Quem conta a história emocionante é o site piauiense CidadeVerde.com. Eles narram apenas as investigações de mais uma morte de LGBT no Brasil – já foram mais de 100 assassinatos de LGBT no Brasil este ano. Renata Desirreè, 21 anos, ou Renato Tavares Piauilino – nome de batismo, foi morta em cidade de São Raimundo Nonato, a 520 km da capital Teresina. O corpo foi encontrado na madrugada desta quinta-feira, ao lado da estrada PI 140. Antes de aparecer morta na sarjeta, com dois tiros no peito, ela esteve na delegacia local na tarde anterior, por tumultos com sua presença no desfile da Independência. Era comum sua passagem por lá, segundo o delegado ouvido pela Cidade Verde.
Conhecida na cidade, sempre envolvida em polêmicas, há 3 meses, ela pediu ao dono de uma lan house para ajudá-la a enviar um email ao Programa do Gugu, da rede Record, onde denuncia o preconceito que sofria na cidade e até por sua família. O email teria sido enviado ao site do programa. Se é que haveria uma ajuda, ela não veio. Sem entender bem a si mesmo, ora se chamando de travesti, outra de transexual, outra de homossexual, Desirrè pede uma casa e ajuda para arrumar emprego. Ela também se queixava do preconceito que sofria em mercados e na rua, onde era hostilizada. A carta finaliza com um apelo ao apresentador e mostrando a fé da travesti em Deus.
A polícia local, que não tem nem viatura, rejeita a hipótese inicial de que o crime tenha sido motivado por homofobia e espera que possíveis testemunhas ajudem a elucidar o caso.
Leia a carta supostamente enviada ao Programa do Gugu:
Gugu,
Sou Renato Tavares Piaulino, natural de Coronel José Dias, estado do Piauí, próximo à cidade de São Raimundo Nonato. A cidade em que moro ainda é muito preconceituosa quanto aos travestis e isto me prejudica muito, principalmente porque sou pobre, ninguém me coloca para trabalhar, e por isto preciso da tua ajuda, sei que você é uma pessoa sensível e vai fazer alguma coisa por mim.
Gugu, quero que você me ajude, pois preciso de uma casa, moro com meus pais, mas eles me rejeitam porque eu sou homosexual, minha mãe esconde minhas roupas e as vezes rasga para que eu não a use mais. Está muito difícil conviver com eles assim, por isso quero uma casa, para eu viver a minha vida sem depender dos outros.
Quero também uma ajuda para fazer uma cirurgia de mudança de sexo para não ser criticado(a) por ninguém, pois sempre ouço piadas e gozações, zombarias, sou motivo de chacotas, não consigo trabalhos por motivo do preconceito de minha opção sexual. Quando entro em uma loja ou em um mercado e demoro muito para escolher uma coisa, os donos e funcionários me olham dos pés à cabeça, parece que imaginam que quero roubar.
Gugu me ajude, confio muito em Deus e sei que você é uma pessoa iluminada por ele.
Atenciosamente,
Renato Tavares Piauilino (Pseudônimo: Desireè)
Foto:Darlan Ribeiro/Saoraimundo.com