Curitibano quer processar banco de sangue que rejeitou a sua doação

O jovem Thyago Curcio, 25, está indignado com a recusa de sua doação de sangue que recebeu na última segunda-feira em um tradicional banco de sangue privado da capital paranaense. “Todos que me conhecem sabem da minha sexualidade, nunca escondi de ninguém, sempre fui na minha, mais o que aconteceu aqui no Hemobanco hoje dia 22/06 jamais vou esquecer, pois fui impedido de doar sangue por causa da minha sexualidade, doei sangue aqui 4 vezes e nunca me impediram, vim aqui fazer o bem, coisa que muita gente não faz, estou indignado por tudo que eu ouvi aqui, peço a Deus que perdoe esse povo que criou uma lei para que os homossexuais não doem sangue, lei que a própria médica me mostrou. Que preconceito é esse gente??”, escreveu na hora, indignado, o rapaz que registrou a recusa em Boletim de Ocorrência na delegacia de Pinhais e pretende processar o estabelecimento.

A resolução n° 2.712 do Ministério da Saúde de 2013 determina como doadores inaptos por 12 meses “homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais destes. A normativa desconsidera se a pessoa está em uma relação estável, ou mesmo se usou preservativo. O mesmo artigo, o 64°, ainda exclui quem “tenha feito sexo com um ou mais parceiros ocasionais ou desconhecidos ou seus respectivos parceiros sexuais”. Ou seja, heterossexuais que transaram com pessoas que não conhecem… mas as pessoas mentem na triagem. Tanto héteros quanto gays. Alguns desistem de doar mas muitos gays doadores mentem, assim como heterossexuais.

O Hemobanco, que fica próximo ao Hospital Evangélico, no Bigorrilho, confirmou a recusa e afirmou que segue as normas do Ministério da Saúde. Para o local, não houve atitude errada no procedimento que instrui ainda que o motivo da recusa deve ser informado ao doador.  A portaria n° 1.353, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 2011, defende que “a orientação sexual não deve ser usada como critério para seleção de doadores de sangue”, mas a normativa citada anteriormente conclui: homossexuais podem doar, desde que não tenham atividade sexual por um ano. Thyago namora há dois anos e tem um relacionamento estável.
A discussão não é nova e coloca em dúvida os testes de controle de qualidade do sangue utilizado no país. Se há o risco de contaminação por sangue em janela imunológica, conforme argumentam os sanitaristas, o sangue não é testado com eficiência É discriminatório sim excluir homossexuais do ato de doar sangue, colocado socialmente como “ato de bondade” nas propagandas de doação de sangue. Sem falar nos benefícios dados aos doadores, como meia entradas em apresentações culturais.

A campanha Igualdade na Veia, criada em Curitiba, por coincidência, lançada na semana passada, procura discutir o assunto polêmico. O sangue é igual ou carrega um ranço do preconceito dos tempos iniciais da Aids? Hoje, como se sabe, há mais heterossexuais contaminados com a doença e mais deles se contaminam todos os anos. Então, por que a normativa, reflexo do pensamento da existência de grupos de risco, ainda é um estigma na vida dos homossexuais?

 

 

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa