“Eu pretendia, sim, contar a história de um personagem gay que queria ter uma família, filhos. Era Niko, vivido por Thiago Fragoso. Já achava atualíssimo colocar essa questão. Ouvi relatos de gays que tentam o método de fertilização artificial numa barriga solidária (ou de aluguel) para depois, quando a criança nasce, ter de lutar pela posse do filho”, revelou o autor que contou ainda que fez questão de incluir os evangélicos no capítulo final, com a recepção de uma criança em um culto de batismo, como forma de mostrar que há espaço para todos e que a tolerância e diversidade é imperativo na sociedade. “No último capítulo, incluí também a apresentação de um recém-nascido numa igreja evangélica. O mundo é para todos, e essa foi a mensagem que eu pretendia transmitir. Quis falar de aceitação. De convivência entre pessoas diferentes. Estou orgulhoso pela reação do público: há uma abertura de consciência no país.”, afirmou o escritor.
Carrasco afirmou que se identificou com Félix e disse que já teve fase em sua vida em que foi amargo e infeliz. A redenção do personagem o levou a lembrar de seu livro predileto Les Miserábles, de Victor Hugo. “Para minha surpresa, o personagem de Félix (Mateus Solano), a bicha má, teve uma enorme aceitação desde o princípio. Venenoso, malvado, mas divertido, Félix caiu na graça dos telespectadores. Não é à toa que meu livro predileto é Os miseráveis, de Victor Hugo. Adoro histórias de redenção. Acredito que o ser humano pode se transformar. É linda essa capacidade de nos transformarmos em outra pessoa”, filosofou o autor.
A aceitação e pedido para que Félix e Niko terminassem juntos ganhou fôlego na reta final da novela e roubou a cena do casal protagonista, Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador), mas não diminuiu a importância dos dois na trama. “Sou um autor honesto com minhas tramas. O desfecho usual de uma trama romântica é o beijo”, afirmou Carrasco que então levou a situação para a diretoria da TV Globo que comprou a idéia de um beijo de amor, algo cotidiano e não cinematogrpafico, ou “Não o beijo do gueto, com rapazes dançando de sunga ao fundo. Queria dizer que o beijo gay também pode fazer parte de uma vida familiar”, como define o autor em seu texto. Foram gravadas várias versões do beijo que foi ao ar e finalmente selecionada entre os diretores de núcleo. “Foi um sucesso. Soube de prédios que gritavam como se fosse final de campeonato”, resume o sucesso da cena o autor. “O brasileiro é bem melhor do que se fala. O beijo aconteceu, como pedia a trama de Amor à vida. Eu me sinto de alma lavada”, encerra o texto Carrasco.