Jean Wyllys renuncia ao mandato e deixará o Brasil após ameaças

Redação Lado A 24 de Janeiro, 2019 18h13m

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Após sofrer inúmeras ameaças de seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) anunciou que vai deixar o mandato. O deputado ainda declarou que vai permanecer fora do Brasil, onde está em viagem. O comunicado foi feito pela assessoria de comunicação de Jean Wyllys e através de um post do deputado nas redes sociais.

Do mesmo partido de Marielle Franco, assassinada em março de 2018, Jean Wyllys vem recebendo inúmeras ameaças desde antes do período eleitoral. Por ser o único parlamentar assumidamente gay do Congresso Nacional, as perseguições se intensificaram. Além disso, Wyllys faz parte da oposição ferrenha contra o novo governo neoliberal de Jair Bolsonaro.

De acordo com as últimas notícias veiculadas pela mídia nacional, Flávio Bolsonaro (PSL), o filho do presidente, estaria envolvido com milícias. O que ajudou na decisão de Wyllys em deixar o mandato, conquistado com mais de 24 mil votos, foi a associação de Flávio com o assassinato de sua colega Marielle Franco. Além de Wyllys, outros parlamentares estão sofrendo ameaças e correm risco de vida, como o deputado federal Marcelo Freixo, também do PSOL.

A família Bolsonaro, por sua vez, já está comemorando a saída de Jean Wyllys do Brasil. “Vá com Deus”, disse Carlos Bolsonaro no Twitter. “Grande dia”, postou Jair Bolsonaro no mesmo site. Outras personalidades de direita como a deputada Cristine Brasil também comemoram a saída de Jean.

“Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios!”, publicou Jean através de nota no Facebook. Wyllys disse ainda que não conseguiria exercer seu trabalho em meio à tantas ameaças e privação de liberdade que a sua segurança exige.

Ameaças

Em outubro de 2018, em meio às campanhas eleitorais, Wyllys pediu medidas protetivas para a Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH). Um mês depois o órgão comunicou que exigiria que o Estado tomasse providências para proteger o deputado. Além disso, a CIDH declarou que iria pedir maior afinco mas investigações sobre a morte de Marielle Franco.

Sobre a necessidade de proteção do Estado, Jean Wyllys contou sobre sua rotina sendo vítima de constantes ameaças e LGBTfobia. Nas redes sociais, inclusive, seguidores de Bolsonaro comemoraram a saída do deputado com postagens homofóbicas e preconceituosas.

Jean Wyllys disse que vive sob escolta e cercado de seguranças. Além disso, precisa andar em carros blindados. O deputado também não pode sair de casa se não for para cumprir seus compromissos de trabalho. Em meio a tanta tensão e temendo pela própria vida, Wyllys decidiu largar o mandato e viver fora do Brasil. Sua atuação como parlamentar e ativista LGBT+ ficou completamente comprometida devido às ameaças e a limitação de sua liberdade individual.

Desde que Jean divulgou as ameaças, Bolsonaro demonstrou indiferença sobre o assunto. Em nota, a assessoria de comunicação do presidente disse que Jean Wyllys faz acusações infundadas e que não foi o deputado quem levou uma facada em setembro de 2018. As declarações da assessoria de Bolsonaro foram divulgadas logo após a publicação do comunicado da CIDH sobre a necessidade de proteção para Wyllys.

Substituto

A saída de Jean Wyllys, sem dúvida, é uma perda lastimável para a representatividade LGBT+ dentro da política. Por outro lado, o seu substituto é igualmente defensor dos Direitos Humanos e das pautas LGBT+. O suplente David Miranda (PSOL-RJ) se intitula “preto, favelado e LGBT”.

David Miranda também é jornalista e defensor LGBT, assim como Wyllys. Ele também era amigo da vereadora Marielle Franco e faz oposição ferrenha contra o governo de Jair Bolsonaro. Nascido na favela do Jacarezinho, no rio de Janeiro, David também sempre esteve dentro da luta do movimento negro.

Em 2016, David foi o primeiro vereador gay eleito no Rio de Janeiro. Dentre as suas propostas estão as pautas de Direitos Humanos como direitos das mulheres, negros, LGBT e trabalhadores da educação. Além disso, David também defende a proteção dos animais.

“Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília.”, postou David no Twitter em resposta a publicação de Jair Bolsonaro que comemorava a saída de Jean Wyllys.

 

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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