Enquanto você celebra a Copa do Mundo, uma mãe brasileira relembra seu pior pesadelo e pede Justiça

Alexandre Thomé Ivo Rajão teria hoje 18 anos. O menino de São Gonçalo, Rio de Janeiro, então com 14 anos, foi encontrado morto depois de ser torturado cruelmente, no dia 21 de junho de 2010. Ele havia saído para assistir o jogo Brasil x Costa do Marfim, na Copa da África do Sul, e nunca mais voltou para casa. Hoje, 4 anos depois, Angélica Ivo, mãe de Alexandre, pede Justiça pela morte de seu único filho homem, levado precocemente.  
 
Crimes como este fizeram os EUA e o Chile adotarem leis contra a homofobia e crimes de ódio em razão da orientação sexual. Nos EUA, foi aprovada a lei Matthew Shepard (1976-1998) e no Chile a lei Daniel Zamudio (1987-2012). Em ambos os casos os assassinatos foram desvendados, as leis aprovadas no ano seguinte, os culpados julgados e condenados exemplarmente, e as leis batizadas com o nome dos jovens de 22 e 23 anos. No Brasil, a polícia identificou os supostos assassinos mas o caso esfriou depois que a juíza do caso, Patrícia Acioli, foi morta, em 2012. A proposta de lei brasileira contra a homofobia, o PLC 122, há mais de 16 anos no Congresso, já foi batizada de Lei Alexandre Ivo, mas não avançou. O crime chocante do menino de 14 anos simplesmente não emociona o suficiente em um país onde crimes bárbaros, e impunidade, fazem parte da rotina. Nem mesmo o discurso de Angélica sensibilizou os parlamentares brasileiros em Brasília, que postergaram a aprovação da proposta de criminalizar a homofobia no país. Um crime de ódio que se repete: Alexandre foi mais uma vítima da homofobia no Brasil, que a cada 24h faz uma nova vítima.
 
“Há exatos quatro anos, eu denunciava a todos o assassinato do meu filho Alexandre Thomé Ivo Rajão aos 14 anos por quais motivos? Ódio, Homofobia e intolerância, mas o que me leva a crer que o maior motivo foi a crueldade de alguns indivíduos que não se pode chamar de HUMANO …. E hoje (21/06/14), se estivesse conosco, com seus 18 anos estaria vivendo plenamente sua vida familiar, escolar … Com certeza um universitário, comemorando e se reunindo com os amigos para festejar a alegria de simplesmente VIVER. Meu filho você estará sempre vivo em nossos corações, te amamos, sentimos muito pela sua ausência física … E o que nos move hoje é a certeza de que a única JUSTIÇA que não irá nos faltar é a JUSTIÇA de DEUS e assim vamos dando continuidade as nossas vidas e você está em cada momento conosco. Te amamos!”, desabafou a mãe nas redes sociais esta semana, em que também se relembrou o Dia do Orgulho Gay. 
 
O menino foi torturado “de todas as formas possíveis” e abandonado apenas de bermuda em um terreno baldio. Um grupo de amigos gays e lésbicas de Alexandre se desentendeu com outro grupo de jovens, parentes da menina onde eles estavam vendo o jogo, supostamente por um dos rapazes amigo de Ivo já ter se relacionado com um primo dos assassinos. Seus amigos gays foram ao pronto socorro por causa da briga e Alexandre os acompanhou. Depois, enquanto esperava o ônibus para voltar para casa, Alexandre, que não participou da briga mas teria sido identificado como amigo do grupinho gay foi sequestrado, espancado e torturado. A mãe, que encontrou o filho dias depois no IML, não pode afirmar que o filho era gay pois acredita que ele foi morto antes de ter  tido a chance de viver sua sexualidade, ele jamais disse nada sobre o assunto para Angélica, mas ela ressalta que o crime foi motivado por homofobia, uma vez que os assassinos, durante a festa, teriam cometido bullying e xingado o amigo a quem associaram seu filho por estar com eles.

Os jovens acusados de cometer a barbárie, então com 22 a 23 anos, Eric Boa Hora de Bruim, Allan Siqueira de Freitas e André Luiz Marcoge da Cruz Souza nunca foram a julgamento por falta de provas e encontram-se em liberdade. 
 

Quantos Alexandres precisarão ser mortos para que o Brasil perceba que é preciso criminalizar a homofobia no país? Quantos jovens precisarão morrer ou se matar para terem a atenção ao direito de não serem subjulgados como inferiores, merecedores de uma morte dolorosa ou de tratamento desumano? Quantas mães precisarão chorar e ver a impunidade da morte de seus filhos mortos porque eram homossexuais? Não há gols ou copas a serem vencidas que curem a mãe dor desta mãe, ou nos traga de volta o Alexandre Ivo, apenas mais um jovem brasileiro de quem roubaram o direito de viver.
 
Alexandre (V)Ivo morreu torcendo pelo país, aos 14 anos, vítima da homofobia. Esperamos que a sua morte não tenha sido em vão. Para nós, e para a família de Alexandre, uma Copa nunca mais será a mesma. 
 
 
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