Ultimamente, vemos com frequência termos “gayzistas” ou “feminazi” usados contra grupos militantes de homossexuais e de feministas, sendo usados por quem discorda de seus posicionamentos, às vezes considerados “exagerados” de forma proposital. Pois foi exatamente o nazismo que aplicou uma desumanização em nome da sua supremacia para exterminar então judeus, homossexuais, negros, e quem fosse contra seu sistema repressor.
Os termos são ofensas, ainda mais quando vemos a comunidade gay sendo bombardeada principalmente por dois argumentos que, assim como a propaganda nazista, conseguem confundir e eliminar a cultura ou orgulho das populações perseguidas. Infelizmente, vemos até muitos gays reforçando estes pontos de vista mais do que conservadores, que têm como objetivo desmontar a mobilização ou união política daqueles contrários ao patriarcado, ou à heteronormatividade.
Vamos analisar cada estratégia usada para minar a resistência ao conservadorismo:
1 – Gay ok, mas militantes não.
Esse argumento de que os militantes são nocivos aos próprios gays, que eles são maus exemplos de gays, e usam verba pública para promover paradas, nada mais é do que jogar uns contra os outros. Fala-se que eles querem influenciar as crianças, o que ganha alto apelo popular. Ainda, que usam dinheiro público para promover orgias nas ruas com eventos com pessoas peladas e drogadas, o que reforça o estereótipo de promiscuidade que muitos gays lutam contra. Boa parte dos gays, por falta de identificação com os eventos, são contra as paradas e eles sabem disso, por isso atacam, ao invés de todos os gays, apenas aqueles que levantam bandeiras. Para completar, afirmam que militantes não querem direitos iguais mas provocar a maioria – insinuando que os militantes iniciarão uma guerra perdida. Como muitos homossexuais não entendem a importância de se lutar pelo direito de manifestação de afeto, ou mesmo não veem isso como importante, o discurso acaba ganhando terreno dentro e fora da comunidade em nome de uma paz insatisfatória aos LGBTs, pois não muda nada.
2 – Sem necessidade de aparecer
Ao minimizar a importância da orientação sexual para o indivíduo, a homossexualidade deixa de ser identidade, consequentemente deixa de ser defendida. Ou seja, não é preciso levantar bandeiras pois ser gay é apenas uma das características de uma pessoa e não a faz diferente. Este discurso vem forte na nova geração, que defende a sexualidade indefinida. Seria lindo em um mundo utópico mas contra o preconceito não fará a menor diferença. O conservador admite a discordância discreta, negocia seus privilégios, subjulgando o outro, e fazendo-o aceitar que seu direito “concedido” só será permitido se praticado na surdina, entre quatro paredes. E é exatamente isso que os conservadores querem: que os gays não aparentem ser gays, não falem em ser gay e, principalmente, sejam invisíveis. E caso não sejam, há o discurso de violência, casos de agressões, os exemplos vemos todos os dias: é a sociedade mandando o recado de que é melhor desistir.
O desmonte de uma cultura e noção de comunidade são práticas já conhecidas na História. Para conter rebeliões, ataca-se as lideranças, espalha-se boatos sobre sua índole e caráter, o criminaliza. Para conquistar, antes é preciso dividir, já diziam os especialistas em guerra da Antiguidade. E nada mais eficaz do que destruir a cultura de um povo para submetê-lo a uma nova ideologia, como vimos os europeus fazerem por todo o globo.
Não estamos em paz, não queremos guerra, queremos apenas respeito e direitos iguais. E só conseguiremos com uma comunidade unida, articulada e ciente de quem é o real inimigo e que ele espreita e é ardiloso. Eles contam com políticos, canais de mídia, sistema de educação, religiões, tudo para difundir a ideia de que homossexuais assumidos serão aceitados desde que não questionem por direitos ou a superioridade heterossexual, e usam até o criacionismo para justificar isso. A homofobia, infelizmente, é um crime organizado.