Projeto Escola Sem Homofobia era para o Ensino Médio, comprova documento

Redação Lado A 05 de Novembro, 2018 11h50m

“Uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade” diz a frase atribuída Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista. Nos tempos atuais no Brasil, a mentira repetida incansavelmente por conservadores e Jair Bolsonaro (PSL) foi a de que as escolas públicas teriam recebido um material chamado por eles de “Kit Gay”. Na verdade, a mentira se refere ao Projeto Escola Sem Homofobia. O material não chegou a ser aprovado e muito menos distribuído nos estabelecimentos de ensino.

A principal argumentação, foi a de que o “Kit Gay” estaria sendo distribuído nas escolas como forma de colocar as crianças em contato com questões sexuais. Além disso, os conservadores e Jair Bolsonaro criaram um terrorismo sobre o inexistente “Kit Gay”. Em suas palavras, as crianças aprenderiam cedo sobre sexo e a entender a homossexualidade como normal.

O Brasil é um dos países que mais mata por LGBTfobia do mundo. Em 2004, para conter a onda de violência, o governo lançou o projeto “Escola Sem Homofobia”. O material seria sim distribuído nas escolas, mas para professores e demais educadores. O Escola Sem Homofobia visava a distribuição de material para o Ensino Médio, com conteúdos próprios para a idade. Com cartilhas e vídeos informativos, o material visava desconstruir o preconceito dentro das escolas para evitar o bullying e formar adultos conscientes e cidadãos respeitosos com as diferenças.

O caderno Escola Sem Homofobia foi desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com organizações de defesa dos direitos LGBT. Prestes a ser lançado, em 2011, o material foi vetado pelo governo devido à pressão de conservadores. O material, por sua vez, continha apenas instruções através de audiovisual e fundamentos teóricos para respeitas as diferenças.

As fake news

Uma das principais críticas contra o Escola Sem Homofobia era sobre o público para o qual o material seria destinado. Durante as campanhas presidenciais em 2018, Bolsonaro apresentou em rede nacional um livro que seria o chamado “Kit Gay”. A obra “Aparelho Sexual e Cia”, da autora francesa Hélène Bruller, que ensina sexualidade para as crianças de forma lúdica, foi usada pelo candidato. Durante a transmissão, Bolsonaro disse que aquele seria o “kit Gay”, informação inverídica, mas que aumentou ainda mais a polêmica.

A crítica de Bolsonaro não deixou de ser uma grande estratégia política. Com a maioria de eleitores adeptos aos seus discursos contra minorias, o candidato conseguiu ainda mais adesão com a mentira. Bolsonaro ainda associou a criação do “kit gay” ao seu  adversário Fernando Haddad (PT). O candidato é do mesmo partido do governo vigente quando da criação do Escola Sem Homofobia. Por outro lado, esse mesmo governo cedeu às pressões e vetou o projeto em 2011.

É mentira que Fernando Haddad (PT) seria o criador do “kit Gay”. Na realidade o candidato somente ocupou o cargo de Ministro da Educação em 2005, um ano após o início do projeto. No entanto, as verdadeiras informações sobre o Escola Sem Homofobia não foram tão aceitas quanto as mentiras. Uma pesquisa realizada após o período eleitoral pela Ideia Big Data/Avaaz, demonstrou que 83,7% dos eleitores de Jair Bolsonaro acreditam na existência de kit Gay. O estudo demonstrou ainda que eles associam a criação do projeto a Fernando Haddad (PT). A pesquisa ainda aponta que 74,6% dos eleitores de Bolsonaro acreditam que Haddad estaria envolvido com incesto e pedofilia. A informação, lançada a poucos dias das eleições, foi imediatamente desmentida.

Ensino Médio

Segundo Jair Bolsonaro, frentes conservadoras e o próprio eleitorado que espalhou a mentira com convicção, o material do “Kit Gay” seria destinado às crianças de 6 anos. O boato ainda aumentava as possíveis consequências da distribuição do material. A alegação é de que as crianças seriam “ensinadas a serem homossexuais” e ainda considerariam a comunidade LGBT com “normalidade”.

Por outro lado, a verdadeira informação é a de que o Escola Sem Homofobia seria para o Ensino Médio. Ainda assim, o material foi desenvolvido de acordo com a faixa etária de seu público. Um documento do Ministério Público em resposta à um ofício enviado em 2011 por Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABLGBT), comprova que o material seria destinado ao Ensino Médio. Além disso, inicialmente, o Escola Sem Homofobia foi formulado para os educadores. Por isso, não seria distribuído diretamente aos alunos. A única exceção são textos e vídeos do material que poderiam ser exibidos aos estudantes. Essa era uma sugestão para os educadores debaterem gênero e sexualidade na sala de aula.

 

 

 

 

 

 

 

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


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