Estreou no circuito comercial do país este mês o filme Alice Júnior, dirigido pelo paranaense Gil Baroni. Além de circuitos de drive in pelo país, o filme que teve sua estreia comercial adiada devido a pandemia de Covid 19, entrou nas plataformas de compra de conteúdo Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes, Now, Youtube Play e Looke nesta sexta-feira.
Alice Júnior é uma youtuber trans cercada de liberdades e mimos. Depois de se mudar com o pai para uma pequena cidade onde a escola parece ter parado no tempo, a jovem precisa sobreviver ao ensino médio e ao preconceito para conquistar seu maior desejo: dar o primeiro beijo. O roteiro simples ganha poder com a visão sensível da abordagem que tem agradado os críticos.
“O primeiro beijo é algo tão bonito e simples, uma conquista de todo ser humano quando passa pela jornada de maturação e começa a compreender sua independência e importância no mundo. Parece fácil contar a história do primeiro beijo na adolescência. No entanto, a complexidade nasce quando esse primeiro beijo acontece com um corpo trans. Isso porque o Brasil carrega uma vergonhosa estatística: é o país que mais mata transexuais no mundo e a expectativa de vida de uma pessoa trans é 35 anos. Alice é trans e sua existência é sinônimo de resistência”, explica Baroni.
A protagonista é interpretada pela atriz trans Anne Celestino Mota. A produção fez uma chamada de casting em uma rede social e várias pessoas se candidataram, inclusive Anne. A atriz, nativa de Recife, visitou a equipe em Curitiba e após várias conversas não só ganhou o papel de Alice como contribuiu com várias mudanças na escrita do roteiro, pois a equipe entendeu que a história deveria ser contada a partir do seu olhar, da sua militância, suas experiências e que seu lugar de fala deveria ser respeitado.
“O filme traz uma personagem trans para o protagonismo da história. Como contar essa história sendo coerente com a realidade de um país transfóbico, mas ao mesmo tempo como fazer com que essa personagem tivesse força para representar a coragem, a superação e a vitória? Esse foi o maior desafio. Fazer um filme que falasse sobre todas essas questões com verossimilhança. E para isso eu estava sempre ouvindo e antenado com a Anne, que nos ensinava muitas questões sobre o universo trans”, conta o diretor.
Ser trans no Brasil é um ato de resistência. Alice é uma mulher trans e portanto seu corpo é político e questiona o padrão imposto. Ela não se esconde, se expõe através da internet, do seu vlog, não teme a câmera e diz o que pensa sobre o mundo. Selfies, vlogs, lives são meios de expressão e resistência. Alice é mulher trans que resiste através da construção de sua imagem. Imagem. Identidade. Fortaleza! Alice é agente de TransFormação.
“Gostaríamos que a história de Alice Júnior tocasse os corações do mundo e sensibilizasse as pessoas que ainda não compreenderam a beleza da diversidade de cada ser humano. Desejamos que o filme seja um estímulo para as pessoas que estão descobrindo a relevância de seus corpos tal como são (e não como querem que sejam: corpos dóceis). E queremos que o filme seja inspiração para os que continuam resistindo e quebrando paradigmas tóxicos à humanidade”, conclui Baroni.
“Alice Júnior” integrou a seleção da Mostra Generation no Festival de Berlim 2020, recebeu os prêmios de Melhor Atriz para Anne Mota no Festival de Brasília (Anne foi a primeira atriz trans a receber o prêmio), Melhor Atriz Coadjuvante para Thaís Schier, Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora. Recebeu o prêmio de Melhor Filme da Mostra Geração pelo voto popular no Festival do Rio, Melhor Filme pelo voto popular e pelo júri no Festival Mix Brasil. O filme tem circulado com sucesso em festivais internacionais e recebeu o prêmio do júri no Festival Norte-Americano aGLIFF e integra a seleção do OUTFEST, considerado o maior Festival com temática LGBTQIA+ do mundo.
Ficha técnica:
87 min | 2019 | Cor | PR | CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos
Direção: Gil Baroni, elenco: Anne Celestino Mota, Emmanuel Rosset, Matheus Moura, Surya Amitrano, Thais Schier, Igor Augustho, Gustavo Piaskoski, Kátia Horn, Cida Rolim, Marcel Szymanski.