Freqüentemente, os pais reagem com hostilidade ao conhecerem a bissexualidade e, sobretudo, a homossexualidade dos seus filhos. Decepção, revolta, desprezo, mágoa, sentimento de culpa e dramas familiares, em que o filho torna-se objeto de incompreensões e de recriminações. Ao preconceito e à discriminação da sociedade, somam-se os da família. Ao sofrimento provocado pelos outros, acresce-se o infundido por aqueles que devem encarnar os primeiros amigos e colaboradores dos filhos, nas suas vidas em geral. Ali e junto de quem os filhos deveriam receber apoio e compreensão, não os recebem. Ao invés de solidariedade, solidão, em especial nas famílias de mentalidade tradicional.
Devem os pais entender que a homossexualidade não representa uma opção, porém uma inerência, não um desvio, porém uma naturalidade. Devem aceitar a natureza dos seus filhos e, assim como ampará-los-iam na suposição da sua heterossexualidade, devem ampará-los no conhecimento da sua homossexualidade. Antes de tudo, devem convencer-se de que o filho, como qualquer pessoa, goza de liberdade pessoal e portanto sexual, e que neste âmbito, a sexualidade do filho corresponde à sua mais estrita privacidade, em que ele é soberano e sobre a qual nem os pais, nem ninguém, pode, legitimamente, exercer qualquer direito de inibição e de discriminação face à alternativa entre a homossexualidade, a bissexualidade e a heterossexualidade.
De start, o descobrimento da homossexualidade do filho não deve, em nada, alterar os sentimentos dos pais nem o tratamento que lhe dispensam: devem eles representar colaboradores na realização da felicidade do filho tal como ele, e não eles, a concebeu. Mormente, os pais idealizam um certo futuro relativo aos seus filhos (notadamente os varões): na suposição da sua heterossexualidade, futuram-nos casados e pais, prevêm-lhes a constituição de família e o advento de netos, na convicção de que este anseio corresponde ao dos filhos, o que muitas vezes não se confirma, especialmente no caso da homossexualidade do filho, hipótese que devem formular e propiciar ao filho a mais inteira liberdade para negá-la e para confirmá-la, se for o caso.
É no seio familiar que o filho deve poder revelar a sua condição sexual, e contar com o apoio dos seus pai e mãe, para com eles partilhar dos seus sentimentos, expectativas e problemas, deles receber afeto e orientação e sentir-se tão querido quanto o seria se heterossexual.
Importa educar, também os pais, preconizava W. Stekel: com razão. O amor por princípio, recomendava Augusto Comte, igualmente com razão.