Protesto no interior chama atenção à dificuldade de acesso a hormonioterapia

A ativista transfeminista Renata Borges fez um ato em frente à casa do secretario de Saúde do Paraná, Beto Preto, em Apucarana, neste domingo, para chamar atenção à situação das pessoas trans no interior. Segundo a ativista, que foi candidata a deputada federal e vereadora nas últimas duas eleições, o acesso das pessoas trans aos hormônios e bloqueadores no interior do estado é cruel. De vestido preto escrito “vidas trans também importam” em branco, Renata performou em live transmitida pela internet.

Com bandeira trans, som e performance com líquido simulando sangue, Renata chamou atenção na tarde desse domingo para o que chama de burocratização e falta de acesso ao processo transexualizador no estado. Segundo ela, o serviço é centralizado na capital e apesar do acesso ao serviço ser descentralizado nas unidades de saúde no interior, a distribuição dos hormônios e bloqueadores também fica na capital. A centralização é uma realidade em todos os estados do país e é uma demanda nacional das pessoas trans que moram no interior.

Curitiba conta com o serviço de referência CPATT (Centro de Pesquisa e Atendimento para Travestis e Transexuais) desde 2013, criado pelo Governo do Estado. O centro tem vagas para pessoas da capital e do interior e já atendeu mais de 800 pessoas, metade delas ainda com vínculo para o tratamento e acompanhamento multidisciplinar com psicologia, psiquiatria, endocrinologia, entre outros. O serviço segue o protocolo nacional do Ministério da Saúde, que exige credenciamento prévio para os repasses, o que causa essa dificuldade de implementação do serviço.

No interior, as trans ouvidas pela Lado A afirmam que o acesso ao CPATT é demorado, gera custos e há muita desinformação para conseguir o encaminhamento. Elas se sentem negligenciadas e forçadas a se hormonizar sem acompanhamento médico, mesmo sabendo dos riscos.

A proposta de Renata é que sejam criados outros CPATT no interior ou que os hormônios e bloqueadores cheguem até as pessoas trans por meio da central de distribuição do Estado para as farmácias regionais.

“É um tratamento muito simples, mas eles burocratizam demais. Nas 399 cidades do Estado, é centralizado apenas em Curitiba. Eles querem que a gente utilize o TFD (Tratamento Fora do Domicílio), mas é algo muito simples. Se não for fazer para todas as cidades, manda esse hormônio para as 22 Regionais de Saúde e as prefeituras buscam para as cidades”, sugere Renata.

Após o protesto, a Secretaria de Saúde do Paraná divulgou matéria em seu site e afirma que ampliará até o final do ano em 50% a estrutura do CPATT, na futura nova sede em anexo do Hospital de Infectologia e Retaguarda Clínica Oswaldo Cruz (HIRC). Com isso, a secretaria espera reduzir a fila de espera ao serviço que demora anos para se conseguir uma vaga.

A questão é longa e complicada. O Transgrupo Marcela Prado, de Curitiba, é contrário a mudança de sede do CPATT para o Hospital Oswaldo Cruz, referência em HIV, por conta da estigmatização da comunidade trans. Até hoje, o Paraná encaminhou poucas pessoas à cirurgia de redesignação sexual e não conta com um hospital para realizar o procedimento. A questão é discutida desde 2013, principalmente, quando foi criado o CPATT e foi criada uma grande expectativa quanto ao serviço. A verdade é que o CPATT, nos últimos anos, tem perdido importância e eficiência, por falta de investimento e interesse político. Desde 2016, com a saída da coordenadora Carla Amaral, a comunidade tem cobrado quanto a retomada da qualidade do serviço. Estima-se que mais de 1000 pessoas esperam por atendimento na fila do CPATT.

Confira o protesto:



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