Querido Ex, de Rafael Koerich, te faz passear sobre experiências amorosas passadas

O catarinense Rafael Koerich (nome fictício), 30, é autor do blog Querido Ex que faz parte da coletânea Entreguei, que reúne diversas páginas com a similaridade de contar histórias sobre amores entre iguais. Lançado em agosto de 2015, Querido Ex, especificamente, aborda temáticas bastante emotivas e de fácil identificação, o que pode fazer com que vários ciscos caiam em seus olhos durante a leitura. 
 
Todo o projeto nasceu depois que Rafael terminou com seu namorado e se deu conta do vazio que a solidão cria em espaços que antes eram de dois. Hoje morando em São Paulo, ele começou a escrever o que sentia de legítimo, suas dores, suas vitórias, suas histórias que tinham tudo para serem tristes, mas acabavam com finais inusitados e felizes, como a vida deve ser. Os textos “Querido Ex”, “A Resposta” e “Tréplica” bombaram no Facebook alcançando mais de 30 mil likes, 8 mil compartilhamentos e 30 mil comentários. Então, nasceu o grande sonho de escrever um livro para partilhar o amor homossexual, questão bem difícil no mercado de publicações brasileiro. 
 
Em uma postagem recente no seu perfil do Facebook, Koerich desabafou sobre os entraves que precisou enfrentar para conseguir lançar o seu livro: “Descobri o quão difícil é lançar um livro gay. Querem comer as minhas palavras. Querem que eu mude aquilo que eu escrevi. Querem sinônimos. Querem colocar meu livro no armário. Não faço livros para armários, faço livros para pessoas. No máximo para estantes. Não vou permitir que ditem as regras”. É uma luta que o autor está disposto a travar em defesa do amor, em defesa da diversidade, em defesa de todos nós. Outra música, Cough Syrup do Young The Giant e mais verdades.
 
Para realizar esse projeto, foi criado uma campanha de arrecadação no Catarse, site que trabalha com financiamento coletivo, onde foram arrecadados mais de 12 mil reais. O primeiro livro do jornalista e escritor Rafael Koerich conta uma história verídica de amor, sua história verídica de amor. São cartas, e-mails, conversas e momentos vividos entre o Rafa e o Nando, os protagonistas. A data de lançamento era previsto para outubro de 2015, mas o livro ainda não saiu, pelos motivos já apresentados. O autor conta que a expectativa para 2016 é que tudo dê certo e que o Querido ex finalmente encante os leitores pelo Brasil inteiro. 

NOTA DO EDITOR: O PROJETO INFELIZMENTE ATRASOU E O CATARSE NÃO NOS PASSOU DADOS DO AUTOR, QUE RECEBE CRÍTICAS DOS APOIADORES POR NÃO CUMPRIR COM OS PRAZOS OU RESPONDER QUEM AJUDOU NA PROPOSTA DE CRIAR O LIVRO. UMA PENA. PORÉM AFIRMARAM PARA A LADO A QUE QUEM AJUDOU PODE ACIONAR JUDICIALMENTE O AUTOR E ESTÁ RECEBENDO OS DADOS REAIS DO RESPONSÁVEL PELO PROJETO.

Confira o texto “Querido Ex”, que originou o sucesso do autor (não deixe de ler a resposta do ex):

“Oi.
Sou seu ex.
Na verdade você é meu ex.
Ex é aquele que antecede.
Sou o seu ex, do ex, do ex, do ex. Se é que isso realmente existe.
Depois de mim você namorou três ou quatro vezes, acompanhei tudo secretamente pelas redes sociais.
Começamos a namorar em 2012 e terminamos no mesmo ano.
2012 foi um ano maluco, não é mesmo? O mundo iria acabar. E não acabou. Nosso namoro, esse sim, acabou. Eu cheguei a pensar que a minha vida também fosse acabar, mas veja só: 2015 chegou e eu ainda estou aqui. Profecias erradas.
Namoramos poucos meses.
Você me fez tão feliz.
Nunca havia me apaixonado tanto.
Eu dormia sorrindo e acordava com um sorriso ainda maior.
Você era o meu primeiro e meu último pensamento do dia.
O nosso primeiro beijo arrepiou a minha alma e você perdeu o fôlego, lembra?
Você tão incrivelmente lindo.
Você tão incrivelmente seguro.
Você.
Só você.
Mas aí você me traiu.
Me traiu com um colega de trabalho.
Me traiu com um colega de trabalho qualquer.
E me destruiu.
E foi embora.
Partiu sem se importar.
Frio.
Calculista.
“Homem foge sem prestar socorro.”
Manchete no jornal da vida.
Da minha vida.
Que já não tinha mais sentido.
Eu eu fiquei em estado de choque.
E comecei a fumar.
E bebia pra não lembrar.
E fumava pra tentar me acalmar.
E bebia porque eu lembrava.
E fumava porque não esquecia.
E bebia porque não me acalmava.
E fumava cada vez mais.
E bebia pra tentar esquecer.
E não esquecia.
E não me acalmava.
Então comecei a sair.
Meus amigos me arrastaram pra balada.
E eu te reencontrei por lá.
E você estava tão feliz.
E você estava tão lindo.
E eu só queria te abraçar e dizer:
– Tudo bem eu te perdoo, errar é humano, vem aqui, vamos tentar outra vez.
Mas você abraçou outro cara.
E beijou esse cara.
NA-MINHA-FRENTE.
E me destruiu novamente.
E eu bebi e fumei ainda mais.
Porque me traiu com o seu colega de trabalho se não tinha intenção de ficar com ele?
Me traiu só por trair?
Quem é esse cara que você está beijando?
Eu tinha tantas perguntas pra te fazer.
Eu tinha tanta dor dentro de mim.
Eu estava tão frágil.
E passei a ter raiva.
E um dia você me ligou.
Eu ouvi a sua voz.
E a raiva passou.
Mas você só perguntou pelo seu óculos.
Que não estava comigo.
E desligou.
E começou a namorar com outro cara.
Que não era o colega de trabalho, nem o cara da balada.
E você estava tão vivo.
E encheu o instagram de fotos.
E legendou as fotos com palavras de amor.
E terminou o namoro.
E encheu o instagram com fotos na balada.
E começou a namorar com uma outra pessoa.
E o ciclo era sempre o mesmo.
E eu fui murchando aos poucos.
Fui morrendo lentamente.
Tive que focar no trabalho.
Pra não morrer por inteiro.
E trabalhei muito.
E fui promovido.
Uma. Duas. Três vezes.
E só trabalhava.
E te acompanhava de longe.
Acho que gosto de sentir dor.
SADOMASOQUISMO.
E dispensei tanta gente que queria ficar comigo.
Tanta gente legal.
Vesti um escudo.
Achei que todas as pessoas eram igualmente maldosas.
Maldoso como você foi.
Comigo.
E com o cara depois de mim.
E com o outro cara, depois do cara depois de mim.
E vi algumas pessoas querendo cuidar de mim.
Teve um que chorou e disse que queria me fazer feliz, pediu permissão.
E eu disse não.
E de tanto dizer não.
Acabei dizendo sim.
E eu já não fumava mais.
E eu bebi, mas dessa vez foi pra brindar.
E eu me senti amado.
De verdade.
Pela primeira vez.
E me senti feliz.
E me peguei sorrindo sozinho.
Sorriso bobo.
E voltei a amar.
E não era você.
Verdade. Reciprocidade.
E você foi acabando dentro de mim.
Até acabar por inteiro.
E eu passei a dar risada sobre tudo o que aconteceu.
As pessoas me diziam que um dia eu iria rir disso tudo.
E eu ri.
E eu te reencontrei na balada.
E não senti nada.
Olhei pro meu namorado e vi um abismo entre você e ele.
Eu só desejei que a tua maldade e que a maldade do mundo nunca atinja quem agora eu amo.
E que ele nunca se corrompa por tão pouco.
Como você se corrompeu.
Que o mundo é sujo eu sei.
Você me mostrou.
Mas é possível sair ileso, basta ser bom. Basta ser do bem, meu bem.
E você me viu feliz com outro alguém.
E me mandou mensagem.
Disse que eu estou bonito.
Que o tempo me fez bem.
E fez mesmo.
E você pediu pra voltar.
Disse que se arrependeu de tudo e que sente muito a minha falta.
Disse que eu fui o único que realmente te amou de verdade.
Há 1 ano atrás eu correria pros teus braços.
E te dava todo o meu amor outra vez.
Hoje eu te deixo esse e-mail.
Que é a única coisa que eu tenho pra te oferecer.
Fica bem e seja feliz.
A gente só vive uma vez.
Aproveita ao máximo.
Aproveita com verdade.
Uma vida de verdade.
Um amor de verdade.
Pra não ter uma vida vazia.
Tchau.”
 
Rafael Koerich

 

 
 
 
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