Pajubá: dialeto de gays e travestis é abordado em questão do ENEM

Dentre as questões sobre Direitos Humanos e democracia que caíram na edição de 2018 do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), uma delas chamou a atenção e agitou as redes sociais. Com base em um reportagem do site Midia Mix, a questão 14 abordou a linguagem usada por gays e travestis.

O pajubá, linguagem que tem base em conceitos de origem africana, se tornou popular no dialeto da comunidade LGBT. Palavras como “picumã”, “amapô” e “acué” foram citadas em uma questão da prova de linguagens aplicada neste domingo, 4 de novembro.

A questão levou para os estudantes do ENEM a reportagem intitulada “Acuenda o pajubá: Conheça o ‘dialeto secreto’ utilizado por gays e travestis”. Segundo a matéria, o pajubá começou a ser usado como linguagem secreta. Por outro lado, nos dias atuais, o dialeto virou um símbolo de representatividade entre gays e travestis.

A matéria se refere ainda ao “Aurélia, o dicionário da língua afiada”. A obra foi lançada no em 2006 pelo jornalista Vitor Angelo Scippe e Fred Libi. Muito popular na internet, o pajubá não precisa ser consultado no dicionário. Aliás, o livro é raro de se encontrar nas livrarias porque esgotou logo no início do lançamento.

História

Embora muito difundido atualmente através da internet, o pajubá tem um contexto histórico muito interessante. Existe uma relação entre o surgimento do pajubá como linguagem baseada em religiões e ritos de matriz africana. O iorubá, língua dominante de muitos negros escravizados, está ligado ao surgimento do pajubá desde a época da colonização. A linguagem ainda tem origem no surgimento de religiões africanas misturadas com elementos do cristianismo.

O iorubá, no entanto, em sua originalidade não admite flexão de gênero. Por outro lado, dentro da tradição da religião africana do candomblé, é permitido essa alternância entre masculino e feminino. Por isso, nos terreiros da religião, foi o local onde o pajubá se popularizou.

Mestrado

Abordado no ENEM com estudantes que desejam iniciar a vida acadêmica, o pajubá já está nas produções científicas há algum tempo. Dentre as diversas produções da temática LGBT, o pajubá foi tema de uma dissertação de mestrado. Em 2017, Renato Régis Barroso, de Manaus, apresentou seu trabalho intitulado“Pajubá: o código linguístico da comunidade LGBT”.

Em sua pesquisa realizada por meio virtual e presencial com pessoas entre 18 a 63 anos, ele estabeleceu o pajubá como uma linguagem de resistência. Tal como a reportagem da Midia Mix abordou, Barroso também concluiu, através do viés antropológico, que o pajubá é uma linguagem da identidade e orgulho da comunidade LGBT e ainda contribui como arma contra a LGBTfobia.

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa