No fim do ano passado houve um pipocar de títulos para o público gay. Foram lançadas a Junior, parceria do grupo Mix Brasil e da editora Sapucaia, e a tão celebrada DOM – De Outro Modo, da editora Peixes. A história não é nova. Na década de 90, a virtuosa Sui Generis não sobreviveu por muito tempo mas deixou as portas abertas para novas publicações sem sexo. Mas será que está na hora?
A venda da G Magazine que estava atolada em dívidas indica alguma coisa. A G foi comprada por um grupo que atua na internet e tem futuro editorial ainda incerto. A DOM, que seria mensal em seu projeto inicial, estreou no mercado como bimestral. A Junior que seria trimestral correu com o lançamento da DOM e tornou-se bimestral já na segunda edição.
Em breve, o mercado deve receber nas bancas o primeiro título voltado para o público feminino homossexual. A revista Entre Ellass promete pegar pesado na militância e na sensualidade, duas vertentes evitadas nas publicações masculinas.
Revistas locais, mensais e gratuitas continuam firmes e fortes, caso da sulista Lado A com seus 2 anos e da paulistana Acapa, com quase um ano, do mesmo grupo do site disponivel.com. A Odyssey também tem sua publicação no mercado há 3 anos, embora de periodicidade irregular. Outros títulos aparecem e somem no mercado.
E dentre as grandes, a verdade é que os anunciantes de peso ainda não aderiram ao mercado gay, salvo algumas lojas e marcas de roupas, o que empurra a linha editorial destas publicações para o reino da moda. Por ser parte de uma editora grande, a DOM conseguiu abocanhar mais anunciantes do que a Junior e parece estar se dando melhor, incluindo o título em pacotes de anúncios. A Junior teve que mudar seu formato para se adequar ao tamanho praticado pelo mercado publicitário e ainda tem poucos anunciantes, comparado com a concorrente.
Embora cada publicação lute por seu espaço, juntas, elas abrem o mercado uma para as outras. Aquela que melhor cair nas graças do público e do conservadorismo dos anunciantes irá perdurar. Fica claro que espaço tem para todas mas os anúncios são escassos. Esse paradoxo na linha editorial, entre agradar o público ou os anunciantes, será o grande desafio das revistas que buscam o sucesso neste segmento. Afinal, com a internet, quem vai até a banca comprar algo que já leu ou que não acha interessante?
Outro ponto de vista é a abordagem dessas revistas. Enquanto umas colocam o gay como tarado sexual, pegando forte no tema sexo, outras transformam o gay em um grande cifrão e querem empurrar nitidamente produtos em suas páginas, se transformando em uma vitrine de luxo. A conscientização da comunidade, textos opinativos ou reflexivos passam longe neste segmento, vindo tudo muito mastigado. A G tinha pelo menos a autenticidade de vender na capa homens não gays mas mostrava de frente e de costas o que queria dizer: sexo. Falta um pouco de definição do mercado e do objetivo das revistas que aí estão. É preciso saber se são ou não revistas para se ler no armário, pois os anunciantes também querem saber.