Redação Lado A | 12 de Janeiro, 2019 | 12h08m |
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Uma pesquisa americana avaliou os índices de suicídio entre adolescentes no período de 2012 a 2015. Os resultados mostraram que o recorde de casos de suicídio está entre os homens trans. O estudo é intitulado “Comportamento Suicida do Adolescente Transgênero” e foi liderado pelo professor Russell B. Toomey, da Universidade do Arizona, nos EUA.
Publicado na revista Pediatrics, o estudo foi realizado durante 36 meses. As categorias analisadas foram compostas por pessoas do gênero feminino, masculino e homens e mulheres trans com idades entre 11 e 19 anos. No geral, segundo estudo do Centro Americano de Controle e Prevenção de Doenças, as taxas de suicídio vem crescendo muito nos EUA. A pesquisa mostra que nos últimos 17 anos as taxas de suicídio aumentaram 30% no país.
Com relação aos homens trans, a pesquisa do professor Russel mostrou que, dentre esses números de suicídio, esse grupo está em destaque. Isso porque o número de homens trans que se suicidam passou os números dos outros grupos estudados, chegando a mais de 50%. Enquanto isso, pessoas não binárias representam 41,8% das taxas de suicídio. Mulheres trans atingiram 29,9%.
No Brasil, os números são ainda mais alarmantes. O relatório “Projeto Transexualidades e Saúde Pública No Brasil: entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens trans” mostrou que o número de suicídios entre essa população no Brasil é muito alto. Além disso, essas pessoas deixam de procurar serviços de saúde por medo da transfobia.
O estudo foi realizado pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo dados do relatório, 28,6% dos homens trans já pensaram em suicídio. O grupo que declarou já ter tentado suicídio corresponde a 25%. Juntando os dados de pessoas que pensam ocasionalmente em suicídio, 28,6%, com os 25% que já pensaram mas não pensam mais e o restante dos dados, o resultado é que 85,7% dos homens trans já pensaram em suicídio ou tentaram cometer. Apenas 10,7% informaram que nunca consideraram o ato.
Os serviços de saúde que poderiam prestar apoio para os homens trans, no entanto, não são tão acessíveis. Isso porque essa população teme pela transfobia, devido às experiência preconceituosas que passaram ao procurar atendimento médico. A pesquisa da UFMG mostrou que 50% dos homens trans não procuram o serviço médico. Um dos motivos é o medo de sofrer violência ou constrangimento. Outros 30% relataram que, devido ao desrespeito do nome social, não foram atrás de atendimento médico. Por já terem sofrido transfobia no atendimento médico, 23,08% declararam não mais voltar aos consultórios.
De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) existe um mito sobre os motivos pelos quais as pessoas trans cometem suicídio. O imaginário social aponta que essa população tira a própria vida por serem trans. Além disso, culpam o raro arrependimento de mudanças realizadas no corpo.
No entanto, essa concepção é totalmente insustentável. Diante dos altos índices de violência no Brasil, onde segundo estatísticas temos os maiores números de mortes e violência contra LGBTs, fica claro que as causas são outras. O contexto social de exclusão é muito incisivo nas motivações de suicídio. A privação econômica devido à dificuldade de encontrar trabalhos formais, privação educacional e familiar também são muito mais influenciadores de práticas suicidas.
Outros aspecto é que a população trans precisa ser melhor assistida pelo viés da saúde pública. Para a Antra, falta um maior diálogo, estudos e esforços por profissionais qualificados para atender e compreender a população trans. Além disso, iniciativas de tratamento da saúde mental precisam de mais investimento para prevenção e diminuição dos índices de suicídio.
O Centro de Valorização da Vida presta serviço gratuito de prevenção de suicídio através de apoio emocional. O serviço está disponível pela internet ou telefone, 24 horas por dia. Basta acessar o site ou discar 188.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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