Quando o preconceito começa em casa

Uma grande maioria dos gays descobre que sente atração por pessoas do mesmo sexo desde muito cedo. Trava-se então uma grande luta contra o seu desejo, que a sociedade – principalmente os pais – diariamente nos diz que é errado, que é pecado, que é uma opção torta, enquanto sentimos que não se trata de opção e sim uma condição para a nossa felicidade. Todos os dias jovens gays são discriminados nas escola, são alvo de piadinhas, sofrem tortura psicológica de guardar um segredo e saber que se não for bem guardado estarão condenados e sujeitos a sentirem o pior sentimento que podemos sentir: a rejeição.
 
Quando não assumimos a nossa sexualidade, nos dias de hoje, a sociedade que nos rodeia abusa da prática de nos questionar ou até mesmo levantar hipóteses sobre o nosso comportamento sexual. A Sexualidade na teoria deveria ser parte de nossa intimidade e dizer respeito ao companheiro(a) e em um ambiente íntimo, mas infelizmente não. Essas cobranças geram uma necessidade de auto-afirmação e uma grande parte dos homossexuais assume a sua condição sexual, mesmo sabendo que a reação poderá não será das melhores. O ser humano necessita compartilhar seus sentimentos e, cedo ou tarde, acaba por compartilhar seus sentimentos com as pessoas mais próximas. Os pais em sua grande maioria percebem as atitudes dos filhos e chegam a verdade por pressão ou confissão espontânea.
 
Pais e mães atribuem a si o papel de protetores, cheio de planos e expectativas anteriores, os pais normalmente acham que uma vida heterossexual é o melhor para seus filhos. Esquecem das infinitas batalhas travadas na infância e todo o sofrimento já vivido por um filho adolescente ou mais velho, que passou anos repensando diariamente o desgosto que causaria e toda a situação constrangedora que ocorre quando pais descobrem que o filho é homossexual. Algumas fases e frases são típicas nestes casos: “Aonde foi que eu errei”, “Você foi muito mimado”, “Esta sua opção”, “Você está sendo influenciado”, “É só uma fase”, “Você faz isso apenas para me agredir”, “O que meus amigos vão falar de mim”, “Você não achou a mulher certa”, “Como você é egoísta”, entre outras. Entre os pais não aptos a aceitar o filho diferente, quando sabem que ele é gay, ocorrem algumas semelhanças, os pais acham que é uma “fase”, depois tentam achar culpados, posteriormente um absoluto silêncio ou piadas quando aparecem oportunidades, não obedecendo ordens porém sempre observando alguma discordância. Alguns pais manifestam esta aceitação depois de anos, outros preferem manter distância de seus filhos.
 
Existem pais que são compreensivos com seus filhos, embora sejam raros, estes procuram apoiar as atitudes do filho e a sua saída do armário para a sociedade, chegam a sair com os filhos para ver os ambientes que ele freqüenta e seus amigos. Observa-se, nestes casos, que o sucesso acadêmico e profissional – e até amoroso – destes filhos flui de maneira mais natural e a relação pais e filhos surge de maneira fortalecida. Ora, um filho negro recebe o apoio de seus pais, diz-se o mesmo aos filhos de nordestinos, duas comunidades bastante marginalizadas. Um filho homossexual que enfrentar o mundo sozinho irá precisar não sucumbir aos estigmas carregados e situações onde o preconceito social tentará dia-a-dia rebaixar sua condição moral. Adianta-se que a Igreja e o machismo existente ajudam a gerar uma grande baixa auto-estima nos indivíduos da população gay e que muitos adolescentes gays tentam o suicídio anualmente no Brasil.
 
É preciso repensar o papel dos pais quando possuem filhos homossexuais. Quando diz-se aceitar não falamos em respeito, e sim em aceitação total. O filho homossexual irá se sentir excluído quando observar, por exemplo, a irmã levando o namorado em casa e ele não poder fazer o mesmo, ou quando referem-se ao seu namorado como “seu amigo”. Uma família que aceita o homossexual estará dando a maior prova de amor que um ser humano precisa, pois se a rejeição é o pior sentimento a ser percebido, o amor de forma completa é a maior manifestação que existe.

Por Allan Johan – 02/11/2005

 

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