Os gayzistas e a ditadura gay

O termo”gayzista” ganhou este ano destaque na mídia e é mais uma criação dos homofóbicos. Ele remete ao Nazismo e, assim como o termo Ditadura Gay,  prega que os militantes gays querem criar um estado paralelo com privilégios, o que passa longe da verdade. Circula na internet até uma lista diferenciando homossexuais de gayzistas, apelido atribuído pelos contrários aos direitos gays aos ativistas e militantes homossexuais. O intuito é confundir, e criar antipatia até dentro da comunidade gays aos seus “representantes”. Criam o gay ideal e aceitável, e rechaçam aquele quer uma sociedade mais justa.

Ora, quem prega a exclusão, a não concessão de diretos, buscam argumentos em livros religiosos e até mesmo em afirmações de leis naturais e ignoram fatos como a existência de uma comunidade que vem sendo historicamente vítima de preconceito são os próprios homofóbicos. Eles pregam a exclusão. Se pudessem, colocariam os gays em campos de concentração, ao menos os que os contestassem. Eles não entendem nada de liberdade e esta palavra lhes dá calafrios. Os homofóbicos sim que pregam um estilo de vida para o resto da população, não apenas aos gays, e se projetam como modelo a ser seguido. Estes são os verdadeiros nazistas e que pregam uma ditadura de costumes e crenças. 

A tentativa ainda compara as atitudes do falecido Clodovil e de Jeans Wyllys, este deputado federal mais incisivo na luta pelos direitos da comunidade gay, apontado como gayzista. Wyllys incomoda, é mais combativo. Clodovil nunca levantou a bandeira gay e é assim que eles esperam que os gays continuem: submissos e silenciosos.

Os ativistas gays defendem o direito de existência jurídica e respeito aos homossexuais. Alguns de forma mais atenuada, como em todos os movimentos sociais. Mas a criação de temas que invertem a realidade, que afirmam que gays querem tornar crianças como eles, que ser homossexual é uma escolha, entre outros, são tão vis quanto inacreditáveis. A tal lista cita que “gayzistas” querem desconstruir a heteronormatividade e os “homossexuais” estão felizes e aceitam a heterossexualidade como papel central na cultura humana. Diz ainda que homossexuais estão satisfeitos com o tratamento da sociedade e que os gayzistas querem mudar a sociedade. Alguns gays de fato estão felizes com a situação atual, tendo em vista como era antes, a exemplo do falecido Clodovil, e outros não envolvidos politicamente, e até alguns jovens que defendem o “não rótulo” e não levantar bandeiras. Mas a grande maioria exige respeito, uma lei que combata o preconceito, o fim do bullying, reconhecimento pelo Estado, essas são reivindicações legítimas que também são ignoradas. Na verdade, os homofóbicos pegam os extremos ou frases desconexas para colocar os ativista como vilões e não entrar no mérito das reivindidações da população gay. A lei da união civil é bom um exemplo. Ficou quase 20 anosparada e foi preciso o Supremo intervir e reconhecer a união civil gay. O mesmo acontece com as outras pautas.

Ser contra a heteronormatividade, porém, não significa ser contra a heterossexualidade ou os heterossexuais, mas colocar que gays são pessoas tão normais quantos os heterossexuais, merecedores de respeito e que a questão deve ser tratada de forma natural, pela mídia, nas novelas, nas ruas. Significa ter direitos iguais. Nisso os homofóbicos se diferenciam dos gays. Os homossexuais querem ser quem são e seus direitos, e os homofóbicos querem que eles voltem ao escuro do armário e não tenham seus direitos reconhecidos. Entre diretos “polêmicos” esta o de demonstrar afeto em público e andar de mãos dadas, se assim quiserem e nos limites sociais aceitáveis tanto para casal homo ou hétero. A heteronormatividade coloca isso como inaceitável, assim como em comerciais que cita famílias e quase sempre esquece de por pessoas do mesmo sexo. Por causa da não aceitação da homossexualidade e ignorarem o tema, eles colocam os filhos para fora de casa e criam homossexuais que não se aceitam, pois essa regra social impõe que se casem com pessoas do outro sexo, mesmo que isso os torne infeliz. A heteronormatividade é uma ditadura social. Ela prega a exclusão, esquecimento, a negação, e tem fundamento na tal reprodução da espécie que é um argumento lindo, mas infundado, pois além de o mundo ter gente demais, os gays também podem ter filhos. 

Outra questão é o casamento gay. De um lado afirmam que gays não são família, dizem que o mesmo é sagrado, célula da sociedade. As famílias com pais gays são fato e todos os gays nascem em uma família, foram educados para constituir tal. O argumento da ausência do pai e mãe é tão velho… E as mães solteiras? E os órfãos? E as crianças em orfanatos, abandonadas por pais heterossexuais? O mesmo vale ao argumento contra a adoção por casais homoafetivos. Família não é só pai e mãe, o casamento não é mais para sempre. A modernidade derrubou os tabus e os gays também querem, e merecem, por uma questão de direito humano, seu lugar ao Sol.

Os direitos gays são a grande última barreira que restou de uma sociedade arcaica, onde a mulher não podia votar, era um objeto e propriedade do marido, negros eram escravizados, deficientes viviam em cárcere privado ou eram mortos e etnias inteiras eram dizimadas. O direito gay é um direito amplo que resguarda o direito à privacidade, à livre forma de amor, à igualdade, valores tão defendidos no passado. É um caminho que irá mudar o mundo para uma visão mais ampla e acolhedora da diversidade humana. É um perigo, mas não para as famílias ou para aqueles que possuem medo da mudança, é um perigo real para aqueles que ganham dinheiro em cima do preconceito ou que apoiam sua existência em verdades individuais, amarras sociais, e são cegos pois não percebem que liberdade significa não estar preso.  

 
Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa