Morte de transexual brasileira em Portugal há 10 anos acendeu discussões sobre transfobia no país

Gisberta, também conhecida por Gis, foi uma transexual que nasceu em São Paulo e se mudou para a cidade do Porto, em Portugal, em 1990. Lá, apresentou-se por muitos anos em casas noturnas, onde seu principal número era fazer covers da cantora Daniela Mercury. Seu sonho de guardar dinheiro para fazer a cirurgia de mudança de sexo, como era chamada na época, foi morrendo aos poucos, ao passo que ela se rendia à prostituição e ao consumo de drogas. 
 
Gis morreu assassinada em 22 de fevereiro de 2006 por um grupo de 12 adolescentes, entre 12 e 16 anos, alguns deles estudantes católicos de um tradicional instituto subsidiado pelo governo. O caso rendeu discussões sobre transexualidade, condição de vida dessas pessoas, transfobia e o enquadramento penal de menores. 
 
Gis acabou perdendo a luta contra os vícios e, ao virar mais uma trans moradora de rua, expôs toda a sua fragilidade para os assassinos. O crime aconteceu em um prédio abandonado onde ela morava. Depois de socos, pedradas, violências sexuais que duraram dois dias, e ser atirada em um poço, ela não resistiu e faleceu afogada. Alguns dias depois, um dos jovens confessou para uma professora o que havia feito. Logo em seguida, estavam todos dando depoimentos no tribunal.
 
O caso é antigo mas causou uma revolução nos portugueses por conta da brutalidade e da motivação homofóbica do crime. Inspeções e avaliações foram feitas nos centros educacionais de menores infratores do país, que ao que tudo indicava, eles não eram eficientes. Instituições, como a Abraço e a Espaço Pessoa, que tratavam infectados pelo HIV e prostitutas respectivamente, ganharam mais notoriedade em seus trabalhos. Mas, por que foi preciso um crime tão bárbaro para ligar o alerta social de que algo estava errado?

Um ano e meio depois do crime todos os assassinos estavam em liberdade. O juiz do caso entendeu que foi uma brincadeira que acabou mal. Que quem a matou foi a água do poço e não os rapazes. O que inflou ainda mais o sentimento de rediscutir os direitos dos imigrantes, transexuais, prostitutos e soropositivos no país. Fato é que Portugal ainda não conta com uma legislação voltada para as pessoas trans e esse tipo de crime continua acontecendo no país.

 
 
 
 
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