Para especialista, “Personagens lésbicas da novela Babilônia são espelho positivo e libertador”

Para um dos maiores especialistas do Brasil em terapia afirmativa, o psicólogo Klecius Borges, autor do livro “Muito além do arco-íris”, o casal homoafetivo de “Babilônia”, a visibilidade do casal de lésbicas octagenárias vivido pelas atrizes  Nathália Timberg e Fernanda Montenegro será oportuna e colocará alguma luz sobre o tema: “Oportuna porque colocará alguma luz sobre as dificuldades e os conflitos que muitas mulheres enfrentam ao se assumirem publicamente, como um casal homoafetivo. E salutar por apresentar aos muitos casais, que vivem invisíveis e amedrontados, e também à sociedade, de forma geral, um espelho positivo e potencialmente muito libertador.” Na trama, Teresa e Estela vivem juntas há quase 40 anos, criaram o neto, e vão se casar.

“Por mais que certas questões relacionais sejam comuns a todos os indivíduos, afirmar que casais são casais, não importando sua orientação e identidade sexual, é no mínimo um reducionismo”, diz Klecius.  Segundo ele, essa afirmação desconsidera as dinâmicas psíquicas e sociais envolvidas nas vivências e experiências de indivíduos e casais submetidos a uma cultura não apenas heteronormativa, mas muitas vezes opressora e dominada, ainda hoje, por práticas e atitudes fortemente discriminatórias.

Segundo Borges, as dificuldades dos casais homoafetivos envolvem desde preconceitos sociais mais gerais, como o direito ao casamento e à adoção, como conflitos pessoais que se manifestam nas relações familiares e profissionais. Pioneiro na aplicação da terapia afirmativa no Brasil – modalidade psicoterápica que se ocupa especificamente das questões comuns enfrentadas por esse público –, ele afirma que as questões sobre relacionamento estão no topo da lista dos assuntos levados ao consultório. O que falta para esse público, segundo ele, é informação, já que são raras as referências ou representações sobre a natureza dessas relações.

No livro Muito além do arco-íris – Amor, sexo e relacionamentos na terapia homoafetiva, lançado pelas Edições GLS em 2013, Borges começa a corrigir essa escassez de informação. Apresentando uma seleção de casos tratados de uma perspectiva não heternormativa, ele aborda assuntos como autoaceitação, visibilidade social, homofobia e preconceito, abrindo caminho para a autorreflexão e a transposição de barreiras na busca de uma vida mais equilibrada e feliz.

Mesmo as questões ligadas à afetividade e à sexualidade, propriamente ditas, embora comuns a todos, não importando a orientação sexual, neste grupo apresentam peculiaridades, dilemas e desafios próprios de uma natureza de relacionamento fundada na duplicidade de gênero. “Mas por falta de modelos aceitos e reconhecidos no âmbito social, tais indivíduos se espelham ainda nos padrões e modelos heterossexuais”, complementa Klecius.

 

 
Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa