A doença do preconceito

Os grupos se reúnem por pares, um fato científico de sobrevivência. Não há espécie que prefira outra em detrimento à sua. Coloque peixes de diferentes variedades em um aquário, e se tiver mais um deles, eles se agruparão por variedade. Notadamente o homem, mesmo com todo seu grau de intelectualidade, age de forma similar. É um resquício da evolução, agimos como em perigo, nos separando por pares, por similaridade. É um instinto de sobrevivência, mas esquecemos que pertencemos todos a mesma espécie, o que varia é a cor da pele ou o modo de pensar.

Mas voltando aos grupos, temos as afinidades, que também nos unem. E as pessoas tendem a formar grupos por afinidades. Ainda, classes sociais, esporte favorito, inclinação política… Embora todos nos relacionamos com pessoas de todos os outros grupos, é mais confortável e previsível confiar nos pares. É uma questão que surge com o espelho social, em que se atribui a cor de pele, classe social, orientação sexual ou afinidades o preceito de que estas pessoas nos entendem, vivem as mesmas dores, tem a mesma moral que a nossa.

Claro que isso tudo é uma grande bobagem. Mesmo que seja um instinto, o preconceito é baseado em desinformação. É uma reprodução social, uma auto imagem transformada em ação. Andar entre pares não é garantia de nada, apenas você está abrindo mão de vivenciar a diversidade do mundo e reforçando – e o ser humano com auto estima baixa precisa de reforço e validação – as suas escolhas.

Se você cresceu em uma casa frequentada por parentes e amigos de apenas um tipo, viu seus pais valorizarem a religião, raça, nível social, educacional, deles, obviamente você crescerá com este valor imputado no seu subconsciente. Será um adulto que dificilmente sairá da falsa bolha criada. Por isso a universidade é um ambiente tão maravilhoso quando proporciona a diversidade, ou o ambiente de trabalho, ou mesmo a escola.

Família é tudo. Mas para alguns isso não faz sentido algum. E todas as nossas afirmações são conceitos individuais que valem apenas e exclusivamente para a nossa vivência. É como o horóscopo que traça perfil para cada signo, bobagem. Pode ser que faça sentido, até faz, mas quando acreditamos nisso. E quando acreditamos em algo temos por convicção que é uma verdade, e aí nascem os preconceitos, a exclusão e a tendência de defender o conceito que compramos. Entenda que o outro não teve ou não aproveitou as mesmas vivências que você, nunca julgue.

Tudo na vida é subjetivo. Devemos considerar a vivência e o ponto de vista. Cada um de nós vê e sente o mundo em intensidade diferente. Não podemos entender o outro, não podemos prever a nossa existência. Livre-se dos preconceitos e mergulhe no mundo, nos grupos, na vida. Só se vive uma vez, e viver quer dizer celebrar a existência e a diversidade que nos rodeia. Fuja da bolha.

Allan Johan :O jornalista Allan Johan é fundador da Revista Lado A, militante LGBTI e primeiro Coordenador da Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de Curitiba entre março de 2017 até maio de 2020.