Gazeta do Povo publica texto homofóbico de colunista contra adoção por casais homossexuais

Por Allan Johan

“Nada é mais cruel que crianças em bando, especialmente na escola”, inicia o autor do texto “Perversão da Adoção”, Carlos Ramalhete, fundador de “A Hora de São Jerônimo”, um apostolado leigo católico, de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. O texto foi publicado no site da Gazeta do Povo, principal veículo impresso do Paraná, nesta quinta-feira. Discordo dele. Nada é mais cruel do que os adultos, principalmente quando munidos da ignorância, ou, pior ainda, quando usam seus conhecimentos, para provocar o dolo. Nada é pior do que a maldade com intenção de machucar. Pior ainda é a maldade disfarçada, aquela que quer se convencer ou convencer o outro de que não há maldade em tal ato. E o texto do Sr. Ramalhete é perverso, é doloso, é de uma homofobia disfarçada tremenda. Utiliza do artifício vil e covarde da dissimulação para defender que seres humanos devem ter menos direitos, colocando suas crenças para justificar que o Estado (mais uma vez o texto é propositalmente dissimulado para não aparecer homofóbico ao atacar diretamente um casal homossexual) não deveria reconhecer dois homens como pais de uma criança adotada, de qual a mãe perdeu o poder pátrio.

Ele diz ainda: “O Estado reconhece a família porque é nela que a vida é gerada. Um homem e uma mulher se unem, geram filhos e os criam, e é do interesse de toda a sociedade que isso funcione bem. Quando falta uma família, o Estado pode entregar a criança a outra família, que a adota como nela houvesse nascido. Conventos, comunidades hippies e uniões de pessoas do mesmo sexo, contudo, podem ser modos de convívio agradáveis para quem neles toma parte, mas certamente não são famílias. Isso é abuso, não adoção”.

Já vimos esse filme: alguns acreditam que uma comunidade que tem menos direitos historicamente deve continuar assim. Uma afronta eles terem o mesmo direito do que “nós”. O Estado deveria defender aqueles que são a base desta sociedade e não os equiparar a “nós”. Eles não são como nós… Sim, eles eram judeus, ou negros, ou mulheres, ou ciganos, ou homossexuais, ou asiáticos, ou de outra religião, ou tantos outros. E todos sabemos o que a história conta. E sabemos que todos os inimigos das liberdades individuais evocam o direito de liberdade de expressão, ou religiosa, para justificarem os seus discursos de ódio. Desesperados, chegam a evocar o direito “da maioria”, dizendo que democracia é a imposição do desejo da maioria, conceito altamente deturpado.

O Sr. Carlos Ramalhete conhece o tal garoto ao qual ele se refere em seu texto? Eu o conheço. E o Alyson é um menino maravilhoso de 12 anos, alegre e que ganhou na loteria, ao sair de um orfanato – onde sofria diversas violências – para ter a melhor educação possível. Também conheço seus pais e são pessoas fantásticas. Até mandei mensagem aos pais, Toni e David, pois o menino quer ser de religião africana e os pais querem impor a fé católica. Ora, ao final Sr. Ramalhete, os pais assim como você possuem valores cristãos. Pais são perversos, as crianças não!
 
E eu também sou cristão e acredito que todos os cristãos do mundo deveriam adotar todas as crianças abandonadas em lares, por pais cristãos ou não, e serem responsáveis por elas. E que todos os heterossexuais que geram tantas crianças abandonadas deveriam arcar com estudos e custos destes pequenos até a maioridade, dando as mesmas oportunidades dadas aos outros. Sabe o que é a coisa mais cruel do mundo, Sr. Ramalhete? É a hipocrisia. Então, o senhor desça do seu pedestal, onde se auto colocou, e vá praticar a caridade, uma vida cristã, o exemplo de Jesus, ao invés de apontar o dedo e querer julgar o que Deus acha melhor ou o que é certo ou errado.
 
Vivemos em uma sociedade laica, onde todos tem os mesmos direitos, ou ao menos caminhamos para isso. E pela paz e direitos de todos, deve ser assim.
 
Clique aqui e leia o texto enfadonho publicado pela Gazeta do Povo.
 
 
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