Pesquisa aponta que gays saem do interior para ter mais liberdade nas capitais

O Brasil ainda é um país conservador e ser homossexual assumido, em cidades pequenas, é dar a cara à tapa todos os dias ao sair na rua. Homossexuais do interior contam que os maiores medos em se assumir por lá é de ficar mal falado na cidade inteira, ser apontado em público e sofrer violência homofóbica, até dentro de casa. Outros fatores que pesam na escolha de migrar para cidades maiores são o senso de comunidade LGBT, organizações sociais que prestam serviço e auxiliam a classe e mais opções de entretenimento e emprego.
 
Um estudo realizado pelo Projeto Arco-íris, na Irlanda do Norte, comprova que homossexuais que moram em áreas rurais têm maior tendência a desenvolver algum nível de depressão e maior probabilidade de enfrentar discursos homofóbicos e transfóbicos na sua rotina. Descobriram também que em 43% dos casos, a orientação sexual foi, mesmo que parcialmente, o motivo da migração da área rural para a capital. 
 
No Brasil, o IBGE não traz esses dados para elaborarmos parâmetros, mas conseguimos enxergá-los no nosso cotidiano. Quem nunca conheceu um amigo gay que veio do interior porque era assumido na sua cidade e, por causa disso, não encontrava emprego por lá? Há ainda casos piores, de famílias que expulsaram os filhos de casa ao descobrirem sobre sua orientação sexual. 
 
Nelson Farias Jr., 33 anos, nasceu em Timbó, Santa Catarina, município com 40 mil habitantes, no Vale do Itajaí, e se mudou ainda pequeno para Curitiba. Seguindo o caminho inverso, precisou voltar para a sua terra natal há alguns anos e planeja agora morar na capital paranaense novamente. “Quando tinha meus 10 anos de idade, lembro que de haver um homem gay assumido na cidade toda, e era comum ouvir piadas feitas sobre ele na escola, na família, em qualquer lugar. Nunca cheguei a conversar com ele, mas nem precisei. Isto em si já foi desde então me desencorajando inconscientemente a ser um dia tão corajoso como ele”. 
 
Junior fundou em Curitiba no início da década de 90 um site chamado OEvento.com, um dos primeiros nas coberturas de festas noturnas na cidade, e também descobriu seu alter ego, a drag Gloria Godiva. Os projetos ficaram de lado quando precisou largar tudo e voltar para Timbó, em 2007. “Em Curitiba, por exemplo, eu pude assumir tudo aquilo que sempre fui desencorajado a admitir, porque não era só um, nem dois homens homossexuais assumidos, mas uma cena inteira bem resolvida que explora esse nicho e favorece o auto-conhecimento e liberdade individual. Isso não garantiu que eu nunca sofresse preconceito, mas garantiu que eu tivesse mais respaldo de outros LGBT, aproveitando o maior encorajamento à pluralidade”, explicou ele.
Alguns vivem na capital, ou em cidades maiores, uma vida diferente de casa, outros assumem para a família depois de encontrar independência. A entrada para uma universidade longe de casa é uma oportunidade de abertura de um mundo novo para os jovens gays, bem como se mudar com o pretexto de fazer um cursinho melhor. A distância apesar de causar saudades de cara é crucial para se viver com mais liberdade, sem pressão e em busca da felicidade de ser quem é.
 
Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa