Gays Afeminados, um pouco sobre homossexuais com trejeitos

Uma série de discussões me levou a pesquisar sobre o assunto, mas o que me fez querer escrever sobre a afeminação de fato foi uma afirmação do ator Gustavo Leão, que interpreta um dos gays da nova novela das 7 da Rede Globo. Em uma entrevista de um portal no último dia 29, o ator, que interpreta o gay Osmar, que morreu em um acidente de carro nos primeiros capítulos da novela, escreveu sobre as críticas ao personagem: “Graças a Deus a maioria das críticas eram positivas, mas um pessoal disse que eu tinha que ser mais afetado!”.


Afetado, com trejeitos, afeminado, bichona. Por que raios pediram para o ator ser mais delicado, enquanto todos sabem que há gays de todos os tipos? Em uma discussão paralela na internet, sobre outro assunto – estávamos discutindo sobre o Dilma Boy, personagem de um vídeo do You Tube de um rapaz gay trejeitado defendendo a candidata Dilma Roussef – e o sociólogo, doutor em antropologia, Luiz Mott deu uma luz sobre o assunto. “Fechação é um tema há muito debatido pelos acadêmicos e militantes. Nem sempre efeminação é revolucionária. Há lugar pra todos estilos de vida dentro do arco íris, efeminação pode ser revolucionário mas também pode ser alienante, e a sociedade gosta e aplaude as bichas afetadas, do tipo Ualber na novela, Painho, estilo Falabela  e Diogo Vilela pintosa na gaiola das loucas, desmunhecadas, que provocam risos. É mais fácil identificar e proteger seus filhos das pintosas do que das machudas, daí o interesse dos homófobos que os gays sejam efeminados e vistosos”.


Em seguida, Mott ainda mandou alguns textos que vou resumir aqui sobre o assunto. Daniel Guérin (1904-1988), anarquista e homossexual assumido, autor de Um Ensaio sobre a Revolução Sexual, assim explica o fenômeno “bicha-louca”: “Que idéia as bichas loucas têm a respeito do papel feminino? Convivendo com elas e registrando seus diálogos, gestos, gritinhos e afetações, percebemos que as bichas loucas caricaturam, à semelhança do macaco ou do papagaio, uma certa versão superfeminina da feminilidade que foi forjada através dos séculos, pelo patriarcado machista, levada e
extremos do absurdo pela burguesia do século XIX, e da qual “elas”, as pintosas, aprenderam unicamente os traços mais exagerados e ridículos. Elas não se tornaram mulheres, como diz Sartre em seu livro Santo Genet, Comediante e Mártir, 1952, tornaram-se apenas representações que elas tem da mulher, isto é, bonecas e putas.”


Susan Sotang escreveu na década de 60 que a fechação é um solvente moral, que ironiza todos os padrões vigentes e tem grande força estética e iconoclasta. Ou seja, ser afeminado é Pop, está na moda hoje. Mas essa ridicularização da sociedade trabalha contra a militância, uma vez que lhes tira apoios importantes. Mas ela é uma militância independente, que é garantida pela liberdade de expressão e são algumas das bandeiras da própria militância, a pluralidade e a liberdade.


“O que provavelmente mais irrita aqueles militantes é a falta de seriedade da fechação, pois quando todos os valores se tornam objetos de zombaria , nem a própria militância escapa. Como Goffman nos lembra, quando um grupo estigmatizado resolve lutar por direitos, as reivindicações e as estratégias que propõem são todas partes do idioma e dos sentimentos usados pela sociedade como um todo. Seu desdém por uma sociedade que os rejeita só pode ser entendido nos termos em que aquela sociedade concebe o orgulho, à dignidade e a independência. Em outras palavras, a menos que ele possa recorrer a uma cultura estrangeira, quanto mais ele se separa estruturalmente dos normais, mas ele se torna culturalmente parecido com eles”, disse o pesquisador Edward MacRae  em seu livro Os respeitáveis militantes e as bichas loucas, sobre o assunto.


Precisamos entender que ser afeminado é um direito, mas é preciso ter consciência da reação em cadeia que isso provoca na sociedade que pasteuriza toda a diversidade sexual com uma só cor. A bandeira do arco-íris tem várias cores, elas estão bem separadas e ocupam o mesmo espaço. Não há, porém, barreiras entre elas. Precisamos nos unir, mostrarmos todos os lados desta pluralidade e fugir dos rótulos. Na mídia, só os gays afeminados ganham destaque, mas não podemos culpar eles. Onde estão os outros gays? Os médicos, os advogados, os engenheiros? Estão no armário em sua maioria. É preciso defender que gays de todos os estilos recebam espaço na mídia, para que passem a nos levar a sério. É preciso, ao invés de tentar mudar as pessoas, que apareçam mais representantes do lado “careta” do movimento.


Hoje, há uma dificuldade de assimilar os gays afeminados, tanto dentro quanto fora da comunidade. No futuro, com certeza, o mundo será menos injusto com eles. Não vamos complicar mais, é preciso encontrar um meio termo. Pedir mais seriedade quando os afeminados representam todos os gays e aceitá-los, afinal, eles são super divertidos e os nossos inimigos, com certeza, não são eles.


 

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa