Por trás do Plim Plim da Rede Globo

 


Pegar no pé da Rede Globo nunca saiu da moda. Principalmente para a esquerda brasileira (que ultimamente anda calada e com crises existenciais) o falecido Roberto Marinho representava a figura do nosso Cidadão Kane, que segundo documentário lendário não veiculado por aqui da BBC (“Muito além do cidadão Kane” – www.midiaindependente.org) teria um poder maior que o famoso personagem do antológico filme de Orson Welles. Em Curitiba, temos a filial global, a nossa querida RPC, que também merece ouvir algumas críticas. Caso exista o termo classificado de “construtivo”, gostaria que minhas impressões assim fossem rotuladas.


 


NOVELA INFLUENCIA O PÚBLICO OU O INVERSO?


Todos sabem que a audiência e pesquisas com telespectadores norteiam as tramas das novelas. Ninguém morre ou ganha destaque sem que as pesquisas sejam consultadas. É como se fosse um horóscopo que movimenta as ações do folhetim. Sabemos que o primeiro casal de lésbicas foi assassinado em Torre de Babel, que o segundo não podia ter beijos. Isso foi indicado por pesquisas. Agora, temos diversos personagens gays em novelas, isso, sem falar no BBB Jean Wyllys que depois de vários programas “reais” feitos no Brasil foi o primeiro gay a vencer. Enquanto em outros países as transexuais agora estão tendo a sua rodada da vitória nesses programas, aqui assistimos um gay vencedor. Como sempre, atrasados. Se dependermos de pesquisa com heterossexuais para que a Globo passe a tratar os gays de forma digna, não vejo um bom futuro. Apesar de parecer haver uma enxurrada gay, é de praxe a Globo esgotar um tema e dizer que fez a sua parte, uma lavagem de consciência para defender-se do que pode vir a ser acusada. O assunto irá sumir, assim como foi feito antes com as crianças desaparecidas, a barriga de aluguel, abuso das drogas, a vida nas favelas…


 


GAYS GLOBAIS


Recentemente, a autora Gloria Perez recebeu orientações “de fora”, a final, dentro da Globo ela está rodeada de gays estereotipados (figurinistas, cabeleireiros, maquiadores) e de gays enrustidos em seu trabalho, que povoam os meios de comunicação e trabalham contra os homossexuais, contra os que propagam a luta pelos direitos, os enrustidos da Globo acham que se derem uma força, irão descobrí-los, írão sair perdendo. Aliás, gay global é quase um outro estereótipo, muitos acham que trabalhar lá é ser a cereja do sunday. Conheço gays que trabalham na tevê que não se misturam, que pelo sucesso pessoal acham que têm direito de fazerem o que quiserem, pois possuem o “poder”. Exemplo clássico era a loira má, antigo apelido do multi-talentoso Miguel Falabella, que destratava iniciantes, comprava grandes brigas dentro da emissora e era o próprio ego inflado. O sucesso sobe à cabeça, ainda mais dos gays que deslumbram-se facilmente, a final, barreiras não faltaram e depois, no topo, sentem-se ameaçados por tudo.    


 


ATÉ O FAUSTÃO É AMIGO?


Não conheço pessoa mais machista que o Fausto Silva, agora, na última parada do orgulho gay de São Paulo, ele enviou o famoso Jean para apresentar flashes incessantes do evento. Claro, com o Gugu (sem comentários…) e as outras emissoras transmitindo ao vivo, se ele não fizesse isso, estaria arriscando demais a sua audiência. Anos atrás, o programa Casseta & Planeta foi boicotado no evento por causa de suas piadas homofóbicas, descontaram pegando no pé dos gaúchos dizendo que estavam em uma parada de gaúchos. Como bom estudante de jornalismo, sei que os repórteres e apresentadores do jornalismo são classificados como portadores da credibilidade do veículo com o público. Por que então, na parada deste ano, foram escalados o ator Bruno Gagliasso e o BBB Jean para cobrir o evento? A Globo simplesmente não quis classificar a matéria como jornalística e sim entretenimento. Ficou em cima do muro. Ou melhor, deixou o muro intacto, o muro do heterosexismo que ela prega todos os dias.


 


AS PIADAS CONTINUAM


Com os afro-descendentes protegidos por lei, as mulheres com poder político e brincadeiras aos portadores de necessidades especiais configurando entre as proibidas, sobrou para os gays serem alvos da falta de criatividade de certas pessoas. Os humoristas mais antigos continuam a investir nessa fórmula fácil da diversão sobre a desgraça alheia. No programa Zorra Total, os gays ninfomaníacos, afeminados e cômicos fazem o maior sucesso. “Onde foi que eu errei?” é frase comum aos pais de homossexuais, refletindo o jargão de um dos quadros do programa. Nas escolas, as brincadeiras ganham fôlego e fazem o inferno dos gays adolescentes: “Olha a faca!”. Renato Aragão, o Didi, embaixador da Unicef, teve a sua comenda criticada pelos ativistas por causa de suas piadas. Compreendido o recado, anda maneirando. Até o intelectual Jô Soares pega no pé de seu assistente de palco sobre a sua suposta orientação gay, criando uma situação embaraçosa para o empregado. Mas a brincadeira se estende para todos os lados. A mensagem é: podem tirar sarro, é permitido, é divertido é legal. Mas não é exclusividade da Rede Globo esta falta de humanismo ou tato para lidar com a homossexualidade, outros meios e canais pegam até mais pesado. Mas como líder de audiência e único meio a alcançar 100% do território nacional, deveria ter mais responsabilidade.


 


RPC


O jornalismo do canal 12 do Paraná não registra a maioria dos eventos que acontecem no estado. O jornal Gazeta do Povo, do mesmo grupo, também ignora releases e agendas. Salvo casos onde notas discretas reproduzem os textos enviados. A não ser por espetáculos midiáticos, o jornalismo da nossa Rede Globo local não se interessa por nada, prefere mostrar o drama de um cachorrinho perdido ou outra curiosidade fútil. Só neste ano de 2005, ocorreram mais de dez eventos do movimento gay e nenhum deles foi noticiado pela RPC.

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa