Gays tentam, desde cedo, provar que são melhores do que os héteros, o que causa uma grande crise existencial. Quantas vezes já ouvimos falar que os gays são mais simpáticos, divertidos, carinhosos, amigos, educados, inteligentes, entre outras coisas boas? Por trás desta aparente “supremacia” está um fato merecedor de atenção: com medo de rejeição, muitos gays fazem de tudo para agradar, passando por cima de seu orgulho, a fim de compensar algo que não precisa ser compensado. É o preconceito internalizado, o medo da rejeição.
Sabe aquele amigo gay que sempre traz o cafezinho? Ou aquele que te liga sempre, pede desculpas mesmo quando está certo e que, quando você pede, um favor nunca te nega? Pois é, dele que estamos falando. Provavelmente, na infância, ele era um dos mais estudiosos da turma, talvez o melhor aluno da classe. Ele também se destacava em várias coisas, em artes, cultura, esportes, ele sempre se esforçava para ser o melhor em alguma coisa, em ser discreto. De algum modo, ele tentava compensar o que no seu preconceito interno o tornava inferior, o fato de ser diferente. Mas um dia, ele quer viver a liberdade de falar o que acha, de fazer o que quer e dar um chega nessa subserviência na qual ele mesmo se colocou, daí, muitas vezes, temos o famoso “chilique”.
Os gays não precisam fugir da pesada cruz que carregam mas não podem achar que se humilhando ao invés de lutar pelos seus direitos estarão colaborando para algo. Quando fala-se em promiscuidade, traição, falam que os homossexuais são os campeões, discordo plenamente. Talvez no mundo G , a convivência nos guetos, as coisas sejam mais transparentes, pelo universo reduzido. Um bom exemplo da miopia dos héteros sobre o mundo gay está na descrição dos gays como “pessoas felizes”. Muita calma. Além do medo de rejeição, passamos 24h com medo de agressões, não podermos beijar o namorado em público, assassinatos, ridicularizações, piadinhas, medo da reação de nossos pais, do patrão, do amigo que não sabe, de cair no estereótipo, de fazer alguma besteira que somada a nossa orientação sexual (pois desejo não se escolhe, e seria muito estúpido escolher viver todos esses medos) vai agravar o que pensam de nós… Ainda assim, as pessoas nos vêem como pessoas felizes. A nossa felicidade é um modo de nos proteger dos dedos que nos apontam, é uma forma de compensar os momentos de solidão. Talvez isso explique a dificuldade da conquistas de nossos direitos, a final, se fossemos felizes, por que estaríamos reclamando?