O canal Viceland, braço online da revista Vice, lançou uma série de documentários chamado “Gaycation”, onde a atriz Ellen Page, indicada ao Oscar por Juno em 2008, viaja o mundo para mostrar como a Comunidade LGBT é tratada ao redor do globo. Uma cena do segundo episódio foi liberada, onde a artista estava no Rio de Janeiro prestes a conversar com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP), conhecido por sua voz antigay na Câmara dos Deputados.
Antes da entrevista, ela conta que Bolsonaro é conhecido por suas declarações de ódio contra mulheres e homofóbicas e que está nervosa por conversar com ele, mas parecia a oportunidade de ter esse debate humano. Entretanto, a primeira vez que ele abre a boca, já solta um rio de frases grotescas e preconceituosas. Ela o questiona sobre o seu posicionamento em bater em gays para corrigir a sua conduta comportamental e diz: “Eu me pergunto: eu sou gay, então você acha que eu deveria ter apanhado quando criança?”.
Ele desvia completamente da pergunta e diz: “Eu não vou olhar para a sua cara e dizer que você é gay porque isso não me interessa. Você é muito simpática. Se eu fosse cadete da Academia Militar das Agulhas Negras e te visse na rua, ia assobiar pra você. Muito bonita”. A resposta repulsiva já mostra o desprezo e a objetificação das mulheres defendida pelo deputado. Em outra parte, ele afirma que as mulheres só tem filhos graças a homens como ele, heterossexuais. E fala isso com uma expressão de orgulho, que representa a expressão máxima do machismo brasileiro, como se um gay não pudesse doar esperma pra uma inseminação artificial.
Para ele, ainda, a homossexualidade é um sintoma comportamental, causado por diversos motivos, como o maior uso das drogas, a libertinagem, a mulher ter entrado no mercado de trabalho. A correção poderia ser, então, uma surra na fase da adolescência e o controle das influências próximas da criança.
Ellen Page mantém a postura durante todo o momento. “Aí é que está o problema. Você não acha que é normal (ser gay). Mas afirma que as pessoas deveriam espancar seus filhos gays e que você prefere um filho morto a um filho gay. E você achando que não é normal, produz todo esse preconceito e todo esse ódio que acabam envergonhando as pessoas, dando razão para outras que tiram sarro, provocando depressões profundas e suicídio”, rebate ela.
Bolsonaro não para. Ele mostra sua deselegância e afirma que Page foge da normalidade. Como ela afirma no final da entrevista, é preocupante ter um político com tamanho poder de influência reproduzindo e incentivando esse teor de ódio e preconceito. Por isso, é importante que pessoas como Ellen se posicionem contra e questionem suas atitudes. Bolsonaro é pré candidato à presidência e seu discurso pode ganhar mais força… no documentário, lançado esta semana, Ellen Page conversa ainda com um suposto policial miliciano que extermina homossexuais no Rio de Janeiro e explora o dilema do país ser o país do Carnaval, da diversidade racial, e ao mesmo tempo o local onde homossexuais e transexuais são mais mortos no mundo.
Confira o vídeo completo, em inglês, aqui. Abaixo, um trecho legendado: