O músico e compositor Eduardo Baggio, de 33 anos, fez uma importante reflexão em seu perfil do Facebook ao assumir sua bissexualidade no dia 8 de maio. O assunto é urgente nos tempos em que esse público da comunidade LGBT é comumente invisibilizado e associado aos estigmas que deslegitimam essa luta.
Baggio decidiu explanar o assunto nas redes sociais justamente pela falta de debate sobre isso e contribuiu com um ato político e de conscientização. Filho de uma família tradicional no que tange aos assuntos de gênero e sexualidade, o músico viu na naturalidade da mãe em lidar com as diferenças a brecha para se descobrir. “Quando eu tinha 12 anos, ela me contou que gostou de ver dois garotos se beijando na rua”, revelou para a Lado A.
A fase da adolescência, cheia de descobertas e sensações para tantos jovens, não foi diferente para Baggio. Aos 16 anos teve sua primeira relação sexual com uma garota, e aos 19, com um amigo. “Tive diversas outras experiências depois dessas, sempre namorando garotas e admirando garotos secretamente.”.
O processo de aceitação começou a se consolidar depois de 2010. Com as lutas LGBT cada vez mais frequentes, Eduardo comentava com poucos amigos e com suas namoradas seu desejos que também incluíam outros homens. A naturalidade com que seu círculo social lidava com essas questões fez com que o compositor perdesse aos poucos o medo do preconceito por se relacionar com outros homens.
O texto no Facebook, para Baggio, foi mais do que uma relevação, mas um protesto. O ato foi como uma forma de conscientização, de promover o debate sobre o assunto para derrubar estereótipos e promover a representatividade, contribuindo para o fim do invisibilidade. “Eu também queria rebater mitos a respeito de pessoas como eu, coisas do tipo: bissexuais transam com qualquer um; são gays enrustidos; traem suas namoradas com outros homens; dão em cima de seus amigos heterossexuais etc.”.
O ano de 2018 também foi a vez de contar para a família sobre a sua sexualidade. Como a grande maioria das pessoas LGBT, Eduardo enfrentou dificuldades. Apesar da aceitação dos familiares, com a prévia desconfiança da mãe com relação à sexualidade do filho, o músico temia outra reação e chegou perto de, mais uma vez, adiar a conversa. “Confesso que já vinha pensando em me abrir havia meses, mas o momento em que finalmente encarei meus pais e disse a minha verdade foi, admito, um impulso. Se eu pensasse demais, hesitaria. E quando eu de fato me abri, todos aceitaram bem, apenas com algum susto.”
“Acima de tudo, sair do armário foi ato de amor próprio, de amor pelo mundo LGBTQ+, de coragem, e acima de tudo um ato político. Sempre acreditei em todas as formas de amor e cada vez mais me sentia sufocado em esconder a minha. Foi o momento de viver a minha verdade perante o mundo, para sempre. Espero que com isso eu motive outras pessoas a buscarem suas identidades sexuais e a apresentá-las ao mundo sem medo, e sem preconceito. E como dizia nosso querido poeta curitibano Paulo Leminski, ‘essa coisa de ser quem somos ainda vai nos levar mais longe.”, concluiu.
Confira o texto da postagem de Eduardo Baggio.
“Minha família já sabe, então é hora de tornar público.
Gostaria que todos soubessem que sou BISSEXUAL. =)
Considero importante sair do armário pois quero viver a minha verdade, do meu jeito, e de peito aberto. Além disso, sei que há muito preconceito. Todos nós, pessoas do grupo LGBTQ+, precisamos levantar nossa bandeira, respeitar a todos e exigir respeito. Sei também que há muita gente como eu, então por isso quero encorajar a todos a se aceitarem e terem orgulho de si mesmos. Toda forma de amor vale a pena, e sempre valerá.
Como eu já imagino, muitas coisas erradas passam pela cabeça das pessoas ao conhecer um bissexual. Então criei aqui um diálogo fictício onde uma pessoa heterossexual me faz as várias perguntas que já me perguntaram inúmeras vezes. Vamos lá?
Será que você não é um gay enrustido, Edu?
– Não, eu sou bi.
Mas será que você não vai virar gay ou hetero algum dia?
– Não, eu serei sempre bi.
Você deve gostar de suruba, né?
– Não gosto de suruba. Mas respeito quem gosta.
Você já transou com algum homem?
– Sim.
Eu nunca te vi com outro homem, então você não é bi…
– Eu também nunca te vi tomar banho, mas tenho certeza de que você toma.
Quando você namora uma garota, você tem vontade de pegar outros caras?
– Eu sou bissexual, e não infiel.
Você namoraria uma mulher e um homem ao mesmo tempo?
– Não, namoro apenas uma pessoa por vez.
Suas namoradas e namorados sabem que você é bi?
– Todas e todos sempre souberam.
Você dá em cima dos seus amigos homens?
– Não.
Se eu sou eu amigo, e sou hetero, você vai dar em cima de mim?
– Não.
E se um amigo seu for gay, você vai dar em cima dele?
– Se eu e ele estivermos solteiros e rolar interesse mútuo, sim.
Então você fica com qualquer pessoa?
– Não. Fico somente com pessoas por quem eu me interesse.
Quando você percebeu que era bi?
– O conceito em si eu só aprendi depois de adulto, mas sempre fui bi.
Quando foi sua primeira experiência com alguém do mesmo sexo?
– Afetivamente, quando pequeno. Intimamente, na adolescência.
Bissexuais não fazem parte do grupo LGBTQ+, né?
– Reveja a sigla: Lésbicas, Gays, BISSEXUAIS, Trans, Queer e mais.
Ah, mas pra mim, ou você gosta de homem, ou você gosta de mulher. Não tem essa de gostar dos dois…
– Conheça melhor as pessoas.
Obrigado a todos. Que o mundo seja cada vez mais verdadeiro, aberto, respeitoso e repleto de amor. <3
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