A edição 61 da Lado A chega antes do Carnaval nas melhores baladas do Sul do país, mas entenda a idéia por trás desta importante capa que marca a abertura dos 10 anos de Lado A. As fotos foram feitas pela nossa produção com cliques e edição do fotógrafo Herickson Laurindo. A explicação abaixo é do nosso redator Lucas Panek, novo integrante da Lado A.
Por que “somos todos heróis”?
Às vezes, salvar o mundo todos os dias parece muito fácil. Pelo menos, é o que os super heróis fazem parecer. O Homem-Aranha só precisa saber do boato na redação do jornal e sair voando para proteger a cidade de Nova York da máfia e de seus bandidos perigosos. Ele ainda tinha superpoderes para ajudar. Mas e a comunidade LGBTQ? O nosso vilão não é palpável. Ele está enraizado no sistema político, educacional e social. Ele faz parte de todas as pessoas, inclusive de nós mesmos. Ele é o preconceito.
Somos heróis que vivemos com culpas inteiras. Tentamos desconstruir o machismo todos os dias. Tentamos desconstruir a heteronormatividade todos os dias. Tentamos desconstruir o capacitismo todos os dias. Tentamos desconstruir o classicismo todos os dias. Tentamos desconstruir, enfim, a transfobia, a lesbofobia e todas as formas de fobias sociais de maneira ininterrupta. Não conseguimos sempre. Às vezes perdemos, mas quando isso acontece, somos pessoas melhores.
Você tem noção de quanta dor uma travesti sente, diariamente, por conta da incompreensão dos outros? É o caso da Natasha, travesti moradora de rua, que terá para sempre as marcas físicas da intolerância de uma sociedade que escolheu atacar fogo em seu corpo ao invés de estudar e compreender a sua condição social. Natasha é uma heroína.
As lésbicas tem que lidar tanto com pessoas como Jair Bolsonaro, que vive dando declarações demonizando gays e lésbicas, quanto com o machismo da sociedade, que não consegue enxergar o amor entre duas mulheres como satisfatório. As lésbicas também são heroínas.
E as pessoas trans, então? Vivem no país que mais mata transexuais no mundo e, se decidem passar pelo procedimento de readequação sexual e de mudança de nome, precisam enfrentar as condições duvidosas do Sistema Único de Saúde, que trata a transexualidade como um transtorno, e os entraves legais da justiça brasileira. As e os transexuais são heróis.
A lista de situações vai longe: não podemos andar de mãos dadas, não podemos expressar a nossa feminilidade, não temos nosso amor legitimado, não podemos doar sangue, temos dificuldades para adotar filhos, somos politicamente mal representados, sofremos violência homofóbica diariamente… Sim, todos nós somos super heróis.