Em relação a costumes, alinho-me com a liberdade de ser, de estar, de exprimir-se. É deste lado que me encontro, e no oposto ao dos tabus e das caretices, notadamente de matriz religiosa. Igualdade de gênero, cultura do corpo livre, nudez natural, homoafetividade, poliamor, liberdade, adiro-lhes. Machismo, violência, pudor (vergonha do corpo), gimnofobia (recusa da nudez), misofalia (recusa da exposição do pênis), homofobia, desigualdade de gênero, antagonizo-lhes.
Comprazo-me em narrar certas cenas a que assisto ou que protagonizo, como sinal dos tempos, para ensinança dos meus coevos e testemunho para os vindouros.
Apraz-me avaliar ações e reações dos partícipes do que narro e dos meus ouvintes. Considero expectável a compreensão dos de mente aberta e a reprovação dos caretas.
Deu-se, e narro: indivíduo calcorreava a rua Manoel Ribas na cidade de pior clima da Terra (Curitiba). Em sentido oposto apropinqüava-se rapaz, que o viu. Ao vê-lo, o rapaz exclamou:
-Que bonito !
O indivíduo, que fala com estranhos (cousa aberrante para curitibanos, gente mais estranha da Terra), respondeu-lhe, jovialmente:
-Oiiii ! Você também !
O rapaz aproximou-se dele e o beijou na boca, em público e sem mais cerimônias. O indivíduo deixou-se beijar, com aprazimento seu.
Narrei esta cena (por observação psicológica das reações dos ouvintes) a uma moça (Francine), que vibrou com a expressão, desinibida, do afeto em público; rapaz a quem a narrei (Felipe), sorriu largamente: ambos jovens de mente aberta. A moça ponderou-me que quem se sente incomodado, que cuide da sua vida (ao invés de se ocupar com a alheia, adiciono).
Narrasse eu a cena a velhos (geração em extinção) e (com exceções, suponho) a evangélicos de todas as idades (gente em proliferação), decerto repugnar-se-iam da impudicícia do beijador, da luxúria do beijado, da depravação dos costumes, da exposição pública; temeriam pelas crianças, pela desestruturação da família tradicional, pelo fim dos tempos; indignar-se-iam por ninguém ser obrigado a ver cenas que tais etc…
Cada um reage conforme a sua cosmovisão, o seu sistema de valores, os seus preconceitos, a sua religião ou a sua laicidade, a sua compreensão do humano ou os seus preconceitos anti-humanos.
Já exprimi por que lado optei: pelo da liberdade, e ao lado de que tipo de gente me posiciono: dos de mente aberta e libertários. Cuide cada um da sua boca ao invés de se preocupar com a alheia. E o rapaz que beijou, que beije mais!
Ocorreu em setembro de 2016 e o beijado fui eu.
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Arthur Virmond de Lacerda Neto
10 de outubro de 2016.