Direitos gays chegam a sua maioridade

18 anos atrás, ser gay significava, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ser doente. Foi apenas em 17 de maio de 1990 que o Código Internacional de Doenças – em sua décima edição (CID 10), excluiu a homossexualidade da lista de doenças e promoveu uma verdadeira revolução social para os indivíduos homossexuais, vítimas de preconceito há séculos. Na década de 80, a chegada da aids demonstrou que o ódio contra gays não era pouco, houve forte pressão para que reclassificarem a homossexualidade como enfermidade. Hoje, com Paradas Gays, discussões sérias sobre o tema e forte apelo do verdadeiro direito humano, os homossexuais conseguem enxergar, finalmente, o arco-íris.


De 1975 a 1990, sob o código 302, no capítulo V, referente aos desvios e transtornos mentais publicado pela OMS – órgão que por meio de convenções médicas norteia a comunidade médica internacional – a homossexualidade, então homossexualismo, figurou ao lado da zoofilia, pedofilia, entre outros distúrbios sexuais. Desde a sexta edição do livro (1946), a homossexualidade era classificada como enfermidade mental. Nos anos anteriores o código 320 já subjulgava a homossexualidade como Personalidade Patológica, ao lado de outros distúrbios de personalidade como a cleptomania.


Na Grécia Antiga, rituais e costumes culturais apontavam para uma maior participação dos homossexuais na vida política e social daquela civilização. Pensadores, religiosos, militares e civis podiam viver a sua sexualidade de forma mais aberta e compreendida do que se é nos dias de hoje. Salvo algumas restrições, a homossexualidade era tão natural quanto a heterossexualidade aos gregos. Na Era Judaico-Cristã, porém, como forma de negação da cultura grega (por milênios a cultura grega e a cristã viveram uma verdadeira Guerra Fria), a homossexualidade foi satanizada, assim como foi com o politeísmo grego, os rituais com elementos naturais e os cultos aos astros. Depois de se tornar pecado, a Rainha Vitória, no auge da Revolução Industrial Inglesa, no final do século XIX, criou uma lei em que a homossexualidade era crime para ser pago com a vida. Todas essas mudanças inspiraram a homofobia como conhecemos hoje. Justificaram Adolf Hitler a perseguir homossexuais; aos países árabes e africanos incluírem leis que ainda existem que punem com a morte os gays; religiosos incitarem o ódio e atacarem Paradas Gays; a um homossexual ser morto no Brasil a cada dois dias com requintes de crueldades; entre outras barbaridades cometidas contra gays, lésbicas, transexuais e travestis.


A classificação da homossexualidade como doença durou 44 anos e se manifestou por meio de diagnósticos que condenaram os homossexuais à anormalidade. Ao contrário de outras doenças, porém, o homossexual jamais foi tratado como enfermo, salvo alguns casos de internamento e tratamentos que envolviam mutilações e choques, como coitadinho. Assim como no passado, condenações institucionais se multiplicaram pelo mundo como se a diferença entre os seres fosse mais do que apenas a suposta escolha do parceiro do mesmo sexo. Os homossexuais foram expulsos de igrejas, governos, academias, partidos e ser homossexual sempre foi considerado um perigo a ordem pública, como se estes seres fossem alienígenas. Nunca houve a preocupação do entendimento, embora mais de 50 teses fazem sugestões  absurdas da origem da sexualidade. E quem escolheria tudo isso, optaria em correr risco de vida? De opção sexual passou-se a falar orientação sexual, um termo que retrata melhor o que é gostar de pessoas do mesmo sexo.


Chegou-se a um ponto único: a ciência concorda que a explicação para a homossexualidade é a mesma para a heterossexualidade. Social ou genético, cansou-se de buscar a culpa e passou-se a buscar então a inclusão. O preconceito é muito mais danoso, a convivência é necessária. Os gays sempre existiram, sempre existirão. Gays não se multiplicam, eles nascem de pais heterossexuais. No terceiro milênio não há mais culpas, é tempo de inclusão social, de inteligência emocional. Até o Socialismo de Cuba se rendeu e mostra um humanitarismo sem precedentes, depois de quatro décadas de castrações, prisões e tortura de homossexuais na ilha de Fidel Castro.


Quem diria que as igrejas e os políticos um dia iriam abraçar os homossexuais como fazem, alguns, hoje. Novas interpretações bíblicas já pregam a inclusão de gays e lésbicas em suas orações. O ódio milenar por aqueles que não podem gerar filhos, adeptos do pecado que não se ousa dizer o nome, deu lugar a um discurso mais fraterno e cristão. Pede-se discrição, o mesmo que se pede aos religiosos homossexuais. Como não se pode conter o tsunami cor-de-rosa, já que agora os gays se assumem e ocupam seus espaço, a nova palavra de ordem é que eles se comportem e não exijam tanto. Mas há aqueles que almejam mais, querem a igualdade plena, o que para os mais conservadores é uma grande provocação. Mas o importante é que o direito à voz foi dado, e agora o movimento gay pode mostrar que não somos tão diferentes assim.


A maioridade dos direitos gays é marcada pelo dia 17 de maio e é filha da Revolta de Stonewall de 28 de junho de 1968, que completa 30 anos, e preconizou o movimento gay moderno e todas as transformações posteriores. Em breve, a França apresentará projeto de lei no Parlamento Europeu para transformar a homossexualidade em direito humano e igualar direitos de casais homo e héteros dentro dos países membro da União Européia, em seguida, a ONU deve se manifestar sobre o assunto e garantir que a homossexualidade possa ser vivida com segurança em qualquer país do planeta. No Brasil, na primeira quinzena de junho, o Governo Federal realiza em Brasília a primeira Conferência GLBT organizada por governo federal, como esforço de tirar o Brasil do topo da lista de assassinatos de homossexuais.


O caminho é longo, parece um sonho, mas é possível. Um outro mundo é possível. Na Bíblia, quando Noé viu o arco-íris, entendeu que aquele era o sinal de Deus de que jamais haveria outro dilúvio. Quem sabe o sinal era verdadeiro e o arco-íris (aqui representado pelos Direitos Gays), não nos leva a um mundo novo e melhor? 

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa