Nossas Semelhanças – Pais separados e filhos gays

Às vezes, analisando e comparando minha vida com a de outras famílias que possuem filhos gays, vejo muitas coincidências. Em conversas com amigos e amigas homossexuais, eles também contam histórias semelhantes, por isso, resolvi fazer uma seqüência de textos com esse título, Semelhanças, pois todos temos histórias para compartilhar. Caso você queira que falemos de algum assunto em especial, me envie sua indicação.


E nesse texto vamos falar sobre uma delas que é Separação. Aqui em casa, esse fato ocorreu há 13 anos, após 21 anos de casamento, eu e meu esposo nos separamos, e meu filho casula, que é gay, tinha na época sete anos. Os outros dois filhos já eram um pouco maiores, estes héteros. Sofremos muito juntos e também superamos juntos essa fase tão difícil. Como ele era o menor, tentei poupá-lo, para não sofrer traumas, e muitas pessoas comentaram, que não deveria mimá-lo, já com insinuações, como se o fato da separação fosse torná-lo o que ele já era desde o nascimento: gay. Daí, tentam nos culpar e apontar algo sobre o que nem sabem. É ai que temos que “peneirar” o que nos falam.


Bem, voltando ao assunto, nós mães nos enganamos às vezes com os filhos, achando que não saberão lidar com a separação, mas eles percebem tudo, e tiram suas próprias conclusões. Não havendo necessidade de “fazermos a cabeça” deles. É comum querer apontar o culpado, e filho não quer e nem pode tomar partido em uma das partes. Pois a separação é do casal e não dos pais com os filhos.


Hoje sei que em uma separação os dois tem que ter consciência que tiveram culpas, que deixaram a desejar, que faltou “regar” a relação, e que isso só deve ser cobrado entre os dois, não aos filhos. Se nós que somos adultos “balançamos” nessa hora, ficamos revoltados, deprimidos, tristes, perdidos, imagine então as crianças, os filhos, eles sentem muita insegurança e medo, sentem o mundo deles cair, e sofrem demais com a perda e ruptura da família. E aí se sentem culpados pela separação por diversos motivos, ou mesmo por serem gays, ai é que pesa mais a sua carga, nesse caso.


Também há casos em que um dos cônjuges alega não poder mais viver numa família que tem um filho gay, isso é terrível e uma grande mentira, pois na realidade ninguém se separa de outro baseado somente em num fato como esse, mas sim porque já existem problemas entre o casal e eles procuram motivos, desculpas, e usam um fato como este como “muleta”, porque não sabem como aceitar e admitir seus fracassos. Causando em muitos casos, aí sim, um trauma irremediável.


Com o passar do tempo, aprendemos que as pessoas vem e vão de nossas vidas, normalmente. E se isso acontece, em alguns casos, sentimos na hora como se fosse a pior coisa, e depois percebemos que a separação aconteceu pra nos libertar, nos livrar talvez de problemas maiores, de uma vida medíocre, e em muitos casos nos tornamos mais feliz, com muitas portas se abrindo.


Claro que separação, só se for inevitável. Admiro e conheço muitos casais “eternos” e felizes, pois eles partilham amor, respeito, compreensão, companheirismo e caráter no mesmo nível, e que se amam e se respeitam cada vez mais. Então amigos, nada de se sentirem culpados, porque perdeu seu marido ou sua esposa. As pessoas quando se amam não se perdem, e vocês filhos, não tem todo esse poder de separar ninguém, muito menos pela sua sexualidade, são só invenções de quem não assume seus erros.

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa