Redação Lado A | 13 de Junho, 2018 | 20h14m |
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Uma pesquisa publicada pela revista Medicine apresenta novos dados sobre HIV. O estudo foi encomendado pelo Ministério da Saúde e comandado pela Universidade Federal do Ceará, sob a supervisão da professora doutora Ligia Kerr. Ao todo, foram entrevistados 4176 homens que fazem sexo com outros homens (HSH), residentes em doze cidades do Brasil.
Os municípios de Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Campo Grande, Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre foram analisados. A metodologia da pesquisa utilizou o Respondent Driven Sampling (RDS), uma estratégia que recruta participantes através de outros. Alguns entrevistados foram selecionados e chamados pelos pesquisadores de “sementes”. Após participarem da pesquisa, foram orientados a indicar outros homens com quem tiveram contato sexual ou não e que fazem sexo com outros homens. Sucessivamente, esse método permitiu reunir cada vez mais entrevistados que atendessem aos requisitos do estudo.
Os participantes foram submetidos à testes iniciais de HIV. Em caso positivo do primeiro teste, um segundo experimento foi feito para comprovar a presença do vírus. Todos os entrevistados que foram diagnosticados com HIV foram imediatamente encaminhados para fazer tratamento nos órgãos de saúde especializados. Uma estimativa foi considerada para os participantes que se recusaram a fazer o teste, mas afirmaram que são portadores do vírus e que fazem tratamento.
A pesquisa foi realizada entre 23 de junho de 2016 até 2 de dezembro do mesmo ano. O objetivo foi de analisar uma amostra com 350 pessoas em cada cidade. A maioria dos participantes eram jovens com menos de 25 anos de idade. Um outro indicativo interessante é que uma boa parte dos entrevistados eram de classe média e minimamente com o ensino médio completo.
Dos 4176 entrevistados, um total de 3958, ou 92%, concordaram em fazer o teste de HIV. As cidades que não atingiram a meta de amostragem, de 350 pessoas, foram Rio de Janeiro e Porto Alegre. Nesse municípios a taxa de entrevistados soropositivos foi de 15,3% e 10,5%, respectivamente.
A maior média ficou com 24,8% para São Paulo, seguido de Recife com 21,5% e Curitiba, com a terceira maior taxa da pesquisa, 20,2% de prevalência do HIV na comunidade de homens que fazem sexo com homens (HSH) . Belém apresentou resultados de 19,2%, Manaus com 15,1% e Belo Horizonte com 14,5%.
As menores porcentagens são das cidades de Fortaleza, com taxa de 10%; Campo Grande, com 9,5%; 8,6% em Salvador e 5,8% em Brasília.
Essa pesquisa, realizada em 2016, cita um outro estudo sobre o mesmo tema realizada no ano de 2009. Os números da pesquisa atual representam que, ao todo, um em cada cinco homens que fazem sexo com homens (HSH) possuem HIV. Isso representa uma porcentagem de 18,4% de resultados positivos para o HIV. Na pesquisa realizada em 2009, o resultado total foi de 12,1% . O método considera um logaritmo que calcula o resultado final de acordo com a influência que cada participante exerce.
Esse salto nos resultados na a pesquisa de 2016 tem uma explicação para a professora Ligia Kerr. A pesquisa argumenta que nos últimos anos o Brasil perdeu incentivo às campanhas de conscientização. Várias organizações não-governamentais destinadas ao apoio de pessoas com HIV no país foram fechadas por falta de recursos financeiros.
Uma outra situação é o conservadorismo crescente no Brasil. As representações políticas atuais não permitem as discussões no âmbito social sobre educação sexual. Esse contexto representa um empecilho que atrasa as iniciativas de conscientização e prevenção. Os obstáculos discutir sobre gênero e sexualidade nas escolas é um exemplo do que aumenta os casos de HIV.
Por outro lado, as atuais alternativas de tratamento que permitem ao portador do vírus de HIV levar uma vida normal, também são consideradas um motivo para o aumento dos casos. A pesquisa revela que a frase mais ouvida entre os participantes foi “AIDS não me assusta mais”. A explicação para isso seria de que a nova geração não teve contato com a epidemia de AIDS de décadas atrás. O que antes levava à morte em poucos meses, hoje conta com o avanço da medicina. Com os tratamentos antirretrovirais e alternativas de prevenção como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) os jovens esperam que, caso contraiam o vírus HIV, possam levar um vida normal sem risco de morte.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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