Campanha de prevenção de IST no Carnaval é heteronormativa, dizem ativistas LGBTI+

Redação Lado A 25 de Fevereiro, 2019 18h04m

Ativistas LGBT+ denunciaram a nova campanha sobre o uso de camisinha no Carnaval como heteronormativa. O material foi escolhido pelo ministro do Ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e não contém menção aos homossexuais. Além disso, transexuais e travestis também não são mencionados na campanha.

De acordo com o Ministério da Saúde, o objetivo do novo material é uma abordagem mais séria do assunto prevenção. Diferente das outras campanhas, o material gráfico possui um viés mais sóbrio, sem o clima festivo. Com relação aos LGBTs, a campanha não abordou esse grupo sob a justificativa de ser um material mais “genérico”.

Ainda de acordo com o ministro Luiz Henrique Mandetta, a campanha de prevenção é direcionada ao público masculino. O ministro disse que o direcionamento da nova campanha independe de orientação sexual. A justificativa do ministério é de que a 73% dos casos de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) aconteceram entre homens. Mais especificamente, 75% dos casos de infecções se manifestaram em homens de 15 a 39 anos. Mesmo com as estatísticas, a campanha continua ignorando o público gay, considerado por muitas pesquisas como principal grupo vulnerável.

No início de 2019, o Ministério da Saúde, sob o novo governo, retirou também uma cartilha sobre saúde de homens trans. No material, continha informações de extrema importância sobre as infecções sexualmente transmissíveis. Além disso, a cartilha teria saído do ar por apresentar o “pump”, objeto comumente usado por homens trans para aumentar o clitóris. A cartilha voltou ao ar, porém, no mesmo tom “sóbrio” e sem ilustrações “polêmicas”.

Casos de infecção

Apesar de a nova campanha de Carnaval ser genérica sob o argumento de que há um número grande de homens que contraíram IST, outras estatísticas apontam a necessidade de conscientização para o público LGBT+. O próprio Ministério da Saúde já divulgou que 53,6% dos novos registros sobre HIV se manifestaram entre homossexuais. Esse número pode estar incluso nos 73 a 75% de homens que contraíram IST, conforme aponta o Ministério da Saúde para justificar a nova campanha.

Por outro lado, não se pode ignorar a importância de incluir a comunidade LGBT nos meios de conscientização e prevenção. De acordo com os ativistas, a nova campanha heteronormativa de prevenção durante o Carnaval é um retrocesso. Para Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBT, a população LGBTI+ é um público chave para as campanhas contra IST/AIDS. “Campanhas discretas geralmente não funcionam, são apenas um desperdício de recursos.”, disse.

Jaqueline Cortes, do Movimento Nacional Cidadãs Posithivas, também opinou. De acordo com a ativista, a medida é reflexo de um novo governo conservador e machista. Jaqueline considera ainda que os homens são os que mais se recusam a usar preservativo, especialmente sob o uso de álcool durante as festas de Carnaval.

Outro ativista também concordou com o posicionamento de Jaqueline. De acordo com José Araújo, do Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada, a nova campanha é conservadora. O ativista aponta que o Brasil já foi referência no mundo todo com campanhas inclusivas sobre o uso de preservativos e prevenção.

O editor da Lado A, o jornalista e ativista Allan Johan, aponta que a música tema é ainda heteronormativa, ao abordar um homem cantando sobre uma mulher que conheceu em um aplicativo.

O Ministério da Saúde convidou ainda o cantor Gabriel Diniz, dono do hit “Jenifer”, para promover a campanha. O artista faz muito sucesso com o público heterossexual e canta o gênero sertanejo. No site da campanha intitulada “Pare, use e pense”, há um vídeo do cantor alertando outros homens sobre o uso do preservativo.

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