E se alguém dissesse: Biel, quero te estuprar e te rachar no meio?

Aprenda com o Biel… pensar não é crime, falar é, mesmo que de brincadeira. Pobre Biel, sendo massacrado em praça pública. Tão bonitinho, amigo dos gays, molecão, mas esqueceu que já tem 20 anos e que há limites sim. Ele não entendeu o limite, mas vamos deixar claro: 1 – a moça era uma profissional em horário de trabalho entrevistando ele, 2 – Não foi  uma, mas várias situações constrangedoras de que ela foi alvo em seguida, 3 – Falou de estupro quando todo mundo estava discutindo o tema ao qual o funk é acusado ainda de ser parte da “cultura do estupro”. 
 
A maioria dos estupros acontece por “brincadeira”, porque não levaram a sério o “não” da vítima. E às vezes ela não tem a chance de dizer não. Ainda assim, é estupro, pois ou ela foi coagida, ou não estava apta a raciocinar corretamente. E vamos convir: quem comete crime nunca acha que está errado. É mais fácil culpar a vítima ou o sistema do que pedir perdão. Ou ainda se fazer de vítima, que foi a solução nada genial do cantor.
 
E se eu, como jornalista, gay, ou outra pessoa, em uma entrevista com o Biel, dissesse: “Biel, você é um gostosinho e quero te estuprar, te rachar no meio, te levar pro hotel…”? – abreviando algumas das frases que ele disse para a moça. Talvez o Biel molecão ainda brincasse com a situação, se estivesse sozinho ou com amigos mais íntimos. Mas na frente de outras pessoas, do meio profissional ou familiar, teria sido atacada a sua honra, o colocaria em situação embaraçosa, no mínimo. Dos dois modos seria uma violência. E pela homofobia vigente talvez eu até apanhasse dos seguranças. E se eu o abordasse na rua? Sim, pois a jornalista não estava rodeada de seguranças, e dissesse estas palavras? Ou ainda, em uma roda de gays e ele no meio falássemos isso rindo… será que ele se ofenderia? Acho que sim, pois foram fortes as palavras. Neste caso até dizer que ele é gostoso seria o limite do “elogio”. E Biel é um artista, acostumado em seu assediado.
 
No âmbito do pensamento isso já é doentio, mas na prática, falar ou fazer pode criar sequelas semelhantes. Não cabe a quem praticou relativar a consequência do que foi dito ou feito, cada pessoa – vítima – reage de uma maneira, machuca de diferentes formas. E a lei é clara: foi um estupro, em tom de brincadeira mas foi. Ele não conhecia a moça, não sabe se ela tem traumas com isso, se ela é heterossexual, se tem algué, se é virgem, religiosa, ou ainda se ela é uma pessoa que gosta deste tipo de brincadeiras. Por isso, com temas assim, não se brinca. 
 
Repudio não apenas a forma como ele lidou com a colega jornalista, ou que estava exercendo esta função, porém mais ainda a forma com a qual sua família ou sua equipe lidaram com o tema. Parece que a mudança repentina na postura do cantor, que segue aquela fase badboy do Justin Bieber aos exatos 20 anos, é tão artificial quanto as declarações dele, por isso talvez ele e sua família acreditem em sua inocência. A postura de Biel nos últimos meses vem sendo estranha para fãs e quem acompanha a sua carreira. 
 
Ou o sucesso subiu na cabeça deste menino para ele ainda não ter pedido desculpas e perdão, feito campanha contra o estupro, ou estão mesmo investindo todas as fichas na sua imagem de encrenqueiro. A família apoiar a postura do rapaz mostra a sociedade que vivemos, enquanto ainda discutem maioridade penal e um rapaz de 20 anos quer se safar com o discurso de “sou criança” mas canta músicas de cunho sexual. 
 
Infelizmente Biel não tem cacife para bancar estes argumentos, pois ultrapassou e muito o limite em um país onde sacrifícios humanos ainda são aplaudidos, ainda mais se for alguém vindo da periferia ou de sucesso. E agora não é vitimismo social, é fato, embora o próprio Biel tenha argumentado isso. Passou do limite, continua errando, e vai pagar um preço alto. No próximo final de semana Biel estará em Curitiba para se apresentar e grupos contra o estupro já se organizam para protestar. Ontem, depois da polêmica, o Comitê Olímpico Internacional excluiu o cantor da condução da tocha olímpica. 
 
Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa