Homem mata menor a socos no interior de São Paulo, família e mídia falam em homofobia

Em Gastão Vidigal, a 450 quilômetros de São Paulo, município de apenas 6 mil habitantes, um adolescente foi acusado por pais de moradores locais de fotografar as crianças na praça da cidade onde ocorria a festa da segunda feira de Carnaval, na semana passada. Renato Duarte Horácio, de 17 anos, estava na cidade com o irmão de 18 anos e a mãe, na casa de amigos, que vieram de Guarulhos e foram aproveitar a festa. Os forasteiros chamaram a atenção na praça, onde fotografaram crianças da cidade, o que revoltou alguns pais e parentes.

A PM foi acionada e no local percebeu um princípio de tumulto, então decidiu levar os visitantes para a delegacia. Lá, os pais e o menor, com a presença do conselho tutelar, resolveram a situação apagando as fotos e o rapaz  foi liberado e aconselhado a não voltar à praça. O jovem alegou que as fotos eram lembranças da cidade e pediu até desculpas.

Conversamos com a polícia local que informou que os pais acusavam o menino de prometer brinquedos a crianças de 3 e 4 anos de idade, e que o rapaz chegou a dizer que tinha pego “amizade” com as crianças e por isso as fotografou. Disse ainda que os pais agiram de tal forma em razão das crescentes campanhas contra pedofilia na TV, e que estavam suspeitando da atitude do menor. A situação parecia resolvida quando a família de São Paulo entrou no carro da amiga que mora na cidade.

A partir daí, duas versões são apresentadas. Segundo o assassino do jovem, Fabrício Avelino de Almeida, de 29 anos, genro da vice prefeita de Gastão Vidigal, antes de ir embora da delegacia, o adolescente o teria  provocado, fazendo menção de dar um tiro com as mãos e dizendo ser da capital, desdenhando o interior. Na versão da família do rapaz, o menino foi chamado de pedófilo e foi agredido até a morte. O fato é que o rapaz, fora do carro, recebeu socos na cabeça e caiu desfalecido. O garoto de 17 anos foi socorrido e levado ao hospital, o agressor foi detido e o delegado responsável pela cidade chamado às pressas.

Como a cidade não tem delegado titular, há um rodízio. A cidade conta ainda com apenas dois policiais civis e um policial militar. Naquela noite, seis policias militares estavam atuando como reforço, enviados de outras cidades. O último assassinato em Gastão Vidigal foi há 4 meses, um crime passional onde a mulher matou o esposo. Uma cidade pacata, onde todos conhecem todos e forasteiros são vistos como ameaça.

O delegado designado Abelardo Alves Gomes, que atendeu a cidade por 30 dias e já foi transferido novamente, foi até a cidade e, ao ser confirmada a morte do menor, prendeu o rapaz em flagrante e o enviou para a penitenciária de Penápolis. Como a região não tem plantão do Judiciário, foi pedido um habeas corpus na comarca de Votuporanga pelo advogado do acusado. O agressor não tinha antecedentes criminais, tem residência fixa, e isso favoreceu sua soltura e responderá o processo em liberdade.

Segundo um policial de Gastão Vidigal, com quem conversamos e que estava presente em toda a ocorrência, o crime foi rápido e os policiais só presenciaram o seu desfecho, depois de serem alertados pela mãe do rapaz e saírem da delegacia. Ele não soube ligar a situação à homofobia, apesar da família dizer que o que teria motivado a denúncia de pedofilia seria o fato dos irmãos andarem abraçados na praça. Para o policial, os moradores da cidade são hostis naturalmente com forasteiros e as campanhas contra a pedofilia criaram um clima de pânico nos pais e moradores ao verem os filhos sendo fotografados pelo rapaz.

O policial, que preferimos não identificar possibilitando servir novamente de fonte, lamenta que apesar dos esforços da polícia local esteja sendo divulgado que o rapaz não foi preso por ser parente de políticos. Ele reafirma que a polícia local agiu corretamente e que a soltura foi feita por parte do judiciário de outra cidade e lamentou a falta de estrutura da polícia no interior. 

 

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa