de semana pra se divertir e sair da rotina. É muito importante ter em mente que uma aventura não pode dominar a sua relação. Assim sendo, conversem. Coloquem os pingos nos iis. A gente acaba criando espaços enormes com coisas que não dizemos às pessoas.
Um estilo de vida fora do convencional pode não ser tão simples e isso não quer dizer que você seja imoral, mas sim verdadeiro com os próprios sentimentos. Contudo, esteja psicologicamente preparado antes do “Li e estou ciente dos termos do contrato”, pois uma vez que você abra essa porta pode não ter volta.
Bruno de Abreu Rangel
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