Lembra do tempo que homens eram homens e mulheres eram mulheres? Sabe, quando os mais viris dos homens usavam seus cabelos cacheados e compridos com os seus melhores saltos altos.
Ah, talvez você estava imaginando um conceito ligeiramente diferente do gênero moderno? Considere os brincos. Associados exclusivamente a mulheres por uns 200 anos, os caras recentemente começaram a recuperar o direito de usá-los. “Nas duas últimas décadas homens entraram em contato com o seu pirata interior”, disse Valerie Steele, diretora do Museu do Fashion Institute of Technology.
Embora hajam reais diferenças biológicas entre os sexos, gênero é geralmente considerado ser um construto social — pode ser muito bem o que queremos que ele seja, e nós quisemos que fosse várias coisas ao longo dos anos. Abaixo, veja algumas que provam que a nossa percepçao de gênero já mudou do passado até o presente.
Rosa costumava ser uma “cor de menino” e azul uma “cor de menina”, e antes disso todos bebês apenas vestiam branco.
Há não muito tempo atrás, pais vestiam seus bebês em vestidos brancos — devido ao fato de poderem ser alvejados facilmente — até por volta dos seis anos de idade. Sim, até os meninos.
Cores pastéis vieram em 1918 quando uma publicação do varejo tentou criar as regras: rosa para meninos e azul para meninas. “Sendo uma cor mais forte e decidida, rosa é mais apropriado para o menino, enquanto azul, que é mais delicado e elegante, é mais atraente para a menina”, dizia o artigo. Se as pessoas ouviram ou não (e a flagrante lógica sexista à parte), elas ao menos pareceram aceitar uma variedade mais ampla de opções de cores para as suas crianças até que por volta de 1940 as preferências mudaram para a divisória de cores que estamos acostumados atualmente, de acordo com a historiadora Jo Paoletti da Universidade de Maryland.
Saltos altos foram originalmente criados para homens e considerados “masculinos” por um século.
Soldados persas usavam sapatos de salto em nome da necessidade ao cavalgar, já que lançar uma flecha estando em uma sela era mais fácil com um salto para firmar os pés na alça da sela. Como a elite européia tornou-se fascinada com a cultura pouco familiar à eles, homens adotaram os calçados dos cavaleiros para o seu uso por volta de 1600. Após as classes mais pobres começarem a usar sapatos de salto, a classe nobre respondeu da forma que puderam — tornando os saltos mais altos.
Mas quando as mulheres começaram a adaptar o estilo, os saltos dos sapatos masculinos tornaram-se mais atarracados e mais baixos, enquanto os femininos eram mais finos e mais altos. “Na maioria das vezes, quando algo começa a ser associado com o feminino, torna-se ‘contaminado’ para os homens.”, diz Steele. No final do século 18, ela observa, homens abandonaram completamente os sapatos de salto. Se eles tivessem ignorado a divisão de gênero, teriam visto uma forma para terem pernas mais alongadas e uma bunda empertigada.
Uma época, secretários e professores eram todos homens.
O termo “serviço de mulher” é baseado na idéia que mulheres são intrinsecamente menos qualificadas para todas exceto algumas funções no trabalho, mas quais seriam essas funções, exatamente, mudaram ao longo do tempo. Na virada do último século, uma porcentagem estimada de 85% dos trabalhos clericais eram preenchidos por homens faturando o dobro do salário das mulheres. Estes homens geralmente usavam o trabalho como uma função de gerenciamento inicial para alcançar cargos mais altos na escada empresarial.
Quanto mais mulheres entravam na força de trabalho, a área começou a alterar. Mas secretárias mulheres raramente faziam a transição de peão de escritório para executivas, e uma “secretária” começou a parecer como as garotas bem vestidas que vemos em “Mad Men”. Por volta da mesma época, lecionar crianças era uma profissão dominada por homens, até que o trabalho se tornou “feminizado” e os homens largaram aos poucos estas posições.
Renda era algo masculino. E feminino. Desde que você fosse da classe nobre.
Assim como o sapato de salto alto, rendas foram popularizadas no mercado europeu por volta do século 16 como um marcador de status. O tecido era tão intrinsecamente trabalhado que apenas 4 centímetros de renda Valenciana (uma variedade particularmente trabalhosa de criar) levava 14 horas para ser produzida — e vinha com um preço adequadamente alto.
Era aceitável para homens vestirem renda pelo século 18, Steele explica, mas o estilo morreu por século 19. “Uma variedade de decoração em vestimentas era interpretada como ‘aristocrática, nobre, classe alta’ e foi redefinido por volta de 1800 como ‘feminino’.”, Steele explica. O mesmo se aplica a sair às compras de tecidos e roupas. “Homens saíam as compras alegremente pelo século 18”, ela afirma.
Até homens costumavam chorar quando queriam parecer sinceros.
O estoicismo masculino sempre foi um ponto de orgulho, junto com seus bíceps e habilidade de beber o seu peso em cerveja, certo? Não.
“Isenção de lágrimas não foi o padrão de masculinidade pela maior parte da história”, escreveu o historiador Tom Lutz. Apesar de pesquisas afirmando que homens podem ser biologicamente inclinados a ter aversão a chorar, o ato foi usado por séculos por ambos os gêneros para representar sinceridade, prazer ou até mesmo heroísmo. Odisseu chora em toda parte da Ilíada. Jean-Jacque Rousseau considerava chorar parte do nosso estado natural de ser. No século 18, chorar era tão normalizado e até mesmo esperado que se “você não chorasse no teatro … você era algum chato de classe baixa”, de acordo com Tom. Até mesmo o herói americano Abraham Lincoln chorou em diversos momentos durante seus discursos públicos.
Animação de torcida começou como um clube de meninos, por ser muito “masculino” para garotas.
“A reputação de ter sido um valoroso ‘líder de torcida’ é uma das coisas mais valiossas que um garoto pode levar da experiência universitária”, dizia um artigo de 1911 do jornal The Nation. Similar a efetivamente jogar os esportes, ser um animador de torcida ajudava a preparar estudantes para papéis de comando mais tarde na vida, demonstra Mary Ellen Hanson nas suas publicações da história dos clubes de animação de torcida americanos.
O primeiro líder de torcida é dito ser o estudante Johnny Campbell da Universidade de Minessota, que convenceu o público a seguir o cântico que ele entoava durando um jogo em 1898. O seu legado foi carregado por Dwight Eisenhower, Franklin Roosevelt e Ronald Reagan — ex-presidentes dos Estados Unidos e todos animadores de torcidas. Não foi até os anos 20 e 30 que as mulheres realmente foram incluídas (e apenas em 1960 se tornou dominado por mulheres) já que o esporte era previamente considerado muito “masculino” para elas, ajudando a desenvolver vozes poderosas e grosseiras. Além de que elas ouviriam muitos palavrões andando com todos aqueles animadores de torcida machões.
Caras respeitáveis tinham seus cabelos longos, também.
E não eram só as guedelhas estilo Beatles — os reis Merovingianos do início da Idade Média na Europa usavam longas madeixas, e muitos outros na época seguiram a tendência. Homens de classe baixa, porém, usavam cabelos curtos ou eram forçados a raspar seus cabelos completamente como um símbolo do seu baixo status.
Mais tarde, homens do século 17 começaram a usar longas perucas. Claro, podia ser por culpa da epidemia de sífilis, que causava queda de cabelo em partes do cabelo, o que era motivo de vergonha, mas de qualquer forma, cabelos longos e volumosos se tornaram um símbolo de status. O Rei Luis XIV era particularmente conhecido por vestir uma peruca com ricas madeixas onduladas que causavam a inveja de todo o reino.
Tanto homens como mulheres podem ficar obcecados por bebês – apenas acontece com homens mais tarde na vida.
Uma pesquisa de dois psicólogos da Universidade do Estado do Kansas em 2011 descobriu que a urgência de procriar — a febre por bebês — é mais forte em mulheres em idade mais jovens, e diminui enquanto elas envelhecem. Para homens, contudo, a probabilidade de febre por ter filhos aumenta com a idade. “É como se homens e mulheres convergissem com o tempo; Normas de papéis de gênero não fizeram muito além de explicar o desejo das pessoas de ter um bebê”, disse um dos pesquisadores.
Resultados de uma pequena pesquisa britânica em 2013 incluindo 81 mulheres e 27 homens sugeriu que enquanto homens tinham uma probabilidade um pouco menor de expressar desejo de ter filhos, eles tinham mais chances de se sentirem deprimidos, invejosos ou irritadiços se não têm nenhum filho.
A arte de preparação de cerveja foi pioneira criação de mulheres.
Sim, a bebida mais viril para homens másculos foi primeiramente preparada, de acordo com hieróglifos Egípcios, por mulheres. Preparar cerveja era vista como uma tarefa do lar por grande parte da história, como fazer pão e outras coisas derivadas de cereais, até que a economia alterou-se para ser baseada em indústrias e cervejarias comerciais (comandadas por homens) decolaram. Como um triste efeito colateral, cervejas regionais únicas morreram enquanto a produção em larga escala diminuiu as variedades de cerveja.