O poeta gay latino Richard Blanco foi o poeta orador da posse de Barack Obama, primeiro gay assumido a recitar no discurso inaugural de um presidente dos EUA, em 2009. O convite veio depois que o reverendo Louie Giglio foi dispensado por ter um histórico ruim com a comunidade gay, às vésperas do evento. Ele fez história.
Esta semana, um vídeo com um poema inédito do autor foi lançado para marcar os 10 anos de criação do grupo Freedom to Marry, que defende o casamento igualitário nos EUA que nesta década avançou e muito, mas ainda tem uma longa guerra pela frente, já que metade dos EUA americanos ainda não reconhece as uniões entre pessoas do mesmo sexo. O lindo vídeo tem narração dos atores Robin Wright e Ben Foster. Os diretores Yen Tan e David Lowery assinam as cenas.
Confira o vídeo e o lindo poema traduzido abaixo:
Até podermos
2014 Richard Blanco
Eu sabia naquele momento que, naquela sala onde nossos olhos se encontraram pela primeira vez, e tudo – até mesmo o barulho e a fumaça da cidade em torno de nós – desapareceu, deixando-nos sozinhos, como se nós sobrássemos como os dois últimos deixados no mundo capazes de amar, ou como espelhos frente a frente, sem fim, para iluminar nossos olhos que poderiam dobrar até o infinito. Eu sabia desde que conheci você, mas não poderíamos…
Eu peguei a luz do sol ansiando pelas rajadas de vento, viajando milhões de quilômetros escuros simplesmente para pastar sobre sua pele como eu fiz naquela primeira madrugada que estudei você dormindo ao meu lado: Sim, eu contei seus cílios, li seus sonhos como borboletas esvoaçando por baixo das suas pálpebras, pronto para fluir pela sala. Sim, eu elogiei você internamente como uma criatura majestosa que o meu deus esqueceu de criar, até aquela manhã em que de repente você foi domado em meus braços, primeiro para eu ver, chamar de meu. Sim para a subida e descida de sua respiração, em cada exalar um ar que tomei como meu próprio, querendo manter até mesmo o ar entre nós como um só. Sim para você todo. Sim, eu sabia, mas ainda não poderíamos…
Eu te ensinei como dançar Salsa, olhando nos meus olhos caribenhos, você aprendeu a falar na minha língua, enquanto me ensinava como pegar um floco de neve em minhas mãos e amar as nuvens cinza de sua cidade cinza. Nossos anos começaram com a coleção de fotos brilhantes criando um timeline de nossas vidas pelas prateleiras e as paredes olhando de volta para nós: Nós nos abraçando em algum pôr do sol, mais cativados um pelo outro do que um céu pincelado de ameixa e rosa. Nós reivindicando alguma montanha que não importava o tanto que escalamos ela, juntos. Nós nos inclinando em colunas de ruínas tão antigas quanto o nosso amor era novo, ou nos inclinando para os nossos sonhos em uma mesa com uma luz de velas inquietante e nossos olhos de lua cheia. Eu me conhecia tanto quanto a nós, e ainda assim não poderíamos….
Embora eu perdoei seus olhos azuis ficando verde cada vez que você mentiu, mas continuei acreditando em você, apesar de aprendemos a dizer bom dia depois de longas noites de silêncio na mesma cama, mas cada porta batida me ensinou a me segurar, a deixar passar, dizendo você estava certo, o que se tornou tão verdadeiro quanto dizer que eu estava certo, até que não havia nada que uma longa caminhada não poderia resolver: de mãos dadas e com esperança sob as luzes da rua brilhando como um colar de pérolas nos guiando para casa, ou um passeio ao longo da praia com o nosso cão, o mar lavou nossos sorrisos, nossos gargalhadas mais altas do que as ondas, embora entendíamos que o nosso amor era o mesmo que o dos nossos pais, nos atrevemos a dizer-lhes isso, e eles entenderam.
Embora soubéssemos, não podíamos, ninguém podia. Quando as linhas ardentes e o fogo foram definidos para nós por nossas mães e pais fundadores em Stonewall – se falou pela primeira vez em uma batalha. Quando desfilamos glitter, couro e os arco-íris se tornaram humanos, nosso mundo se tornou orgulho em cada rua de cada cidade, dizendo: Só nos deixe ser. Mas isso não foi o suficiente. Paradas se tornaram corridas – palavras em negrito em bocas e placas até que um homem reivindicou a liberdade como uma outra palavra para casamento e disse: Deixe-nos entrar, nós dissemos: amor é amor, proclamando isso a todos os olhos que pudessem ouvir em cada porta que se abriria, até que os nãos e os talvez se transformaram em sims, cidade por cidade, cidade por cidade, estado por estado, nos entendendo e a mulher que ousou dizer basta até a pedra atingiu a lei que todos nós sempre soubemos: O amor é o direito de dizer: sim, sim e sim…. e o sim quer que nós vejamos todas as tulipas que plantamos chegar por primavera após primavera, mais uma centena de anos de jantares preparados com uma taça de vinho compartilhada e mil mais filmes na cama. Sim, até que nossos olhos se tornam vozes que falam sem falar, até que como uma nuvem misturada a nuvem, em que não há mais você, eu – nossos nomes inúteis. Sim, eu quero que você seja o último rosto que eu vejo – o fôlego do meu último suspiro,
Sim, sim e determinação e determinação para aqueles que não podem fazer seus votos ainda, mas que sabem a razão exata do amor, como sabem que uma vela mantém o vento, sem quebrar, ou como raízes cavam um caminho para a terra, ou como as estrelas abrem seus olhos para a noite, ou como uma videira se torna uma só com o muro que ama, ou como, quando estou com você, você é a chuva em minhas mãos.
(Tradução Livre Allan Johan para webapp76668.ip-50-116-63-163.cloudezapp.io)
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Until We Could
2014 Richard Blanco
I knew it then, in that room where we found for the first time our eyes, and everything— even the din and smoke of the city around us— disappeared, leaving us alone as if we stood the last two in the world left capable of love, or as if two mirrors face-to-face with no end to the light our eyes could bend into infinity. I knew since I knew you—but we couldn’t…
I caught the sunlight pining through the shears, traveling millions of dark miles simply to graze your skin as I did that first dawn I studied you sleeping beside me: Yes, I counted your eyelashes, read your dreams like butterflies flitting underneath your eyelids, ready to flutter into the room. Yes, I praised you like a majestic creature my god forgot to create, till that morning of you suddenly tamed in my arms, first for me to see, name you mine. Yes to the rise and fall of your body breathing, your every exhale a breath I took in as my own wanting to keep even the air between us as one.
Yes to all of you. Yes I knew, but still we couldn’t… I taught you how to dance Salsa by looking into my Caribbean eyes, you learned to speak in my tongue, while teaching me how to catcha snowflake in my palms and love the greyclouds of your grey hometown. Our years began collecting in glossy photos time-lining our livesacross shelves and walls glancing back at us:Us embracing in some sunset, more captivated by each other than the sky brushed plum and rose.
Us claiming some mountain that didn’t matter as much our climbing it, together. Us leaning against columns of ruins as ancient as our love was new, or leaning into our dreams at a table flickering candlelight in our full-mooned eyes. I knew me as much as us, and yet we couldn’t….
Though I forgave your blue eyes turning green each time you lied, but kept believing you, though we learned to say good morning after long nights of silence in the same bed, though every door slam taught me to hold on by letting us go, and saying you’re right became as true as saying I’m right, till there was nothing a long walk couldn’t resolve: holding hands and hope under the street lights lustering like a string of pearls guiding us home, or a stroll along the beach with our dog, the sea washed out by our smiles, our laughter roaring louder than the waves, though we understood our love was the same as our parents, though we dared to tell them so, and they understood.
Though we knew, we couldn’t—no one could. When the fiery kick lines and fires were set for us by our founding mother-fathers at Stonewall,we first spoke defiance. When we paraded glitter,leather, and rainbows made human, our word became pride down every city street, saying: Just let us be. But that wasn’t enough. Parades became rallies—bold words on signs and mouthsuntil a man claimed freedom as another word for marriage and he said: Let us in, we said: love is love, proclaimed it into all eyes that would listen at every door that would open, until noes and maybes turned into yeses, town by town, city by city, state by state, understanding us and the woman who dared say enough until the gravel struck into law what we always knew:
Love is the right to say: I do and I do and I do… and I do want us to see every tulip we’ve planted come up spring after spring, a hundred more years of dinners cooked over a shared glass of wine, and a thousand more movies in bed. I do until our eyes become voices speaking without speaking, until like a cloud meshed into a cloud, there’s no more you, me—our names useless. I do want you to be the last face I see—your breath my last breath, I do, I do and will and will for those who still can’t vow it yet, but know love’s exact reason as much as they know how a sail keeps the wind without breaking, or how roots dig a way into the earth, or how the stars open their eyes to the night, or how a vine becomes one with the wall it loves, or how, when I hold you, you are rain in my hands.